JUDICIÁRIO

Ministro critica: “Polícia prende mal” e OAB avalia declaração

Por Marilia Porcari |
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação / OAB
 Daniel Martinelli afirma que nova PEC da segurança trará maior colaboração entre as entidades
Daniel Martinelli afirma que nova PEC da segurança trará maior colaboração entre as entidades

Após declaração do Ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, feita na última semana sobre a atuação das forças policiais no Brasil, destacando a necessidade de uma reformulação nas práticas de prisão, muitas entidades de classe se pronunciaram a respeito da questão.

O ministro fez questão de pontuar que a fala foi tirada de contexto e se explicou. A advogada Maiara Tangerina, presidente da Comissão de Direito Penal da OAB de Jundiaí, diz que esta grande repercussão se dá pois foi abordada uma questão muito delicada. Sobre a relação entre a atuação da Polícia, as decisões do Judiciário e a legalidade destas prisões, a especialista no assunto explicou: “Infelizmente o que vemos hoje no Sistema de Justiça é que muitas das vezes há o uso excessivo da prisão, principalmente em flagrante, não atendendo os requisitos legais ou deixando de justificar a necessidade imediata dessa prisão”.

Ela complementa dizendo que o uso indiscriminado da prisão sem uma investigação aprofundada ou observância das formalidades legais leve realmente a uma fragilização do processo, o que contribui para uma sensação de que o Judiciário necessite por vezes ‘corrigir’ estas prisões. “No entanto é importante ressaltar que a crítica não pode ser direcionada exclusivamente à atuação da Polícia. A fala do Ministro de que a ‘polícia prende mal’ esconde, ao meu ver, uma visão simplista sobre este problema”, diz, opinando ainda que o Sistema de Justiça Brasileiro é muito complexo.

“Envolve não somente a atuação policial mas também a dos atores de Justiça. Me refiro ao Judiciário, que precisa ser mais crítico em suas decisões, evitando a banalização da prisão preventiva e considerando outras medidas cautelares que poderiam sim ser mais eficazes”, afirma, destacando ainda que a prisão como primeira medida não é reflexo de falhas da Polícia mas também de deficiências do próprio sistema de justiça.

Responder em liberdade

Para o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB Jundiaí, Daniel Martinelli, é preciso olhar esta declaração do ministro Lewandowski pelo prisma de que as instituições de segurança precisam se integrar mais para evitar  possíveis erros. “Todos batalham para que a legislação seja cumprida”, destaca, lembrando que as forças policiais fazem sua parte assim como o judiciário e os advogados que atuam na defesa dos presos.

Ele ressalta que, na legislação brasileira, a última ‘instância’ é a prisão, já que há o direito de responder em liberdade e o encarceramento é para casos em que seja considerado o risco para a sociedade, como tráfico de drogas, organização criminosa e pessoas envolvidas em diversos estupros, por exemplo. Mas que a preocupação da sociedade com a criminalidade tem que ser debatida e que medidas estão sendo tomadas. “É o caso da Nova PEC (Proposta de Emenda à Constituição) de Segurança Pública, que deve fortalecer as Guardas Municipais, um anseio da população. Mas acredito que o principal é a colaboração entre as entidades: polícias, advocacia, Ministério Público e demais órgãos”, considerou.

A PEC em questão pode propor mudanças relacionadas à guarda municipal, fortalecendo o seu papel, ampliando suas atribuições e garantindo mais recursos e autonomia para atuar na segurança pública local. Já a advogada Maiara Tangerina elenca outras medidas que podem contribuir, como aprimorar a atuação do Sistema de Justiça. “É preciso que sejam efetivadas e aplicadas medidas cautelares que realmente evitem a reincidência (ao crime). Só assim vamos garantir que o direito do acusado de responder a um processo em liberdade não seja confundido com esta ‘sensação de permissividade’, para que ele continue a cometer delitos”, diz.

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