DESATENÇÃO

Quase 25 mil domicílios de Campinas não têm acesso a esgoto: 'crianças vivem doentes'

Por Higor Goulart | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
Arquivo/Sampi Campinas
Falta de tratamento de esgoto causa lamaçal em ruas de Campinas em época de chuva
Falta de tratamento de esgoto causa lamaçal em ruas de Campinas em época de chuva

Campinas tem mais de 404,6 mil domicílios com tratamento de rede de esgoto. Isso representa uma cobertura de 94,2% das 429,5 mil residências ocupadas da metrópole. Os dados foram divulgados no Censo 2022, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas de Campinas), na última sexta-feira, 23.

No entanto, os números também mostram um outro lado: quase 25 mil domicílios ainda não contam com a rede de esgoto da Sanasa. Ou seja, nem todos os campineiros contam com o direito ao saneamento básico, sendo algo previsto na Constituição. Basta olhar para os moradores do Jardim Santo Antônio, bairro que ainda não possui o serviço.

“Há anos não temos para onde despejar. Então, a gente ‘tacava’ nossas necessidades em uma área de mata próxima. Isso deixava um fedor, um mau-cheiro”, relatou a moradora Tatiana de Oliveira Couto, de 33 anos.

A alternativa dos moradores de despejar no mato não só deixava mau-cheiro, como também periodicamente os deixava doentes e propiciava a aparição de insetos e animais peçonhentos.

“Direto todos nós ficamos doentes. É dor de barriga, vômito, febre”, relatou a dona de casa. “Fora o que tem de mosquito por aqui. É mosquito, barata, rato. É tudo muito precário por aqui”, seguiu Tatiana.

"Tem muito fedor, mosquito, pernilongo. As crianças também ficam muito doentes. E meu banheiro também entope todos os dias. Então, sempre tenho que lavar ele", contou Francielly Ketlyn da Silva, de 21 anos.

“Eu tenho duas crianças e elas sempre estão com diarréia, dor de barriga, de cabeça e mal-estar. Gasto bastante [com remédios]”, comentou a costureira Cleide Marinho dos Santos, de 44 anos.


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Sem a assistência do poder público, os próprios moradores resolveram se juntar para financiar um encanamento. A ‘solução’, no entanto, não é tão efetiva. Isso porque o cano despeja os dejetos em um córrego bem próximo das casas.

“Gastamos muito dinheiro e conseguimos direcionar um cano para outro pontos. Só que às vezes ele entope e o mau-cheiro continua”, contou. “E também nem todos os moradores participaram, então a alternativa deles foi abrir foça, o que também causa um forte cheiro”, completou Tatiana.

Os efeitos da falta de esgoto à população não param em mau-cheiro ou insetos. Segundo Luana Pretto, diretora-executiva do Instituto Trata Brasil, crianças não ficam apenas doentes, como também podem morrer pela falta de saneamento básico. Além disso, podem sofrer impactos na educação escolar.

“Cada episódio de diarreia faz com que uma criança fique de um a quatro dias afastada de suas atividades escolares. As crianças ficam mais doentes, as mães ficam mais doentes, não conseguem trabalhar, não conseguem gerar renda”, comentou.

Em nota, a Sanasa, que administra a rede de saneamento de Campinas, informou que os números atuais de atendimento estão dentro do Novo Marco Regulatório do Saneamento. "Campinas alcançou a universalização do saneamento no ano passado, dez anos antes do que prevê o Novo Marco. A meta estabelecida para abastecimento de água potável é 99% e de coleta e tratamento de esgoto, 90%".

Sobre as moradias desassistidas, informou que "atingir 100% é a busca constante de toda cidade para atender a demanda crescente e o desenvolvimento demográfico populacional que ocorre ano a ano. Por meio de financiamentos, a Sanasa faz investimentos constantes para chegar aos 100% e atender a toda população campineira".

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