VIOLÊNCIA

Até 2050, 33,4% de Jundiaí será idosa e desafios disso já existem

Por Nathália Sousa |
| Tempo de leitura: 4 min
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A violência contra idosos não se limita a agressões, mas estas preocupam mais pela condição de saúde mais frágil desta parcela da população
A violência contra idosos não se limita a agressões, mas estas preocupam mais pela condição de saúde mais frágil desta parcela da população

No Brasil, a cada 10 habitantes, quatro terão mais 60 anos em 2070, de acordo com estatística do IBGE divulgada no fim de agosto. A projeção também abarca Jundiaí, pois, segundo a Fundação Seade, 33,4% da população da cidade será idosa em 2050. Vivemos a inversão da pirâmide etária e uma série de demandas surgem com esse fenômeno. Uma delas já é bastante perceptível: o aumento do número de casos de violência contra idosos.

Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos mostram que a quantidade de denúncias vem aumentando. No primeiro semestre do ano passado, houve 214 denúncias de 1.275 violações contra idosos em Jundiaí. No primeiro semestre deste ano, foram 266 denúncias de 1.574 violações.

Segundo o coordenador da Defensoria Pública de Jundiaí, Fabio Sorge, foram encaminhados neste ano 23 casos de violência contra idosos. “Fazemos uma triagem inicial, verificamos se é caso jurídico ou assistencial e realizamos o encaminhamento para os serviços públicos.”  Destes 23 casos, 18 foram encaminhados para o Centro de Atendimento Multidisciplinar da Defensoria, que contata a rede.

Fábio salienta ainda que é comum os casos envolvam violência patrimonial. “O idoso está à mercê de inúmeros tipos de violência e é preciso que a implantação de políticas públicas esteja concretizada para este atendimento.”

Demanda

Os casos de violência em que idosos são vítimas já são bastante altos em Jundiaí, principalmente casos de violência doméstica. Por conta desta demanda, foi criada em setembro de 2023 a Patrulha Municipal de Proteção à Pessoa Idosa em Jundiaí. O programa da Guarda Municipal faz rondas e visitas aos idosos que moram na cidade, a fim de garantia condições de segurança, tranquilidade, respaldo e bem-estar das pessoas idosas.

A Patrulha é a primeira no país com o objetivo de reorientar essa população na prevenção de crimes ou abusos. De janeiro deste ano até julho, foram cerca de 110 rondas entre residências, Centros Esportivos e praças, com cinco auxílios ao idoso e três atendimentos de maus-tratos à pessoa idosa. Além da Patrulha, a GMJ está à disposição através do telefone 153.

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Perpecpção

Geriatra, Ivan Aprahamian diz que os sinais são sutis, mas é possível perceber quando um idoso sofre violência física. “Alguns pacientes têm a pele mais frágil, usam remédios que propiciam equimoses - que são as manchas roxas -, mas você vê pacientes que são lúcidos e têm muitas marcas roxas recorrentes. São lesões que o idoso não sabe explicar de onde vieram, ele diz não se lembrar e, se está acompanhado da pessoa que é provável agressora, você percebe um olhar para o agressor, como quem diz ‘o que eu falo?’.”

O especialista diz que geriatras podem detectar com mais facilidade esses casos, em detalhes. “O idoso tem hematomas, cortes, lesões, e fala que caiu, mas não sabe explicar como. O geriatra faz uma avaliação de risco de queda com esse paciente e vê que ele está normal, então já surge um alerta. O idoso faz um raio-x do tórax e aparecem várias fraturas calcificadas nas costelas. Outro ponto é o comportamento durante as consultas, a pessoa fica calada, dá respostas vagas, mas não tem um quadro depressivo ou demência.”

Bem-estar

Ainda de acordo com o geriatra, há demandas para a qualidade de vida da população com a inversão da pirâmide etária. "Acredito que haja duas demandas principais. A primeira é ligada à saúde, pois há deficiência no suporte, não tem protocolos para lidar com idosos com demência, para lidar com fraturas de idosos, síndromes geriátricas específicas. A segunda demanda é a parte social. O isolamento está associado à demência, depressão, quedas. Precisamos de centros de integração de idosos, em termos de socialização, tecnologias, esportes. Há uma oferta reduzida e uma demanda cada vez maior. Precisamos falar sobre creches, mas não podemos esquecer dos espaços para idosos."

A Assessoria de Políticas para Idosos, da Prefeitura de Jundiaí, informa que a cidade tem políticas permanentes de cuidado e estímulo à vida saudável para as pessoas com mais de 60 anos. Dentre as iniciativas, há a Patrulha Municipal da Pessoa idosa e Guardiã Maria da Penha; Programa Vovô Bem Vindo; Ambulatório de Geriatria; atividades do eMulti (atividades descentralizadas em saúde feitas de maneira integrada e multiprofissional); Melhor em Casa; Jogos da Melhor Idade (Jomi); cursos de acompanhantes para idosos; além do Centro de Convivência para Idosos e Centro Dia para idosos.

Outra iniciativa, como informa a  Assessoria de Políticas para Idosos, é o fomento à prática de atividade física, com a implementação de praças e espaços seguros, para idosos e outras pessoas de todas as idades.

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