OPINIÃO

Aprender em movimento


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Convenci-me, com os anos, que nossa escola precisa de uma reengenharia ou uma reinvenção. Os tempos mudaram, a velocidade das comunicações impôs um ritmo alucinante à vida e ninguém mais consegue ficar sentado em fileiras, ouvindo perorações desinteressantes.

Os professores que dão certo são aqueles que se convertem nos protagonistas de stand-ups, os influencers que conseguem exprimir em trinta segundos algo que desperte os educandos. A escola tradicional acabou. Basta verificar a evasão e o despreparo de quem consegue diploma. Sobretudo se for em humanidades.

Outro dia Elio Gaspari comentou que a China dá certo porque tem muitas escolas de engenharia e insiste no ensino da matemática, da física e da química, além da biologia, da geologia, da meteorologia, da estatística e de outros aprendizados “duros”. Enquanto nós, multiplicamos aqueles profissionais que, depois de formados, continuam a fazer o que já faziam antes. Não sabem escrever, não sabem falar, não sabem pensar.

Por isso é que me animo ao constatar que alguns pensam diferente e fazem coisas novas. Como o atual presidente da Universidade Minerva, Mike Magee. Ele diz: “Eu acredito que precisamos mudar o formato das universidades, porque os jovens do mundo todo estão nos dizendo em palavras e ações que estão insatisfeitos com a educação tradicional”.

A Universidade Minerva oferece ensino online e faz com que os estudantes passem um semestre em cada país. Foi criada para formar líderes globais. O ensino é inovador. Os alunos desenvolvem habilidades que vão muito além da memorização de informações. O ensino prima por incrementar as chamadas competências socioemocionais, tão negligenciadas pela escola convencional.

O bom é que brasileiros já estão cursando a Minerva. O custo não é barato: 50 mil dólares ou 287 mil reais. A questão financeira impede que mais alunos do Brasil vivenciem essa experiência que, certamente, vai mudar o destino deles.

Para Mike Magee, a Minerva conseguiu tornar o ensino superior mais atrativo e efetivo para os jovens. Os números não mentem: 93% dos alunos se graduaram no tempo certo e 95% deles dizem que, após seis meses da graduação, já estavam na carreira escolhida.

Na verdade, o jovem brasileiro, principalmente aquele de baixa extração, entra numa faculdade sem saber exatamente o que quer. Ainda acredita que um diploma universitário abrirá todas as portas do sucesso. E isso não acontece. O perigo é criar uma legião de ressentidos: todos diplomados, poucos fazendo aquilo que gostam, mal conseguindo se sustentar. A Minerva, tem noção do que deveria ser feito e criou um modelo muito eficiente para ajudar o jovem a pensar o que quer ser, onde quer viver o que vai fazer da própria vida.

Quanto às aulas online, diz o presidente da Minerva que conseguiu desenvolver algo muito especial. Cada aula é um seminário em que os alunos constroem uma relação com seus professores e colegas. Em cada encontro não é possível deixar de se envolver em um debate interessante. E como cada aluno pode estar numa parte do mundo, o diálogo em forma de aprendizado global é eficaz. Além disso, a alternância de cidades faz com que o aluno conheça a história e a cultura de cada lugar. Isso permite a ele construir uma rede de contatos, fazer estágios em diferentes países e contextos. É algo bem diferente e melhor do que fazer um estágio ou intercâmbio.

Que essa iniciativa prospere e ao menos suscite, nos nossos educadores, fazer algo mais criativo e transformador do que manter o velho, surrado e superado modelo ainda vigente.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

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