CRIME ORGANIZADO

Tráfico de drogas paga até R$ 2 milhões por 'biqueira' em S. José

Por Da redação | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução
Em 2024,  São José registrou 208 ocorrências de tráfico de drogas, entre janeiro e maio
Em 2024, São José registrou 208 ocorrências de tráfico de drogas, entre janeiro e maio

O "mercado imobiliário" do tráfico de drogas chega a vender "biqueiras" ou "lojas" (pontos de venda de entorpecentes) por até R$ 2 milhões em São José dos Campos.

Este foi o valor pago para a aquisição de pontos de venda de droga no bairro Campo dos Alemães, na região sul, após a morte de Lúcio Monteiro Cavalcante -- líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) morto no dia 6 de março de 2017, durante um tiroteio com a Polícia Militar no Anel Viário. De acordo com investigações do Ministério Público, o tráfico no Campo gerava aproximadamente R$ 2 milhões por mês à época.

Clique aqui para fazer parte da comunidade de OVALE no WhatsApp e receber notícias em primeira mão. E clique aqui para participar também do canal de OVALE no WhatsApp. 

À época, o mercado da droga na área tinha uma divisão: ao lado de um sócio, o chefe do PCC comandava uma parte do bairro (próximo à rua 15), e outra quadrilha, ligada ao PCC, detinha outra área (perto da rua 24). Após a morte de Lúcio, de acordo com as fontes policiais, o sócio dele passou a ter o controle da biqueira -- pessoas ligadas ao traficante morto teriam aberto mão do ‘negócio’. 

Mas ela ficou parada. Com isso, de acordo com as fontes da inteligência policial, parte do movimento migrou para áreas próximas. Depois, o sócio de Lúcio, do PCC, vendeu o seu território e recebeu o pagamento em dinheiro vivo, imóveis e veículos. Desde então, o tráfico na área está sob nova direção. O caso foi revelado à época por OVALE.

Conforme OVALE revelou, o crime organizado aluga, arrenda e vende pontos de venda de drogas em São José dos Campos e região. Na gíria dos criminosos, os pontos são chamados de 'lojas' ou 'biqueiras'. O PCC tem um cadastro dos pontos em atividade, com a informação de quem é responsável por cada um desses espaços, espalhados por suas 'quebradas'.

A 'Sintonia do Progresso', um dos departamentos dessa "multinacional" do crime, é quem cuida do mercado da droga. "Podem ser uma rua, um bairro, uma viela. São espaços públicos", disse um agente envolvido na linha de frente contra o crime no Vale. De acordo com ele, a 'propriedade' chega até a passar de pai para o filho. "Elas são hereditárias. Se o pai morre, então passa para o filho. É mesmo como uma propriedade", completou.

OVALE apurou o caso de um homem que tinha duas biqueiras na zona sul da cidade e, após deixar o crime, vendeu uma (com o dinheiro, comprou um terreno e uma moto) e está em busca de comprador para outra.

Mercado.

Como acontece no mercado imobiliário tradicional, fatores pode influenciar na valorização da 'biqueira', principalmente a sua localização.
Os pontos mais valorizados estão em bairros conhecidos pelos usuários, por terem venda de drogas, e próximos a áreas movimentadas, incluindo escolas e bares, por exemplo. "Trabalhei em várias 'biqueiras' e vendia bastante, uma média de R$ 25 mil por dia", afirmou um jovem que trabalhou por anos no tráfico.

Para tentar lucros cada vez mais altos, criminosos criam até grifes. Em São José, por exemplo, biqueiras chegam a vender cocaína, crack e maconha usando nomes de personalidades como, por exemplo, a Neymar, Osama Bin Laden e Pablo Escobar, além de personagens, como Papa Léguas. Os pontos de tráfico funcionam com uma estrutura organizada, com horários de funcionamento, turnos de atuação, funções definidas ('gerente', 'vapores' e também 'vigias').

Combate ao tráfico.

De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, entre os meses de janeiro e maio, São José registrou 208 ocorrências de tráfico de drogas -- 8,33% de aumento na comparação com o mesmo período do ano passado, que teve 192. Mais da metade das ocorrências de tráfico de drogas em São José dos Campos, de janeiro a maio de 2024, foram registradas na região sul da cidade.

Do total de 2024, 112 ocorrências foram em distritos da zona sul (53,85%) e 63 nas delegacias da região leste (30,29%). A região norte aparece em terceiro lugar, com 21 registros (10%), depois a central com 11 (5%) e a oeste com uma ocorrência (0,48%). Veja os dados completos aqui.

Comentários

Comentários