Duas casas geminadas, pintadas de branco e azul, ocupam terreno na rua Barão da Pedra Negra, na região central de Taubaté. Um portão branco com a logomarca da Unitau (Universidade de Taubaté) protege a propriedade, que serviu de moradia para o jornalista, apresentador e locutor Cid Moreira.
Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp
Morto aos 97 anos, nesta quinta-feira (3), Cid Moreira nasceu em Taubaté, no Vale do Paraíba, em 1927. Em 2017, quando completou 90 anos, ele visitou o imóvel no qual passou a infância.
“Nessa época brincávamos de tudo. Pipa, peão, corre-corre, futebol e não faltava imaginação para as brincadeiras. Éramos pobres. A vida estava muito difícil por conta das dificuldades que vieram depois da Segunda Grande Guerra Mundial. Nós nos divertíamos depois de fazer as tarefas da escola e ajudar a mãe em casa”, relembrou Cid Moreira em postagem nas redes sociais sobre a sua a infância.
O prédio funciona atualmente como sede da Pró-Reitoria da Unitau. Naquela rua, Cid Moreira nasceu e viveu a infância e adolescência, conseguindo seu primeiro emprego como estagiário de contabilidade numa rádio da cidade.
Na mesma rua em Taubaté morou outra comunicadora icônica que também nasceu na cidade: Hebe Camargo (1929-2012).
A Unitau deve colocar uma placa no imóvel, após a identificação da moradia do jornalista, cujo corpo será velado nesta sexta-feira (4) e enterrado no sábado (5), em Taubaté.
Morte e enterro.
Um dos rostos e vozes mais icônicos da televisão brasileira, Cid Moreira morreu em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Ele estava internado em um hospital para tratar uma pneumonia, há quase um mês, e morreu de falência múltipla dos órgãos.
O corpo do apresentador deve chegar a Taubaté na noite desta sexta para uma cerimônia de velório aberto ao público no Memorial Sagrada Família, próximo à CTI.
A previsão é de que a cerimônia tenha início às 19h de sexta e siga durante toda a madrugada. O sepultamento está previsto para sábado, às 8h, no cemitério do Convento Santa Clara.
Estudos.
Cid Moreira estudou na escola estadual Doutor Lopes Chaves, que não funciona mais e ficava na rua Pedro Costa, no centro de Taubaté. Ele também foi maleiro na estação de trem que ficava ao lado da praça Doutor Barbosa de Oliveira, para conseguir dinheiro para ir ao cinema, onde hoje funciona o Teatro Metrópole.
“Eu sou até hoje apaixonado por cinema. Na época, meus pais frequentavam o cine Metrópole ou o Polyteama (que era teatro e cinema) na minha querida Taubaté. Ir ao cinema era um acontecimento social. Como éramos pobres eu passei a fazer de tudo para arrumar uns trocados para conseguir comprar todas as semanas”, contou o jornalista em outra publicação nas redes sociais.
Antes de começar a carreira na comunicação, Cid Moreira se formou em contabilidade na Escola do Comércio, antigo colégio técnico que ficava na rua Mariano Moreira, também na região central de Taubaté.
No mesmo ano em que se formou, em 1944, Cid Moreira foi descoberto por um amigo, que admirava suas imitações e o incentivou a fazer um teste de locução na Rádio Difusora de Taubaté.
“Comecei a trabalhar como pegador de malas na estação, aos 11 anos e depois não parei mais. Tomava conta da frente de loja, vendia frutas e verduras no carrinho de mão. Uma vez juntei um caminhão de estercos com a ajuda de meu irmão Célio e ganhamos uns trocos. A gente pegava ferro velho, papel, papelão, madeira e todo tipo de entulho que pudéssemos vender. Trabalhei assim até meu primeiro emprego de locutor na rádio Difusora da cidade onde nasci, Taubaté”, disse Cid aos seguidores, em postagem relembrando a cidade natal.
‘Eu gaguejava’.
Em outro post, ele falou sobre o início no rádio em Taubaté: “Quando comecei na rádio em Taubaté, aos 17 anos, eu gaguejava, ficava muito ansioso! No começo eu era bem tímido! Lutei muito contra isso. Me sentia um péssimo profissional! Uma farsa! Achava os outros muito mais merecedores e capazes do que eu! Superar os medos e as fantasias é um bom começo para dar um passo para frente em nossas vidas!”, disse Cid Moreira.
Nos anos seguintes, até 1949, ele narrou comerciais até se mudar para São Paulo, onde trabalhou na Rádio Bandeirantes e na Propago Publicidade.
Em 1951, transferiu-se para o Rio de Janeiro, sendo contratado pela Rádio Mayrink Veiga. Entre 1951 e 1956, ele começou a ter suas primeiras experiências na televisão, apresentando comerciais ao vivo em programas como “Além da Imaginação” e “Noite de Gala”, na TV Rio.
Sua estreia como locutor de noticiários aconteceu em 1963, no “Jornal de Vanguarda”, da TV Rio, o que marcou o início de sua carreira no jornalismo televisivo. Nos anos seguintes, trabalhou nesse mesmo programa em várias emissoras, como Tupi, Globo, Excelsior e Continental, consolidando sua presença na televisão.
Cid Moreira foi o primeiro apresentador do Jornal Nacional, na Rede Globo. Ele apresentou o programa cerca de oito mil vezes. Foram 26 anos na bancada, desde a estreia em 1969 até 1996, quando uma reformulação levou ao ar William Bonner e Lillian Witte Fibe.
Nos últimos tempos, ele seguia ativo na internet e contava aos seguidores momentos marcantes da infância vivida no Vale do Paraíba, além de episódios da carreira.