FIM DE UMA ERA

Há 24 anos no poder, Assad sucedeu pai militar em ditadura síria

Por Herculano Barreto Filho | da Folhapress
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/Fotos Públicas
Bashar não tinha experiência política quando assumiu o poder.
Bashar não tinha experiência política quando assumiu o poder.

Com o anúncio de rebeldes da deposição do governo sírio neste domingo (8), pode estar chegando ao fim uma dinastia de 24 anos no poder do ditador Bashar al-Assad. Na ofensiva iniciada há dez dias, foram derrubadas estátuas de Hafez al-Assad, pai do atual presidente, que deu início a um clã que está há cinco décadas no poder.

Quem é Bashar al-Assad

Pai de Bashar al-Assad assumiu o poder na Síria após um golpe de Estado em 1971, quando era ministro da Defesa. No seu governo, Hafez abriu espaço para a iniciativa privada e se opôs a Israel na defesa dos interesses árabes.

Hafez-al Assad tinha plano de manter o seu clã no poder. A primeira escolha para sucedê-lo era o seu irmão Rifaat. Mas ele tentou tomar o poder quando o então presidente teve problemas de saúde em 1983 e acabou sendo exilado do país. A família é alauita, minoria religiosa xiita no país.

Bashar não tinha experiência política quando assumiu o poder. Com a morte de Bassel, filho mais velho de Hafez, o então presidente escolheu Bashar para sucedê-lo como plano de manter o poder no clã. A escolha era arriscada na época, porque o médico oftalmologista Bashar não tinha experiência política.

Ditador chegou ao poder com a morte do pai, que sofreu um ataque cardíaco em junho de 2000, aos 69 anos. Bashar al-Assad foi declarado presidente pelo parlamento após aprovação de 97,3% em um referendo popular. Na época, ele tinha 34 anos. Ele teve o mandato renovado em 2007 por outros sete anos.

Síria vive guerra civil há 13 anos após repressão aos protestos durante a Primavera Árabe. O movimento contestava os regimes autoritários. Em uma primeira fase, o conflito envolveu terroristas ligados ao Estado Islâmico e à Al Qaeda, com apoio dos Estados Unidos e da Turquia.

Presidente deixou Damasco, dizem rebeldes

De acordo com a agência de notícias Reuters, Assad deixou a Damasco em um avião. Isso teria ocorrido quando a ofensiva rebelde ainda estava se aproximando da capital. A informação foi baseada no relato de dois altos oficiais do exército sírio.

Destino de Assad é desconhecido, ainda segundo a Reuters. Até o momento, o governo sírio não se manifestou sobre o presidente ter deixado o país. Mohamed al Rahmun, ministro do Interior sírio, disse na televisão estatal que as forças de segurança haviam estabelecido um cordão ao redor de Damasco após as milícias rebeldes anunciaram que avançavam em direção à capital.

Foi a primeira vez que forças de oposição chegam a Damasco desde 2018, informou a Associated Press. Na ocasião, o exército sírio conseguiu recapturar áreas no entorno da capital após anos de cerco.

Rebeldes disseram ter invadido prisão militar de Saydnaya, ao norte da capital. "Demos a notícia ao povo sírio de que libertamos nossos prisioneiros e os soltamos, e anunciamos o fim da era de injustiça na prisão de Saydnaya", disseram em comunicado. O local tinha milhares de pessoas detidas pelo governo sírio.

Moradores relataram sons de tiros e explosões. A CNN Internacional divulgou um vídeo que mostra pessoas correndo no aeroporto de Damasco, tentando passar por pontos de segurança e correndo aos portões de embarque, possivelmente tentando deixar o país.

Rebeldes tomaram a 3ª maior cidade

Rebeldes sírios anunciaram na manhã de domingo que obtiveram o controle total sobre Homs. É a terceira maior cidade do país, ao norte de Damasco. Homs é lar de uma minoria alauita, grupo étnico-religioso do qual o presidente sírio Bashar al-Assad faz parte, e fica próximo à fronteira com o Líbano e o Iraque.

A cidade está estrategicamente situada na principal rota que conecta o centro da Síria à capital Damasco. E dá acesso a uma base naval e aérea russa. O governo de Vladimir Putin é um dos aliados importantes do governo sírio.

Prisioneiros também foram soltos da prisão central da cidade. Um comandante da aliança rebelde, Hassan Abdel Ghani, falou que mais de 3.500 prisioneiros foram soltos. Mas não foi possível checar a veracidade deste número.

Um porta-voz de operações militares dos rebeldes sírios disse que depois de Homs, eles seguiriam para Damasco. "Haverá uma nova Síria baseada na justiça. Não estamos enfrentando um exército de verdade, mas sim uma milícia", disse à Al Jazeera.

Ofensiva na Síria foi lançada pelos insurgentes em 27 de novembro. Eles já assumiram rapidamente o controle de Aleppo, a segunda maior cidade do país, localizada no noroeste, e de Hama, no centro.

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