LEILA PAES

Tristeza do bem

Por Leila Paes | Pastora e psicóloga
| Tempo de leitura: 3 min

As emoções têm propósito e função. O design perfeito pelo qual fomos criados tem essa beleza: tudo em nós tem uma razão de ser. As emoções são como termômetros que captam as necessidades e apontam para as providências necessárias, nos ajudando a ajustar jornadas, a nos precaver, a tomar decisões sábias de proteção, mas também de desenvolvimento e crescimento pessoal. A raiva, por exemplo, normalmente indica que houve uma regra social, moral ou ética quebrada e que uma atitude precisa ser tomada para que haja uma correção de rota. Nesse sentido, podemos sentir e receber a raiva, mas escolher reagir a ela de uma maneira construtiva, não com explosões e até mesmo rompimentos ou destruições, mas com análise e, consequentemente, construção (respira fundo!).

Dentre todas as emoções, hoje quero falar sobre a tristeza. Ela também funciona como um termômetro que vai nos despertar para uma autoanálise e para uma necessidade de decisões e atitudes para uma jornada melhor. Explico: existe a tristeza decorrente de uma perda. Perdas são experiências complexas e incorrem em possível desestruturação, uma vez que algo que estava presente, de modo súbito ou não, é retirado e se torna faltante. A incompletude no cenário causa um medo muito comum a todos nós, o medo do desconhecido. Embora natural, a tendência para a paralisia precisa ser combatida. Assim como o termômetro aponta para algo que precisa ser resolvido e combatido, como no caso de uma febre, as emoções negativas precisam nos levar a resolver e a ser combativos, e não a nos entregarmos a uma situação negativa. Nesse caso, a tristeza diante de uma perda tem a preciosa alternativa de nos levar a olhar ao redor para o que poderá ser o nosso novo cenário, onde algo diferente do que era antes poderá ser trazido para uma nova história, o “daqui para frente”.

Existe também a tristeza diante de escolhas que fizemos que não foram boas. O arrependimento pode ser saudável, na medida em que dará a oportunidade de mudar de rumo. Inúmeras vezes, escolhemos coisas que não são boas ou agimos de um jeito que não é legal, não ajuda ninguém, e acabamos em situações difíceis. A tristeza vem. Ao cumprir a função termômetro, ela mostra que aquilo que fizemos não foi bom. Mas agora “é que são elas”: como termômetro, a tristeza nos alerta para que possamos tomar atitudes de cura e não para nos afundarmos ainda mais na doença!

Quantas vezes nos submetemos a emoções negativas, como se elas fossem a nossa realidade, e não apenas um termômetro?! Uma tristeza pode ser benéfica quando nos avisa de algo, quando constata uma vivência difícil, quando nos coloca em contato com a compaixão e empatia nesse mundo tão difícil. No entanto, ela é uma passagem, não um destino. Ao cumprir sua função de termômetro, nós podemos entender e vivenciar a circunstância que estamos sofrendo, buscar os recursos que temos (com insistência, sim, até encontrarmos) e ativar a resiliência, essa capacidade incrível de ir adiante que todo ser humano tem.

Não é preciso demonizar a tristeza como se fosse algo totalmente fora de uma realidade comum a todo ser humano. Ela faz parte da vida e pode, sim, contribuir para o crescimento. Estamos tristes hoje? Vamos olhar para isso com lucidez: somos seres humanos que funcionam, graças a Deus, não estamos anestesiados nem somos insensíveis. A partir da tristeza, o que podemos fazer? Agir com misericórdia e compaixão, inclusive para conosco, fazer uma prece e olhar para o céu, abrir o coração para dar um passo, mais um passo, em direção a um dia melhor, porque ele existe.

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