OPINIÃO

E o novo Papa?


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Dia desses, conversando com um querido amigo, professor de geografia, entramos em um tema que está sendo discutido em todo lugar: a escolha do novo papa.

E a conversa foi tão boa, levou a tantas reflexões, que resolvi trazê-la para cá. Mas, antes de qualquer coisa, é interessante avaliar o porquê de um conclave ainda causar tanto rebuliço nas pessoas. Será pela ritualística envolvida, onde pouco mais de cem homens escolhem, sob os afrescos de Michelangelo, um dentre eles para ser o líder absoluto de um país e de quase um bilhão e meio de fieis espalhados pelo globo? Claro.

Tratam-se de ritos e ações calculadas, cheias de significados. Sim. A ritualística, a "magia" envolvida chama a atenção... e tem essa intenção. Todas as religiões possuem sua liturgia, seu ritual. E os católicos não são diferentes. Em um mundo onde tudo é rápido, líquido e descartável, algo tão antigo e elaborado é ponto fora da curva. E chama a atenção mesmo de quem não é fiel.

Mas vamos aos pontos que mais se discutem.

Uma vez que o grande papa Francisco "voltou à casa do Pai", todos se perguntam se o próximo sumo pontífice será "mais de esquerda" ou "mais de direita"? Mais conservador ou mais liberal? Mais tradicional ou mais inovador? Qual é a preocupação do Vaticano? Que "imagem" eles querem passar para atrair mais fieis? Qual a sinalização para o mundo?

São perguntas totalmente descabidas. Explico.

Os papas são, por essência, os que conservam a fé,a tradição e o magistério da Igreja. Logo, são... conservadores (se nos apegarmos ao que significa a palavra "conservar"). Nunca farão algo fora do que a Igreja preconiza desde sempre. Então sugiro que paremos de definir papas e religiosos como liberais e conservadores.

Outro ponto: a Igreja não está preocupada com definições como esquerda ou direita, tão bobas e ineficientes para explicar as complexidades do mundo atual. Não há "mensagem" nesse sentido. O que existe, infelizmente, são grupos fora da Igreja que "adotam" determinadas figuras como suas, sem autorização ou análise. Ora, chamar um cardeal de comunista porque defende pautas sociais é absurdo, assim como determinar que um religioso defensor da tradição na liturgia seja de "direita". Tanto um lado como outro da barricada ideológica que se tornou o mundo faz isso com frequência.

O próprio papa Francisco foi vítima disso: quantas vezes não foi considerado liberal demais ou mesmo de esquerda, sendo que na verdade o que saiu de sua boca nunca foi diferente do que aquilo que a Igreja sempre pregou e pregará. Não mesmo. A mídia e os grupos políticos fizeram de tudo, na imensa maioria das vezes, para deturpar e descontextualizar suas falas.

E quais os desafios do futuro bispo de Roma? Inúmeros, posso garantir. Reaproximar as várias correntes internas da Igreja, tentando reuni-las o máximo possível.

Mas, principalmente, transmitir de forma clara e eficaz a mensagem de amor que Cristo nos deixou e que nunca foi (ou será) inteiramente compreendida.

Portanto, o que se deve fazer?

Se você, leitor, for católico, continue rezando. E se não for... nada. Não acontece nada.

Samuel Vidilli é cientista político 

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