Prestes a completar quatro meses do acidente que lhe custou parte da perna direita, o joseense João Henrique Thomaz Ferreira, 23 anos, fala das lembranças que tem do momento da colisão, em que foi atingido por um carro da Garda, a polícia da Irlanda, em outubro do ano passado.
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Ele segue em Dublin no processo de recuperação. Está no final do período de cicatrização da perna amputada para iniciar a fase de fisioterapia, e depois colocar a prótese.
A previsão é que a recuperação dure cerca de seis meses, até que ele esteja adaptado com a prótese que colocará na perna amputada.
João Henrique, que é filho do prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias, segue acompanhado pela mãe, Sheila Thomaz Ferreira, que está em Dublin desde 29 de outubro de 2023, um dia depois do acidente com o filho.
Em entrevista ao portal E-Dublin, João Henrique conta como foi o momento do acidente e a dor que sentiu após ser atingido pelo carro do policial, acidente que segue sob investigação.
MOTO ROUBADA.
Eu me lembro bem porque fiquei acordado basicamente até entrar na ambulância. Então, o que aconteceu foi que nesse dia tinha um amigo nosso que teve a moto roubada. Eu trabalhava de entregador, com moto. E esse meu amigo teve a moto roubada e tentou recuperar pelo menos dois dias antes.
Ele tinha um localizador e viu que a moto estava se movimentando. Eles tentaram ir atrás, mas não conseguiram e nesse dia ele ligou para a gente, fez uma ligação em um grupo e comentou que a moto estava se movimentando. Nisso a gente começou a colocar mais gente nessa ligação para tentar encontrar esses moleques e tentar recuperar a moto.
A gente começou dando uma volta na cidade, atualizando a localização [da moto roubada]. A gente foi meio que cercando e tal, até que uns amigos os encontraram perto do shopping e foi quando a gente estava mais próximo que eles entraram na [rodovia] M50. Eram três motos em que eles estavam.
PERSEGUIÇÃO.
A gente começou a ir atrás deles e nisso eu encontrei um uma viatura da Garda no meio do caminho e pedi apoio pra ela. Falei que havia três motos com os moleques e eles apoiaram a gente e entraram na M50.
Enquanto começaram a ir atrás deles, a gente também foi, eu e mais alguns outros entregadores. A gente começou na M50, mas a nossa moto não aguenta andar que nem um carro da Garda, então eles estavam mais na frente.
Acho que foi lá onde eles conseguiram pegar eles [os assaltantes], tiveram uma notícia de que a galera tinha parado. Eu fiquei sabendo, fui o primeiro a chegar. Quando eu cheguei ao local, desci, parei minha moto e vi que tinha um carro parado.
Parei minha moto e quando eu vi estavam uns moleques entrando no meio do mato para fugir da polícia. Quando eu vi eu estava andando e tinha uma moto caída na avenida, ali na M50. Fui conferir se era essa moto do meu amigo para ver se a gente tinha conseguido [recuperar].
COLISÃO.
Nesse meio termo quando eu estava indo para a moto, foi questão de segundos, foi muito rápido. Eu só vi o carro vindo em minha direção. E foi quando o carro do policial me acertou.
Eu me lembro de ter visto muito rápido. Quando eu vi, ele já estava em cima, não tive tempo para ter uma reação. Tentei ainda pular pro outro lado, mas não tive esse tempo o suficiente, e aí foi quando ele me acertou, pegou e pressionou minha perna com o carro no lugar de rede da M50. E nisso eu caí no chão, aí começaram a chegar os outros entregadores que estavam basicamente juntos.
Chegaram vários. E aí foi quando chegaram o Anderson, o Guilherme e o André, que foram os que ficaram mais próximos de mim. Lembro-me do Guilherme tentar fazer o torniquete. O André pediu para esse policial que estava dentro do carro, que estava só ele. Eles fizeram um torniquete na minha perna e nisso começou a chegar um monte de policial.
MÉDICOS.
E aí eu me lembro de ficar esperando um tempo os paramédicos. Eles [amigos] sempre tentavam me manter acordado, e isso nesses momentos é bem importante, sempre o André falava e continua falando comigo, com o Guilherme. O Anderson estava deitado no colo dele e ele sempre tentando me manter acordado, porque aquela dor é uma dor tão grande que o nosso corpo tenta desligar, então você tenta dar umas leve apagadas, mas eu consegui me manter acordado até os paramédicos chegarem.
E aí foi quando ficou mais tranquilo na questão de dor, porque eles me deram uma morfina, depois eles injetaram algo no nariz que não sei o que foi.
Eu não tive muita conversa com os policiais, teve um momento que eu acabei discutindo com esse próprio policial porque eu comecei a discutir com ele e tal sobre ele ter me acertado. Outra pessoa que eu me lembro de ter conversado no momento foi uma mulher, uma policial mulher. Eu lembro que ela se agachou próximo de mim e disse que era formada em primeiros socorros, alguma coisa assim, então eu sei que eu estou fazendo e tal. Lembro-me de ela ter dito isso.
Fiquei acordado lá e assim que aconteceu. Eu me lembro de tentar levantar, de não conseguir. Então quando isso aconteceu foi quando eu coloquei a mão ali na minha perna e senti que não estava normal, então foi onde eu comecei a tocar minha outra perna, a mexer com ela para ver se tinha acontecido alguma coisa e vi que estava normal, conseguia sentir tudo.
Perguntei para meu amigo e pedi que fosse sincero comigo, você acha que vai ter alguma salvação na minha perna? Ele só balançou a cabeça para mim. Diz que não.
Ciente de que isso teria já acontecido, quando eu acordei eu fiz a pergunta de novo, mas eu já estava ciente do que tinha acontecido. Sim, eu sabia que ali provavelmente eu não teria como ter salvado a perna.
Logo no início é bem complicado. Tem muita questão de aceitar o que aconteceu, aceitar o fato, mas no início você quer muito a questão da família próxima de você, quer se sentir mais seguro. Então eu lembro que quando eu acordei, minha mãe já estava aqui, já foi algo que foi muito bom. E ela ajuda sempre ali, próxima de mim, e logo depois veio a minha família.
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