O relatório "Observando o Tietê", divulgado nesta sexta-feira (20) pela Fundação SOS Mata Atlântica, às vésperas do Dia do Tietê, celebrado no domingo (22), revela que, apesar de manter classificação "regular" em relação ao estudo anterior, a qualidade da água no trecho do rio que corta Barra Bonita foi impactada por danos ambientais em afluentes, que levaram ao aumento das plantas aquáticas e macrófitas. Já em Botucatu, assim como em 2023, a qualidade da água foi classificada como "boa".
Um dos exemplos citados pelo estudo foi a mortandade histórica de peixes registrada no rio Piracicaba, um dos principais afluentes do Tietê, em julho, após o lançamento de poluentes agroindústrias por uma usina do município de Rio das Pedras, que impactou na qualidade da água do reservatório de Barra Bonita, a partir do município de Anhembi, com grande formação de plantas aquáticas e picos de eutrofização.
"Para a população local, a água passou a apresentar aspecto de sopa de ervilhas e as atividades pesqueiras e de lazer e esportes aquáticos foram suspensas na região. Apesar desse impacto, a região de Rio Bonito, em Botucatu, localizada no braço esquerdo do reservatório de Barra Bonita, não foi afetada e a qualidade da água se manteve com índice bom ao longo deste ciclo de monitoramento", diz o relatório.
De acordo com a análise, nesse trecho final do Médio Tietê, o rio tem seu traçado e hidrodinâmica alterados pela barragem que forma o reservatório de Barra Bonita. "A mudança drástica de um rio de águas correntes para águas de um sistema lêntico favorece a concentração de poluentes e de nutrientes provenientes de cargas orgânicas e inorgânicas que se acumulam no leito do rio e no reservatório", explica.
Dados
A análise é baseada nos dados do monitoramento mensal realizado entre agosto de 2023 e julho deste ano em 61 pontos de coleta distribuídos em 39 rios da bacia do Tietê. 62,3% dos pontos tiveram qualidade de água regular; 11,5% boa; 16,4% ruim e 9,8% péssima. Nenhum teve qualidade ótima.
Analisando somente os dados referentes ao rio Tietê, em uma extensão de 576 quilômetros, a qualidade de água boa se estende da nascente do Tietê, em Salesópolis, até Mogi das Cruzes, por 60 km, e em outros 59 km na região do Reservatório de Barra Bonita, em Botucatu, entre São Manuel e a foz do rio Piracicaba.
A condição regular se estende por 250 km, divididos em três trechos ao longo das bacias do Alto e Médio Tietê. Águas impróprias para usos múltiplos estão em 131 km com qualidade ruim e 76 km com qualidade péssima. Já a extensão da mancha de poluição, que era de 160 km, agora é de 207 km, aumento de 29%.
"Deve-se ressaltar que a qualidade regular encontrada em uma grande parte do rio ainda limita muitos usos de sua água e o coloca em alta fragilidade e risco, pois a qualidade pode ser influenciada negativamente por variações climáticas e acidentes ao longo do rio", ressalta trecho do relatório.
"A despeito de projetos estruturais de saneamento que estão em curso, fundamentais e que apontam evolução, a qualidade é comprometida por condições locais, seja de poluição por esgoto, gestão de reservatórios, clima ou resultante de atividades agropecuárias".