OPINIÃO

Tecla única

As redações deveriam tratar o clima com a mesma urgência com que trataram da Covid

Por José Renato Nalini | 10/02/2024 | Tempo de leitura: 2 min
Reitor da Uniregistral, docente da Pós-graduação da Uninove e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras

Inimaginável o quadro surreal que a humanidade enfrenta sem se dar conta: o aquecimento global acabará com a vida sobre a face da Terra, muito antes do que os mais pessimistas prognósticos previam.

Caminha-se aceleradamente para o fim, numa passividade que impressiona. São poucos os humanos lúcidos que preveem o caos próximo. Um deles é Kyle Pope, editor-executivo e Publisher do Columbia Journalism Review, a mais respeitada publicação sobre jornalismo no planeta. Ele afirma: “É inescapável: mais cedo ou mais tarde, todos os jornalistas estarão cobrindo a crise do clima”. É o único acontecimento que merecerá notícia. E talvez seja tarde demais para evitar as nefastas consequências de nossa dolosa omissão.

As redações deveriam tratar o clima com a mesma urgência com que trataram da Covid. É inacreditável que se dê tão pouca atenção ao maior perigo que ameaça a humanidade em nossos dias. A lentidão com que se cuida desse assunto lembra o avestruz, que enterra a cabeça na areia à proximidade do perigo.

Compreende-se que o jornalismo de entretenimento prefira cuidar de coisas leves. Dizer que o mundo está prestes a encerrar a aventura humana é deprimente. Mas é preciso encarar a verdade. A ignorância e a cupidez levaram o planeta à exaustão. As enchentes, o calor e os incêndios florestais, o número de mortes aos milhões devido ao clima, tudo mostra a urgência com que o jornalismo precisa tratar a crise climática.

É de se enfatizar que a mídia, em nossa República, tem a missão de formar, de educar, não apenas de informar. Só que é preciso assumir a responsabilidade de mostrar que a maior parte daquilo que acontece deriva da irresponsabilidade humana. Somos péssimos inquilinos. Usamos da Terra como se quiséssemos que ela se acabasse junto conosco. No fundo, sabemos que temos muito pouco tempo pela frente. Vivemos algumas décadas, não mais. Depois, o mistério.

Nossa omissão, verdadeiramente criminosa, deixando que governos acabem com a floresta, prospectem petróleo, continuem a apostar em combustíveis fósseis, não replantem, permitam a poluição desbragada e constante, cobrará mais cedo do que se pensa essa fatura histórica. Ou batemos na tecla única do desastre ambiental, ou pereceremos todos, levando conosco a esperançosa ideia de um futuro. Que não mais existirá.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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