1 ANO DO CASO

Defesa: Sobrinha do Tio Paulo não tinha consciência do que fazia

Por Bruna Fantti | da Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução de vídeo/Facebook
No processo, os advogados de Erika afirmam que ela se encontrava em 'estado de desorganização mental'.
No processo, os advogados de Erika afirmam que ela se encontrava em 'estado de desorganização mental'.

O caso que ficou conhecido como "Tio Paulo", no Rio de Janeiro, quando Erika de Souza Vieira Nunes foi presa sob suspeita de levar um cadáver a uma agência bancária na tentativa de sacar R$ 17 mil em nome do morto, completa um ano nesta quarta-feira (16). Segundo a perícia, Paulo Roberto Braga, 68, havia morrido cerca de duas horas antes.

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Imagens registradas por funcionários do banco, que mostram Erika segurando a mão de Paulo e tentando forçar a assinatura do pedido de saque, viralizaram nas redes sociais.

O processo, que tramita na 2ª Vara Criminal de Bangu, encontra-se na fase de audiência de instrução e julgamento, em que testemunhas estão sendo ouvidas. Neste ano, já ocorreram duas audiências, nas quais foram ouvidas testemunhas de acusação. Erika será a última a prestar depoimento.

A defesa de Erika não respondeu os contatos da reportagem. No processo, os advogados de Erika afirmam que ela não tinha plena consciência do que fazia e que se encontrava em "estado de desorganização mental". Foram anexados ao processo laudos médicos, receitas de psicotrópicos, atestados de ansiedade e documentos que comprovam tratamento psiquiátrico, indicando que Erika sofre de transtornos mentais, episódios de confusão, ansiedade severa e crises emocionais.

Entre os documentos, há dois atestados de uma clínica psiquiátrica que afirmam que Erika foi internada após apresentar um quadro severo de depressão, ocorrido depois do episódio, sendo a última internação em fevereiro deste ano.

Uma das testemunhas arroladas pela defesa é o médico que acompanhava a saúde da vítima, que havia recebido alta de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) na véspera da morte. Segundo ele, Erika sempre atuou como acompanhante do idoso e frequentemente tirava dúvidas sobre os cuidados. No entanto, o médico ressalta que ela demonstrava dificuldade em compreender as orientações.

Erika foi presa em flagrante no dia 16 de abril de 2024, após levar o corpo de Braga - a quem tratava como tio - a uma agência do banco Itaú em Bangu, zona oeste do Rio. Câmeras de segurança e relatos de testemunhas indicam que o idoso já estava morto ao chegar ao local.

A perícia, no entanto, não determinou com exatidão o momento da morte. Duas testemunhas afirmam ter visto a vítima com vida antes de entrar no banco, onde permaneceu por cerca de duas horas antes do atendimento.

Funcionários da agência perceberam que Paulo não reagia, estava pálido e sem sinais vitais, e acionaram o serviço de emergência, que constatou o óbito no local. De acordo com a gerente da agência, Erika teria tentado forçar a assinatura do idoso para concretizar a operação de saque.

Ela foi denunciada sob acusação de furto qualificado e vilipêndio de cadáver (tratar um morto de forma desrespeitosa). A defesa pede a nulidade da acusação.

Além dos atestados médicos, constam nos autos documentos sobre a filha de Erika, uma adolescente com deficiência neurológica que depende integralmente de seus cuidados. Nas petições, os advogados afirmam que Erika estava em surto psicológico e emocional, agravado pela pressão familiar e pelas dificuldades financeiras. Atualmente, ela mora em um casa de dois cômodos com a filha, em uma favela da zona oeste.

A acusada obteve liberdade provisória no início de maio de 2024, com a condição de comparecer a todas as audiências e seguir tratamento médico. Já a Promotoria afirma que os elementos constantes no processo são suficientes para comprovar a intenção de obter vantagem ilícita.

O empréstimo de R$ 17 mil que seria contratado em nome da vítima era do tipo consignado e seria descontado de um benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) ao longo de sete anos.

O valor total contratado seria de R$ 17.975,38, a ser pago em 84 parcelas de R$ 423,50. Ao fim, portanto, Paulo pagaria R$ 35.574 - o equivalente a 198% do valor inicial.

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