HÉLCIO COSTA

As leis e as salsichas de Bismarck

Por Hélcio Costa | Jornalista
| Tempo de leitura: 4 min
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Quanto menos as pessoas souberem como são feitas as salsichas e as leis, melhor elas dormirão à noite.

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A frase, bastante famosa, é de Otto von Bismarck, responsável pela unificação da Alemanha no século 19, conhecido como "Chanceler de Ferro" devido à sua ação implacável contra adversários. À lista básica de Bismarck já foram acrescentados uma série de outros ingredientes, ao gosto do freguês. Com a proximidade das eleições municipais, eu, por conta e risco, acrescento, como ingrediente, a política. A frase ficaria assim: "Quanto menos as pessoas souberem como são feitas as salsichas, as leis e a política, melhor elas dormirão à noite." Repletas de corantes, aditivos químicos e sódio, as salsichas têm como base a chamada carne industrial, composta principalmente de sobras e aparas dos cortes tradicionais de boi, frango e porco. Uma mistura estranha, para alguns. Mas, sejamos francos,  quem resiste a um bom cachorro-quente? Na política também é assim, uma mistura estranha, de tirar o sono de muita gente.

Quer uma prova?

Ora, basta seguir o enredo político desta semana em São José dos Campos, no qual alguns "cardeais" ligados ao PSD tentaram tirar, na "mão de gato", o controle do PSDB do grupo do ex-prefeito Emanuel Fernandes. Olha, bateu na trave.

O enredo da trama é complicado, mas vamos lá, por partes. Chegou aos ouvidos do presidente estadual da Federação PSDB/Cidadania, Duarte Nogueira, a história de que Emanuel não estaria mais apoiando a candidatura de Eduardo Cury (PL) a prefeito em razão da notícia, dada pelo "O Vale" dias atrás, de que o ex-deputado teria recebido R$ 300 mil em 12 meses do PSDB, por meio de contratos de consultoria. Mais: que o PSDB estaria sendo usado como "laranja" pelo PL, de Valdemar da Costa Neto, em sua ânsia de conquistar uma prefeitura estratégica nas eleições de outubro. Duarte Nogueira também teria recebido um pedido de intervenção no PSDB de São José dos Campos, com a nominata para constituição do novo diretório sendo encabeçada por Alexandre Blanco, enteado de Emanuel, expulso do partido no ano passado.

Poder, intrigas de família, parece enredo de novela ...

A estratégia era simples: tirar o PSDB da órbita de Cury e anunciar o apoio tucano à candidatura de Anderson Farias (PSD) na convenção do dia 20 de julho, quem sabe até com um nome da Federação PSDB/Cidadania indicado a vice na chapa de Anderson. Um empresário, filiado ao Cidadania, teria até sido sondado, mas declinado do convite.

Fato ou boato, o enredo ganhou força na quarta, quinta-feira, virou comentário nas rodinhas políticas da capital e acabou desarmado, pelo menos até agora, por uma conversa direta entre Duarte Nogueira e Emanuel, ex-colegas de bancada do PSDB na Câmara Federal, anos atrás. O que eles conversaram? Nem imagino. Mas, pelo menos aparentemente, o PSDB de São José dos Campos dá a tentativa de golpe como caso encerrado. Verdade? Isso só o tempo vai dizer.

Qual a razão dessa briga?

A resposta é fácil: as pesquisas eleitorais, que dão Cury liderando a corrida pelo cargo de prefeito de São José dos Campos com quase o dobro de intenções de voto de Anderson, segundo levantamento estimulado. Claro, pesquisa é pesquisa, ainda mais feita meses antes da eleição, e o jogo ainda tem que ser jogado. Mas isso tem tirado o sossego do grupo que lidera o PSD de São José dos Campos, egresso do PSDB --o vice-governador Felício Ramuth e o próprio Anderson, além de muito mais gente. Afinal, porque Anderson, com um governo bem avaliado, não consegue estar na dianteira das pesquisas de intenção de voto? Mais: como, na campanha, diferenciar tanta gente que tem a mesma origem e parece seguir, até certo ponto, a mesma cartilha política?

A campanha deste ano em São José dos Campos promete ser acalorada, com dedo nos olhos, puxão de cabelo e muito mais.

Voltando ao início dessa conversa, vou transformar minha versão revisada da frase de Bismarck em uma pergunta: quanto menos as pessoas souberem como são feitas as salsichas, as leis e a política, melhor elas dormirão à noite? Bem, eu, curioso por profissão, prefiro sempre saber das coisas, mesmo que, na hora de comer um bom cachorro-quente, venha alguma dúvida ou, quem sabe, uma dor na consciência. Ah, quanto a dormir bem à noite, pouca, pouca coisa mesmo é capaz de me tirar o sono.

Segue o baile ...

Comentários

1 Comentários

  • Jeferson 21/07/2024
    Mais um texto muito bom Hélcio. Porém, sinto falta em um enfoque regional de sua parte. Nem mesmo Jacareí entra em sua análise. Fica a dica para os próximos textos.