CRIME EM SÃO JOSÉ

Matou os pais, a irmã, os avós e foi à praia: após 30 anos, onde está Gustavo Pissardo?

Gustavo cumpre pena em regime aberto em Sorocaba; motivo do crime ocorrido em São José dos Campos, que abalou o Brasil, ainda é um mistério

Por Xandu Alves | 08/04/2024 | Tempo de leitura: 6 min
São José dos Campos

Reprodução / Arquivo / Flávio Craveiro

Gustavo Pissardo na época da prisão
Gustavo Pissardo na época da prisão

No início da vida adulta, aos 21 anos de idade, Gustavo Pissardo era um rapaz trabalhador, esportista e um bom estudante em São José dos Campos. Não bebia e nem usava drogas. Namorava há cinco meses uma garota da mesma idade. Tinha o futuro pela frente.

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Na madrugada entre 29 e 30 de setembro de 1994, o rapaz tranquilo se transforma em um frio assassino. Ele mata a tiros os pais e a irmã dentro da própria casa. Todos assistiam TV quando foram mortos com o revólver calibre 32 do pai de Gustavo. Na ocasião, Gumercindo tinha 46 anos, Adelaide 49 anos e a irmã Ana Paula, apenas 18.

Na manhã daquele mesmo dia, ele ainda pega o carro, dirige até Campinas e confessa o que fez aos avós, de 74 e 64 anos, matando-os em seguida. Gustavo ainda queria ir até a casa dos tios e matá-los também, assim como a dois primos. Mas desiste e volta a São José dos Campos.

Ele chega à cidade e combina de ir para Caraguatatuba com a namorada, passando o final de semana na praia. A partir da segunda-feira, seu mundo vai ruir e o crime hediondo será descoberto pela polícia.

PRISÃO E JULGAMENTO.

Gustavo foi preso no dia 5 de outubro de 1994, após o pedido de prisão preventiva da Polícia Civil de São José dos Campos. Ele foi encaminhado para a Casa de Custódia de Taubaté e manteve a versão de que não sabia explicar o motivo dos crimes.

O jovem foi julgado por duas vezes. Em 1997, ele foi condenado a 63 anos de prisão. Após recursos da defesa, um novo júri foi realizado em 1998 e a pena caiu para 42 anos, 7 meses e 6 dias em regime fechado, sentença confirmada pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).

Três décadas após o crime, Gustavo vive em Sorocaba, onde cumpre a pena em regime aberto desde 2014. Ele havia progredido para o regime semiaberto em 2008, após algumas negativas da Justiça. O término da pena é previsto para 2033.

A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) informou que Gustavo é egresso da Penitenciária 1 de Sorocaba desde 12 de maio de 2014, quando passou ao regime de prisão albergue domiciliar, depois transmutado em regime aberto.

O processo de execução da pena dele tramita na Vara do Júri e Execuções Criminais da Comarca de Sorocaba.

VIDA EM SOROCABA.

OVALE apurou que Gustavo vive em Sorocaba e tem uma empresa aberta em seu nome, no ramo de serviços de pintura em edificações (pintor de parede), de acordo com a Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo).

A empresa foi constituída em agosto de 2017, tem capital de R$ 3.000 e aparentemente funciona na residência de Gustavo, no bairro Jardim Gutierres, em Sorocaba.

Em 18 de janeiro de 2017, um edital de proclamas do Cartório de Sorocaba foi publicado em jornal da cidade informando que Gustavo pretendia se casar. Na ocasião, ele aparecia com a profissão de serralheiro e a futura esposa, com a de auxiliar de cobrança.

Pouco se sabe da vida que Gustavo leva desde que progrediu para o regime aberto. Segundo informações apuradas em Sorocaba, ele é uma pessoa reservada e procura viver com discrição. Não dá entrevistas, por exemplo. De uma forma geral, não há menção ao nome dele na imprensa daquela região.

INVESTIGAÇÃO.

As mortes em sequência dos pais, irmã e dos avós fizeram de Gustavo um dos assassinos em série mais conhecidos do país. Ele também adulterou a cena do crime e fingiu que a casa havia sido assaltada, tentando escapar da responsabilização pelo crime bárbaro.

No entanto, a maneira como Gustavo tratou os corpos e objetos deixados na cena do crime fizeram os policiais duvidarem da inocência do rapaz e pedirem a prisão preventiva dele, levando-o depois a confessar o crime.

Gustavo colocou no carro da família uma TV, um aparelho de som e um videocassete, que depois jogou em um rio, além de tirar objetos do lugar. A simulação de roubo não convenceu a polícia, porque ele cobriu os corpos com cobertores, apagou as luzes antes de sair e deixou R$ 30 sobre a mesa da sala. Atitudes estranhas a assaltantes.

“Quando a lembrança (do crime) vinha dava desespero. E quando apagava vivia normalmente”, disse Gustavo na época, em seu depoimento.

REGIME ABERTO.

Em 2012, Gustavo foi descrito como um “reeducando de bom comportamento e sem faltas disciplinares” em um documento encaminhado pela penitenciária de Mirandópolis ao Ministério Público, antes da transferência dele para Sorocaba.

O documento baseou o pedido da defesa de Gustavo de progressão ao regime aberto. Na época, o MP não ficou convencido e pediu a produção de laudos psiquiátrico e psicológico sobre o detento. O parecer foi unânime e contrário ao benefício.

O psicólogo que analisou Gustavo colocou em seu relatório que “o reeducando apresenta indícios de dificuldades em controlar e dirigir impulsos instintivos. No momento, mantém contato com a realidade, mas não é possível fazer afirmações em relação à sua capacidade futura de controlar sua impulsividade”. A psiquiatra disse que não tinha opinião formada a respeito das condições de Gustavo de voltar ao convívio social.

A progressão ao regime aberto foi negada pela Justiça em 2012, mas concedida dois anos depois.

MISTÉRIO.

Até o momento, o mistério sobre o motivo que levou Gustavo a dar cabo da própria família permanece insolúvel. Várias teses circulam pela internet sobre o caso. Há teorias que apontam até suposta influência satânica na conduta do rapaz.

O fato é que o próprio Gustavo sempre disse em depoimentos que não sabe o motivo de ter feito o que fez. “Acabou a minha vida e acabou a vida da minha família”, disse ele ao ser preso. Logo depois, ele chegou a ficar amarrado na cama do hospital psiquiátrico para não tirar a própria vida.

Na época do crime, a namorada disse que Gustavo poderia ter um distúrbio mental: “A pessoa que cometeu esses crimes não é a mesma que conheci”.

O irmão dele também se pronunciou: “Não sei quais motivos ele teria para fazer isso. Ele sempre foi uma pessoa calma. Mas quero ajudá-lo a se recuperar. Não tenho porque odiá-lo. Eu o perdoo”.

Um psicólogo e terapeuta de adolescentes consultado por jornais na época, Ruy de Mathis, disse que o gesto de Gustavo era a manifestação de um surto psicótico, um acesso de loucura.

“A manifestação desta doença, porém, é consequência de uma história, de uma estrutura psicodinâmica que pode ser aparente ou não e que, por razões não reveladas antes, leva a pessoa a elaborar um crime com requintes”, disse o especialista.

Trinta anos depois do crime, tentando levar a vida da forma mais discreta possível e cumprir a sua pena, Gustavo Pissardo continua um mistério. Talvez para si mesmo.

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