Com cinco temporadas completas na Capital do Basquete e um apreço inigualável dos torcedores francanos, David Jackson ainda se lembra com perfeição de como se iniciou a sua caminhada com o Sesi Franca. Ainda com 35 anos e somando passagens por Flamengo, Limeira e Vasco da Gama, o norte-americano estava à espera de uma oportunidade em Franca.
“Foi difícil chegar até aqui. No início, o clube não contratava tantos estrangeiros. Eu estava em casa, de férias, esperando o time. Tinha acabado de sair do Vasco”, relembrou. DJ vinha de uma temporada com médias de 15.4 pontos, 5.3 rebotes e 3.6 assistências – números que chamaram a atenção.
Para que ele fosse contratado e a vontade de jogar em Franca se realizasse, a opinião de futuros companheiros de equipe foi requisitada – e surtiu resultado. “Graças a Deus, o Sesi abriu esse contato com os estrangeiros. Fizeram uma lista e foram perguntando aos jogadores, e eles me escolheram. Foi desse jeito que cheguei”.
Àquela época, David Jackson havia vencido os prêmios de MVP do campeonato argentino e, outras três vezes, o de melhor estrangeiro do basquete brasileiro. Um presságio do que estaria por vir.
Mais de seis anos se passaram desde o anúncio da contratação do ala-armador, em julho de 2018. Hoje, com quase 42 anos – completa a nova volta ao sol na segunda-feira, 12 -, David Wayne Jackson Jr. se tornou um dos atletas mais marcantes da história do basquete francano.
Mais do que uma relação entre clube e atleta, se criou uma simbiose entre o nascido em Maryland, nos Estados Unidos, e a cidade interiorana de São Paulo. “Franca é a minha personalidade. Uma cidade de trabalhadores. Me encaixo muito bem aqui”, disse o craque.
Não é pra menos. Além dos seis anos completos morando aqui, são, ao todo, doze títulos defendendo as cores do clube que manda jogos no Pedrocão: a Copa Intercontinental da FIBA, conquista mais importante da história do Sesi Franca e que teve o próprio DJ eleito o melhor jogador, três NBBs (Novo Basquete Brasil), competição da qual ele é o 9º maior pontuador geral, quatro campeonatos paulistas, uma Liga Sul-Americana, duas copas Super 8 e uma Champions League das Américas.
Fora tudo disso, o estadunidense soma números individuais impressionantes ao longo de sua carreira no Brasil. Ele é o único jogador com 91% de aproveitamento nos lances livres, 58% nos arremessos de dois pontos e 45% nos chutes de três. O segredo para tudo isso e para manter os bons resultados aos 42 anos? Cuidado.
“Disciplina. Tive essa conversa com o Paulinho (preparador físico) recentemente. Quando acabou a temporada passada, tracei um plano para fortalecer meu joelho. Durante as férias, nos EUA, acordava às 5h para treinar e, depois, buscar meus filhos. Agora, de volta a Franca, continuo fazendo a minha parte”, confidenciou David Jackson.
E o nível de profissionalismo é tanto que gera surpresa até mesmo em quem já está consagrado no meio esportivo. Durante um dos treinamentos de rotina, Lula Ferreira, supervisor técnico do Franca, comentou que, no sentido físico, DJ “dá show em muito menino que está começando agora”.
“Ele tem uma disciplina invejável. É tudo que um técnico gostaria, é tudo que uma comissão técnica gostaria, porque ele é o exemplo. Ele é a pessoa que faz. É disciplinado todos os dias, não uma vez ou outra. Ele transmite para os jovens um valor importante. Se os jovens seguirem o que o David Jackson faz, com certeza, eles terão sucesso em suas carreiras”, disse Lula.
Para DJ, ser um dos jogadores mais experientes do elenco comandado por Helinho Garcia e, com isso, ser encarado como uma inspiração pelos atletas mais jovens só proporciona orgulho. E ele, é claro, atua diretamente na evolução das crias francanas.
“Durante os treinos, eu falo o que vi. Falo o que acho que eles podem melhorar. Claro que precisamos falar de formas diferentes com cada um, mas sempre falo numa boa. Quero ajudá-los a ficarem cada vez melhores”.
Parceria com os companheiros
Juntos no Franca desde 2018, ano em que os dois foram contratados, David Jackson e Lucas Dias formam uma das parcerias mais longevas e de maior sucesso no basquete brasileiro. A amizade passa desde o companheirismo do cotidiano até à torcida de um pelo outro nas Olimpíadas.
No dia a dia, eles brincam, mas também se apoiam em busca da evolução de desempenho. “É um relacionamento em que um quer o melhor do outro. Ele fala o que eu tenho que melhorar, e eu faço o mesmo. É um relacionamento de irmãos”.
Nas Olimpíadas, DJ, inclusive, torceu por ele e pelos companheiros Helinho e Georginho. A não ser, é claro, no jogo decisivo das quartas de final, contra os Estados Unidos, que terminou com a classificação americana. “Torci para os EUA, lógico”, comentou rindo. “Mas eu quero sempre que meus parceiros de time joguem bem”.
Carinho dos francanos
Tanto tempo jogando pelo Sesi Franca fez com que David Jackson conquistasse o carinho dos moradores da cidade. Apesar de ser absolutamente focado e sério dentro das quadras, do lado de fora, ele é efusivo e gosta do contato.
“Eu sou bem próximo dos torcedores. Eles sempre me pedem fotos, assinaturas e coisas assim. Não tenho problema com isso. Muita gente acha que sou bravo, pela personalidade em quadra, mas sou muito tranquilo. Eu gosto desse carinho”, se declarou o ala.
