MEMÓRIA

Após matar os pais e a irmã em S.José, Gustavo Pissardo dirigiu 140 km e matou os avós

Detalhes do crime ajudaram a Polícia Civil a pedir a prisão de Gustavo

Por Xandu Alves | 09/04/2024 | Tempo de leitura: 6 min
São José dos Campos

Reprodução / TV Vanguarda

Gustavo Pissardo na época da prisão
Gustavo Pissardo na época da prisão

A madrugada entre 29 e 30 de setembro de 1994, há quase 30 anos, marcou para sempre a vida do então estudante de 21 anos Gustavo Pissardo, de São José dos Campos. Em poucas horas, ele se transformou de um pacato e promissor jovem em um assassino cruel e sem escrúpulos, cujos crimes bárbaros continuam um mistério até hoje.

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Gustavo matou os pais e a irmã dentro da própria casa, no Jardim Satélite, na região sul de São José. Ele usou o revólver calibre 32 do pai para matar a família, enquanto eles assistiam TV. Horas depois, o estudante dirigiu 140 quilômetros até Campinas e matou os avós.

Os crimes ocorreram entre quinta e sexta-feira. No sábado, Gustavo levou a namorada para um final de semana na praia, como se nada tivesse acontecido. Na volta, ele alegou ter encontrado os pais mortos em casa e participou do enterro dos parentes. Chorou, inclusive.

Mas a Polícia Civil desconfiou de Gustavo e de detalhes encontrados na casa. Com a ajuda de reportagens da época, OVALE reconstitui essa história macabra 30 anos depois do crime, com um passo a passo de como foi que o estudante matou a família e acabou preso e condenado.

O CRIME.

No dia 29 de setembro de 1994, às 22h30, Gustavo reclama de dor de cabeça e vai com o pai até um hospital particular. Ele é medicado, volta para casa e dorme. Algumas horas depois, por volta das 2h, Gustavo acorda e pega o revólver do pai, um calibre 32.

A mãe e a irmã assistem TV no quarto. O pai faz o mesmo na sala. Gustavo vai até o quarto, acerta dois tiros na cabeça da irmã e um na cabeça da mãe. O pai ouve o barulho e vai até o quarto, vê o que aconteceu e tenta fugir, mas é atingido na nuca.

Em depoimento à polícia, Gustavo disse que o remédio que ele tomou o havia feito “perder a noção do que estava fazendo”. Disse ainda que tentou se suicidar depois de matar os pais. “Coloquei a arma na minha boca, engatilhei, só que não tive coragem de puxar o gatilho”.

Segundo reportagens da época, Gustavo havia tomado o analgésico Lisador. Um médico explicou que, para ter um distúrbio mental, o estudante teria que ter tomado uma dose de 15 a 20 vezes maior do que a receitada no hospital. Ou seja, não havia razões para supor que o remédio teria tido um efeito colateral ou estimulante em Gustavo.

A sucessão dos acontecimentos derrubou a alegação de Gustavo de que ele teria perdido a noção da realidade.

ASSALTO.

Após matar os pais – o mecânico de manutenção Gumercindo, 46 anos, e a dona de casa Adelaide, 49 anos, além da irmã Maria Paula, 18 anos –, Gustavo tentou simular um assalto em sua casa.

Ele colocou dentro do carro da família uma TV, um aparelho de som e um videocassete, que depois jogou em um rio, além de tirar objetos do lugar. Tentou fazer crer que a casa havia sido invadida por assaltantes, que teriam matado sua família.

No entanto, ele cobriu os corpos com cobertores, apagou as luzes antes de sair e deixou R$ 30 sobre a mesa da sala, atitudes suspeitas para supostos ladrões.

CAMPINAS.

Por volta das 4h de sexta-feira (30 de setembro), Gustavo chegou à casa dos avós João, 74 anos, e Antônia, 64 anos, em Campinas, após dirigir por cerca de 140 quilômetros com a camionete branca da família.

Ele disse para a avó que estava com fome e contou o que aconteceu. Os avós não acreditaram no neto. A avó foi para a cozinha e começou a fritar ovos. Então, Gustavo decidiu matá-los. Ele atirou na cabeça do avô, foi até a cozinha e deu outro tiro, também na cabeça da avó.

A polícia investigou os tiros de Gustavo e descobriu que não tinham sido certeiros por acaso. Ele havia tido experiência como monitor de tiro durante o serviço militar obrigatório. O estudante sabia atirar muito bem.

CARAGUATATUBA.

Gustavo pegou a camionete da família e decidiu voltar para São José. No caminho, ele parou na rodovia Dom Pedro e jogou os objetos da casa e a arma do pai em um rio.

De volta à residência, ele arrumou as malas e decidiu ir passar o final de semana em Caraguatatuba. Então, ligou para a namorada, uma estudante de 21 anos, e combinou a viagem. Eles estavam juntos há cinco meses.

Gustavo saiu de casa às 10h e passou no shopping antes de buscar a namorada. Ele comprou bermudas e comeu um cachorro-quente, segundo o depoimento que deu à polícia.

Às 13h, ele chegou à casa da namorada e, duas horas depois, o casal estava no Litoral Norte. Naquela noite, o pai e o irmão da namorada se juntaram aos dois.

Em depoimento à polícia, a namorada disse que Gustavo estava tranquilo durante o final de semana e que chegou a dizer que “tinha um pai maravilhoso”. Ela opinou que Gustavo poderia ter tido um distúrbio mental. “A pessoa que cometeu esses crimes não é a mesma que conheci”, disse ela, na ocasião.

ENCENAÇÃO.

Na segunda-feira, 3 de outubro, Gustavo voltou para casa e viu que os corpos ainda estavam lá. A consciência pesou e ele chorou. Um vizinho ouviu e chamou a polícia. Os corpos dos avós de Gustavo já haviam sido encontrados na noite do dia anterior, por uma tia do estudante.

Na madrugada do dia 4, Gustavo foi à polícia e alegou ter encontrado os pais mortos ao voltar do Litoral Norte. No dia seguinte, contudo, a Polícia Civil pede a prisão preventiva dele.

Uma testemunha contou que viu um jovem alto, moreno e de cabelos castanhos entrar na casa dos avós de Gustavo, entre 6h e 7h do dia 30, na hora do crime.

Uma camionete branca também estava parada na porta da casa, segundo a testemunha. Além disso, as balas encontradas nos corpos das vítimas foram disparadas com uma arma calibre 32, mesmo tipo da arma do pai de Gustavo.

A Justiça decreta a prisão preventiva de Gustavo, em 5 de outubro de 1994, após o pedido da Polícia Civil de São José. Ele confessa o crime e é internado num hospital psiquiátrico de São José, para depois ser encaminhado à Casa de Custódia de Taubaté.

Gustavo manteve a versão de que não sabia explicar o motivo dos assassinatos. “Acabou a minha vida e acabou a vida da minha família”, disse ele. No hospital, um médico disse que ele se perguntava o tempo todo sobre o motivo de ter matado a família. “Ele não aceita ter assassinado a família”, disse o profissional.

O jovem foi julgado por duas vezes. Em 1997, ele foi condenado a 63 anos de prisão. Após recursos da defesa, um novo júri foi realizado em 1998 e a pena caiu para 42 anos, 7 meses e 6 dias em regime fechado, segundo o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).

Três décadas após o crime, OVALE descobriu que Gustavo vive em Sorocaba, onde cumpre a pena em regime aberto desde 2014. Ele havia progredido para o regime semiaberto em 2008, após algumas negativas da Justiça. O término da pena é previsto para 2033.

* Com informações da Folha de S.Paulo

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