POLITICANDO

Sobre avanços, transparência e vícios antigos

Em um mundo de hiperconectividade e cidades inteligentes, prefeituras dos maiores municípios da região ainda insistem em não cumprir a legislação básica sobre transparência

Por Julio Codazzi | 07/07/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Opinião

Marcelo Camargo/Agência Brasil

CGU (Controladoria-Geral da União) avalia cumprimento da LAI por municípios
CGU (Controladoria-Geral da União) avalia cumprimento da LAI por municípios

Eu nasci em 1982, num mundo bem diferente do atual. A internet, que hoje está presente em quase tudo, só começou a se popularizar nos lares brasileiros em meados da década de 1990. E, ainda assim, era uma internet que em quase nada se parece com a que usamos agora.

Eu lembro, por exemplo, que comecei a gostar de futebol aos 8 anos, em 1990. Para saber se o meu Palmeiras tinha vencido ou não no fim de semana, eu precisava esperar os Gols do Fantástico, na noite de domingo.

No mundo atual, marcado pela hiperconectividade, é possível acompanhar qualquer evento esportivo em tempo real. Mas, nesse texto, usei a minha paixão por futebol apenas para dar um exemplo. No geral, apenas poucos cliques são necessários para que tenhamos acesso a uma infinidade de informações, sobre o que quisermos.

As ferramentas evoluem numa velocidade impressionante. Mas o ser humano, em muitos casos, nem tanto. Muitas informações que deveríamos poder consultar de forma instantânea nos são omitidas porque alguns agentes ainda têm a cabeça no passado e não compreenderam até agora a importância da transparência na gestão pública. E olha que desde 2012, ano em que completei três décadas de vida, está vigente no país a LAI (Lei de Acesso à Informação), norma importantíssima para garantir à população seu direito de fiscalizar o poder público.

O Vale do Paraíba, para muitos, é o 'Vale do Silício brasileiro'. Como explicar então que os dois maiores municípios de uma região tão desenvolvida ainda sejam tão atrasados em termos de transparência? A prefeitura da maior cidade, São José dos Campos, ficou abaixo da média nacional nos dois levantamentos sobre transparência pública realizados pela CGU (Controladoria-Geral da União) nos últimos anos. Em 2021, por exemplo, a escala avaliou o cumprimento da LAI em 665 municípios brasileiros com mais de 50 mil habitantes, e São José ficou em 458º lugar.

Já a Prefeitura de Taubaté, segunda maior cidade da região, ficou em 2021 e 2022 sem o e-SIC (Sistema Eletrônico de Informações ao Cidadão), que é a ferramenta para que o cidadão possa fazer os pedidos de informação via LAI. E nem mesmo a entrada do e-SIC em funcionamento resolveu os problemas, já que as solicitações pelo sistema, na maioria dos casos, não eram respondidas dentro do prazo ou com as informações requisitadas.

A LAI prevê punições severas para o agente público que atua contra a transparência. Tal conduta pode configurar infração administrativa e também improbidade administrativa. Mas, infelizmente, o Ministério Público ainda não atua com o rigor necessário para responsabilizar quem age fora da lei nesses casos.

Por ora, seguimos com avanços ofuscados pelo atraso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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1 COMENTÁRIOS

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  • Jeferson
    07/07/2023
    Normalmente o Jornal O Vale quando fazia matérias com esse tipo de abordagem, normalmente citava as três principais cidades do Vale. No entanto, especialmente agora com a plataforma Sampi, dá para se notar que Jacareí está sendo cada vez mais jogada para escanteio pela redação desse jornal