
De 1º de janeiro a 26 de maio de 2025, 2.345 animais silvestres foram resgatados em Jundiaí e região. O número representa um aumento de 24% em relação ao mesmo período de 2024, quando 1.881 animais foram acolhidos.
Os resgates ocorrem após acionamentos feitos por órgãos oficiais ou pela população. A maioria dos animais chega à Associação Mata Ciliar, com sede em Jundiaí, que atua na reabilitação da fauna. Segundo o presidente da entidade, Jorge Bellix de Campos, a principal causa do aumento é a caça ilegal, ainda muito presente na região.
“A maioria dos animais chega por apreensões, principalmente aves”, explica Jorge Bellix. “Mas também recebemos muitos feridos por armadilhas, tiros ou ataques de cães. Há ainda casos de animais baleados com chumbinho de espingarda e até mesmo envenenados”, acrescenta.
O presidente da Mata Ciliar destaca ainda que muitos desses casos não estão ligados à caça para consumo, mas à tentativa de extermínio de predadores, como onças e cachorros-do-mato, vistos erroneamente como ameaça por moradores de áreas rurais.
A veterinária Camile Hisadomi, da Associação Mata Ciliar, fala sobre a rotina com vítimas de armadilhas e caça ilegal. “O estresse que esses animais sofrem é extremo para eles, ser caçado é como viver a morte. Por isso, buscamos minimizar ao máximo esse impacto durante a recuperação”, explica.
Os animais são mantidos em recintos amplos, que oferecem mais conforto e reduzem a sensação de confinamento. Cada espécie tem um protocolo específico, com locais de reabilitação adaptados às suas necessidades desde aves com fraturas por chumbinho até mamíferos com lesões graves por armadilhas ou tiros.
Entre os casos mais graves está o de uma onça-parda, que vive há dois anos na Mata Ciliar. O animal já passou por quatro cirurgias, após ter o fêmur danificado por um tiro. Alguns bichos, após amputações, não conseguem mais retornar à natureza, permanecendo sob cuidados permanentes.
Além do impacto ambiental, a caça traz riscos à saúde pública. Recentemente, dois tatus congelados prontos para consumo foram apreendidos pela Guarda Municipal de Cajamar. O consumo de carne silvestre pode levar a doenças graves e até à morte.
Claudemir Battaglini, advogado, professor e consultor ambiental, explica que a caça de animais silvestres é considerada crime ambiental pela Lei Federal 9.605/98, artigo 29. “Matar, perseguir, caçar ou utilizar espécies da fauna silvestre, nativas ou em rota migratória, sem autorização, é crime com pena de seis meses a um ano de detenção, além de multa”, afirma.
A caça é proibida no Brasil em quase todas as circunstâncias, permitindo apenas exceções rigorosamente controladas, como em casos de desequilíbrio ambiental, sob licença específica. A pena aumenta se envolver espécies raras, ocorrer à noite ou em áreas protegidas, onde até portar armadilhas já é crime. A lei busca proteger a biodiversidade e o equilíbrio ambiental.
A prática da caça com espingardas, armadilhas de aço, caixas e veneno segue sendo um desafio para a preservação da fauna e da saúde da população.