AÇÃO POPULAR

Prefeitura deve explicar até quarta (31) como gastou doações após desastre do litoral

Por Débora Brito | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 5 min
Prefeitura São Sebastião
Sabesp realiza na Vila Sahy, em São Sebastião, obras de recuperação da rede de água afetada nos deslizamentos de fevereiro
Sabesp realiza na Vila Sahy, em São Sebastião, obras de recuperação da rede de água afetada nos deslizamentos de fevereiro

Atendendo à determinação da Justiça, a Prefeitura de São Sebastião disse a OVALE que responderá até a próxima quarta-feira (31) ao pedido de prestação de contas sobre as verbas recebidas pelo município após o desastre provocado pelas fortes chuvas de fevereiro.

No dia 12 de maio, a 1ª Vara Cível de São Sebastião determinou que a Prefeitura se manifestasse, em até 72 horas, sobre a ação popular aberta pela deputada estadual Ediane Maria (PSOL). O pedido da Justiça foi feito em 12 de maio, mas a Prefeitura só foi notificada na última sexta-feira (26). O prazo para manifestação expira na próxima quarta-feira (31). Com ou sem manifestação, ao final do prazo a Justiça irá decidir sobre o pedido liminar da ação popular.

Na ação popular que motivou a decisão judicial, a deputada Ediane pede à Prefeitura transparência e publicidade sobre a aplicação das verbas que foram doadas ao município por diferentes entidades públicas e privadas após a tragédia que vitimou 64 pessoas. A soma dos recursos chegaria a pelo menos R$ 57 milhões.

A deputada também demanda informações sobre a composição e as atividades dos comitês de Gestão de Crise e o de Fiscalização para destinação do Fundo Social, criados pela Prefeitura de São Sebastião para acompanhar os desdobramentos da catástrofe.

O pedido ainda contempla informações sobre as parcerias e os convênios estabelecidos com pousadas e organizações sociais privadas; o andamento do cadastro das famílias que serão abrigadas nas moradias definitivas e os critérios utilizados para transferência e remoção das famílias, além dos laudos de avaliação da defesa civil sobre as regiões atingidas pelas chuvas.

OUTRO LADO.

Em nota, a Prefeitura de São Sebastião disse que, na verdade, foram repassados cerca de R$ 10 milhões e não R$ 57 milhões, como cita a ação popular. O município também afirma que os gastos dos recursos provenientes de doações, de erário próprio ou de repasses da União e/ou do Estado, realizados durante e após a enxurrada, são devidamente divulgados.

Veja abaixo a íntegra da resposta da Prefeitura:

"A deputada Ediane Maria (PSOL-SP) erra por desinformação. É inverdade, afinal, que São Sebastião-SP recebeu R$ 57 milhões em espécie para atender vítimas das chuvas. Foram repassados cerca de R$ 10 milhões. Outrossim, os gastos do município durante e após a enxurrada são divulgados devidamente, sejam resultado de doações, de erário próprio ou de repasses da União e/ou do Estado.

Importante salientar que os valores provenientes das esferas superiores são aplicados na medida em que são repassados e que estão divorciados dos custos que os governos federal e estadual, bem como algumas entidades, decidiram assumir de forma direta, ou seja, sem a gerência do município. O que significa que, em muitos casos, as despesas foram e estão sendo contraídas pela União, pelo Estado e por associações sem a administração de aporte por parte da Prefeitura.

O Estado, só para citar um caso, repassou a São Sebastião R$ 3,5 milhões. Deste montante, R$ 2 milhões foram para a locação de caminhões, maquinários, limpeza e desobstrução de vias ao longo das vias municipais, com fornecimento de mão de obra e manutenção dos veículos (R$ 1. 432.510,00); e para contratação de empresa de serviços funerários para adultos e crianças (R$ 567.490,00).

O município também fez um pedido ao Estado, via Casa Militar, de R$ 2,6 milhões, para a tomada de outras providências frente aos estragos causados pelas fortes chuvas. Contudo, o valor até o momento não foi deferido. Também foi prometido ao município R$ 1,2 milhão via emenda parlamentar. Até o momento, o dinheiro não chegou até a cidade.

São Sebastião ainda recebeu, via Estado, R$ 1,5 milhão para abrigamento. Ainda nesta semana, a União liberou para a Prefeitura kits de limpeza e de assistência social (para abrigamento emergencial, compra de colchão, alimentos etc).  

Em razão de a população cobrar o município quanto à arrecadação de dinheiro para o auxílio às vítimas das fortes chuvas, a própria Prefeitura oficiou entidades, associações e Organizações Não-Governamentais (ONGs) que arrecadaram recursos no período para prestarem contas. Frente à resposta negativa por parte de algumas, alegando a não necessidade de satisfação, uma vez que “não se trata de dinheiro público”, restou à Procuradoria acionar o Ministério Público (PM) para que auxilie o município na apuração desta demanda.

Esta providência foi, inclusive, amplamente divulgada pela Imprensa, mas deve ter passado despercebido aos olhos da deputada Ediane."

RECLAMAÇÕES.

Mais de três meses após a tragédia, moradores compartilharam nos últimos dias nas redes sociais do Comitê dos Atingidos várias queixas , desde a volta "forçada" para as áreas de risco até a sensação de abandono e falta de segurança.

Sobre o retorno involuntário para as áreas de risco, a Prefeitura de São Sebastião informou a OVALE que a autorização se restringe às casas que receberam laudos amarelos da Defesa Civil. O nível de risco amarelo não impede a permanência no local, porém exige monitoramento pelo poder público. Já os níveis vermelho e laranja impedem a ocupação das edificações.

“É importante destacar que as moradias em questão seguem com monitoramento constante dos órgãos de segurança competentes. As equipes do município e do governo do Estado ainda estão em campo porque, após a tragédia, surgiram novas áreas de riscos, a serem catalogadas e pelo menos 693 cicatrizes nos morros em áreas com ou sem moradias.”, disse a Prefeitura em nota.

Em relação à falta de infraestrutura e a presença de entulhos do deslizamento, a Prefeitura explicou que, especificamente na Vila Sahy,  que os escombros presentes no caminho e a falta de luz se devem às obras da Sabesp para a implantação da rede de água. Segundo a Prefeitura, a parte de corte das vias terminou na semana passada e as equipes já iniciaram o processo de limpeza das vias públicas. A luz será religada pela EDP no término dessas obras.

Sobre as denúncias de perseguição e falta de segurança, a Prefeitura disse que as polícias Municipal, Militar e Civil não receberam nenhuma reclamação e recomendou que os moradores procurem esses órgãos para aumento do patrulhamento na região.

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