ATENÇÃO

Suicídio: fique atento aos sinais e saiba como buscar ajuda

Por Ana Lígia Dal Bello | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/Hannah Busing/Unsplash
Ao perceber sinais, é fundamental oferecer acolhimento, rede de proteção
Ao perceber sinais, é fundamental oferecer acolhimento, rede de proteção

O Setembro Amarelo é a ocasião em que se divulga com mais frequência informações sobre prevenção ao suicídio, no entanto, profissionais de saúde mental são unânimes quando dizem que o tema deve ser lembrado sempre, afinal, as pessoas não cometem suicídio apenas em setembro.

A Região Metropolitana do Vale do Paraíba tem o segundo maior percentual de aumento nos óbitos por suicídio no interior do estado de São Paulo em 37 anos, de acordo com dados da Fundação Seade. Nesse período, a região registrou 123 mortes por suicídio em 2017 contra 39 em 1980, crescimento de 215%. Os dados são os mais recentes divulgados pelo Seade.

Ao falar do tema, a psicóloga Edna Alzira de Miranda aponta a substituição do encontro presencial pelo uso excessivo da internet como um dos fatores que contribuem para a sensação de solidão latente em quem tem pensamentos suicidas.

“A tecnologia é boa, sim, mas as pessoas estão cada vez mais sós. Num bar, por exemplo, em vez de conversar, cada um olha para seu celular, se importando mais com quem não está presente. O que importa não é a quantidade de horas que você fica com a pessoa, mas a qualidade desse tempo. As pessoas se sentem cada vez mais isoladas e não têm com quem conversar; vão buscar no Google com quem conversar, algo para aliviar. O tema deve ser abordado com frequência, o ano inteiro tem pessoas cometendo suicidio”.

Pela internet, familiares, colegas e amigos também têm mais dificuldade de observar comportamentos suicidas. “Tem pessoas que deixam sinais (verbais ou atitudes), tem outras que planejam com antecedência, que estavam "bem" e "alegres", mas estavam planejando gradativamente. Outras entram numa situação de depressão e ansiedade e não têm com quem falar”, explicou a especialista.

Depressão
Nem sempre a depressão está relacionada à pessoa que tenta tirar a própria vida. “A pessoa que tenta se matar está sob um grande sofrimento existencial. Nessa situação, ela tem dificuldade de identificar uma saída para o problema. Alguns autores que estudam o tema dizem que o suicídio é um ato definitivo para um problema temporário. O que nós, psicólogos, costumamos expor para essas pessoas que padecem desse sofrimento existencial, que tentam o suicídio, é que para todo problema há uma solução. Talvez, não naquele momento, não da maneira esperada, mas, existe sim”, afirmou a psicóloga clínica e terapeuta gestalt Viviane Rodrigues de Matos Campo.

“O suicídio é muito difícil de ser evitado porque só quem sofre com essa dor existencial muito intensa é quem sabe o quanto isso a impossibilita. Mesmo que a pessoa possa falar sobre essa dor e que a gente entenda a dimensão, só quem sofre vai saber. Então, o que nós (profissionais) podemos fazer é divulgar informações sobre fatores de risco”, acrescentou.

Sinais
“Pessoas que pensam ou que tentaram se matar podem estar vivendo um processo autodestrutivo. Isso incluiria situações de automutilação, às vezes muito velado, em locais do corpo que em que (a marca do ferimento) não é visível”.

“Sinais de alerta verbais diretos seriam “não quero mais, quero me matar, gostaria de ter um botãozinho que apagasse tudo que estou sentindo”. Se verbalizados, os indiretos seriam frases do tipo “em breve não serei mais um fardo para vocês”, “não vão ter mais de se preocupar comigo”, “não quero trazer mais trabalho para vocês”, que dão a entender que a pessoa quer um fim para aquilo”, explicou.

“Geralmente, nas pessoas em processo de autodestruição a dor é tão intensa que, quando se mutilam, relatam que estão dessensibilizadas à dor física. Não sentem a dor da mutilação física porque o sofrimento emocional é muito grande.”

“O interessante é perceber que quando a pessoa com atitudes ou com discurso suicida direto ou indireto fala, é importante o acolhimento, mesmo que num primeiro momento não seja profissional. Não adianta julgar porque esse sofrimento independe de classe social, histórico de vida, etnia. O que a pessoa precisa é expor o sofrimento e receber acolhimento, ouvir que tem saída, sim, que existe solução”, concluiu a terapeuta.

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