PICO DOS MARINS

Caso Marco Aurélio: Nova escavação será em área em que suposta cova foi vista em 1989

Por Julio Codazzi | Piquete
| Tempo de leitura: 4 min
Jonas Caetano/Arquivo Pessoal
Em 1989, filha de antigo proprietário viu uma 'cova' em área perto de onde escoteiro acampou
Em 1989, filha de antigo proprietário viu uma 'cova' em área perto de onde escoteiro acampou

A nova escavação da Polícia Civil no caso do escoteiro que desapareceu no Pico dos Marins, em Piquete, em 1985, será feita em um local em que uma suposta cova teria sido avistada quatro anos depois, em 1989. O trabalho de busca está previsto para essa quarta-feira (16), a partir das 9h.

Essa será a segunda escavação desde que o inquérito sobre o sumiço de Marco Aurélio Simon foi reaberto, em junho de 2021 – inicialmente, as investigações haviam sido encerradas em 1990.

A primeira escavação foi realizada em julho do ano passado, em um imóvel que fica na base da montanha. Foi nesse local que os escoteiros acamparam antes de tentar subir o Pico dos Marins.

Essa primeira escavação foi feita no piso da casa em que morava o antigo proprietário, Afonso Xavier, que morreu em 1997. O trabalho contou com a participação de peritos da Polícia Científica e de cães farejadores, mas nada foi localizado.

A segunda escavação será feita em um trecho de mata a cerca de 200 metros da casa. Foi nesse local que uma filha do antigo proprietário disse ter visto uma suposta cova. Foi essa declaração da mulher que fez o inquérito ser reaberto 21 anos depois – a suspeita é de que o escoteiro possa ter sido morto e enterrado no local.

SUPOSTA COVA.
Em 1985, o grupo de escoteiros acampou no quintal de uma área onde morava Afonso Xavier, que era uma espécie de guia do Pico dos Marins. Ele e a esposa tinham 10 filhos, mas apenas quatro continuavam no local – três filhas, que dividiam com os pais uma casa simples, de um cômodo somente, e um filho, que morava em um quarto construído do lado de fora.

No dia 4 de julho de 1989, pouco mais de quatro anos após o sumiço de Marco Aurélio, esse filho de Afonso também desapareceu e nunca mais foi visto. À época, João Carlos Xavier tinha 38 anos.

Após o desaparecimento de João Carlos, duas das filhas de Afonso -- Helena da Conceição Xavier e Marlene da Conceição Xavier --, que moravam em Minas Gerais, foram até Piquete para ajudar nas buscas ao irmão. Foi nessa época que Helena disse ter visto na propriedade algo semelhante a uma cova. “Uns dois meses depois do meu irmão sumir, entramos no mato e vimos uma cova. Mas não conseguimos cavar, porque a gente não tinha ferramentas”, disse à reportagem em 2021. “[A cova] era uma escavação, já cheia de terra, do tamanho do corpo de uma pessoa, mais ou menos”, afirmou.

À época, o caso passou despercebido. Afonso morreu em junho de 1997, e a esposa morreu há mais de 20 anos. O relato sobre a cova só reapareceu em 2019, quando Helena estava em dificuldade financeira e voltou à Piquete, para morar com o casal de amigos que adquiriu a propriedade que era de seus pais – o local foi transformado em um espaço de hospedagem e restaurante para quem visita o Pico dos Marins; a antiga casa da família, por exemplo, foi derrubada há sete anos e deu lugar a uma edificação que já abrigou uma igreja batista e hoje serve de residência para outros amigos dos atuais proprietários.

Helena disse à reportagem que chegou a morar no local durante seis meses em 2019, e que nessa época contou aos atuais proprietários sobre a possível cova que teria visto 30 anos antes. Após o relato, ela teria recebido autorização para fazer buscas na área – o que para ela seria uma busca tanto pelo irmão, quanto pelo escoteiro. “Nós ficamos uns quatro meses cavando lá. Cavamos muito, para ver se achava algo. Mas não achamos nada. Nós queríamos descobrir a verdade, mas infelizmente não conseguimos”, afirmou Helena no ano passado, após o inquérito ser reaberto.

O atual proprietário da área relatou o ocorrido ao pai do escoteiro, e foi essa a informação que fez Ivo Simon solicitar à Polícia Civil a reabertura das investigações.

DESAPARECIMENTO.
Na manhã do dia 8 de junho de 1985, um grupo de cinco pessoas de São Paulo, formado por quatro escoteiros de 15 anos e pelo líder Juan Bernabeu Céspedes, à época com 36 anos, partiu do acampamento para tentar alcançar o cume do Pico dos Marins, que fica a 2.420 metros. A cerca de 1.700 metros de altitude, um dos garotos torceu o pé. Era por volta de 14h. Céspedes autorizou, então, que Marco Aurélio voltasse sozinho ao acampamento, para pedir ajuda, enquanto os demais levavam o rapaz que havia se machucado e que caminhava com dificuldade. O grupo se perdeu e só conseguiu retornar à base às 5h do dia seguinte. No local, encontraram a mochila de Marco Aurélio fora das barracas, mas o adolescente não estava lá.

As buscas se estenderam por 28 dias e reuniram aproximadamente 300 pessoas, entre policiais civis, militares, mateiros, espeleólogos (especialistas em grutas e cavernas), alpinistas, além de aeronaves. Nenhuma pista do paradeiro do escoteiro foi encontrada.

O inquérito estava arquivado desde abril de 1990, quando as investigações oficiais foram encerradas. Nessa nova etapa, a Polícia trabalha com duas linhas de apuração: que o escoteiro tenha sido morto e enterrado na propriedade; ou que ele ainda esteja vivo, com base em informações levantadas por uma investigação paralela feita por parentes e amigos da família de Marco Aurélio.

Comentários

Comentários