MEIO AMBIENTE

Compostagem é solução sustentável para reduzir o lixo e nutrir as plantas

A compostagem de resíduos orgânicos evita a emissão de metano, gás que é gerado num aterro sanitário quando este tipo de resíduo é disposto lá

Por Rafaela Silva Ferreira | 30/04/2024 | Tempo de leitura: 5 min

ARQUIVO PESSOAL

Além de ser uma prática sustentável que reduz o volume de lixo enviado para aterros sanitários, a compostagem também oferece diversos benefícios
Além de ser uma prática sustentável que reduz o volume de lixo enviado para aterros sanitários, a compostagem também oferece diversos benefícios

A compostagem é um processo natural que transforma restos de comida e outros materiais orgânicos em um adubo rico em nutrientes, ideal para nutrir plantas e jardins. Além de ser uma prática sustentável que reduz o volume de lixo enviado para aterros sanitários, a compostagem também oferece diversos benefícios para o solo e as plantas.

A bióloga Lara Teixeira Laranjo, 38 anos, explica que a compostagem é caracterizada por ser uma ferramenta de baixo custo e tem como principal objetivo a conversão de resíduos orgânicos em um fertilizante orgânico rico em micro e macronutrientes, chamado de composto orgânico, um adubo classe A, muito utilizado como condicionador de solo. “Ela funciona quando os resíduos orgânicos são separados na fonte geradora e enviados a um pátio de compostagem. Caso os resíduos orgânicos venham misturados com plásticos ou outros materiais recicláveis, bem como rejeitos, a compostagem desses materiais se torna inviável.”

A destinação dos resíduos orgânicos para compostagem cumpre a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que afirma que apenas os rejeitos devem ser dispostos em aterros sanitários no Brasil, além de proporcionar um aumento da vida útil dos aterros, já que mais da metade dos resíduos destinados para este fim é composta por resíduos orgânicos. “O principal produto da compostagem é um composto orgânico rico em macronutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio. Estes compostos podem ser aplicados em hortas comunitárias, hortas urbanas e na agricultura familiar, reduzindo a utilização de fertilizantes químicos”, pontua. “Além disso, a compostagem de resíduos orgânicos evita a emissão de metano, gás que é gerado num aterro sanitário quando este tipo de resíduo é disposto lá. O metano é o principal gás responsável pelo efeito estufa, então compostar tem um papel primordial na mitigação dos efeitos climáticos”, completa.

Segundo a resolução CONAMA 481/2017, que estabelece critérios e procedimentos para garantir o controle e a qualidade ambiental do processo de compostagem de resíduos orgânicos, tendo como principal objetivo proteger o meio ambiente e buscar restabelecer o ciclo natural da matéria orgânica, que é fertilizar os solos, há dois tipos de compostagem: a compostagem termofílica ou a vermicompostagem.

“Na compostagem termofílica, temos uma sucessão de microrganismos decompondo a matéria orgânica e uma faixa de temperatura acima de 55ºC durante a primeira fase (fase termofílica), que garante a sanitização do adubo e inviabilização das sementes. Essa fase é sucedida por uma fase mesofílica e uma última fase de maturação do adubo. Na vermicompostagem, temos minhocas, geralmente as do gênero Eisenia, sendo utilizadas para acelerar o processo em composteiras domésticas”, exemplifica a bióloga.

A compostagem termofílica pode ser feita de muitas maneiras, em leiras, em pilhas, em telas, em cilindros, em caixas d’água e é indicada quando a quantidade de resíduos é maior do que o gerado em uma residência. “Caso a pessoa tenha um quintal com muitas folhas, pode optar por fazer a composteira de tela para aproveitar este material. A vermicompostagem é indicada para quem não tem um espaço com terra em casa, mas ainda assim tem a consciência de que cada um é responsável pelo resíduo que gera. Ela pode ser feita em baldes, caixas plásticas, garrafas pet, etc.”

MITOS

Lara ressalta que são muitos os mitos em torno da compostagem, mas o principal é em relação ao cheiro. “Não existe odor desagradável porque a compostagem ocorre em um ambiente oxigenado. O mau cheiro que pode surgir em composteiras domésticas é pela falta de manejo adequado que cria pontos de anaerobiose (falta de oxigênio por compactação dos alimentos) dentro da caixa.”

O revolvimento dos alimentos e a mistura com matéria vegetal seca é o suficiente para eliminar o possível odor desconfortável. “Outra coisa que precisa ser pensada é que a composteira é um ecossistema completo, então não existem apenas minhocas ali, existem bactérias, fungos, ácaros, diplópodos, lacraias, tesourinhas, porcelos, tatu-bola, colêmbolos e muitos outros invertebrados que fazem a função de decompor esta matéria orgânica, chamada por muitos ainda de lixo”, finaliza.

FAZENDO EM CASA
A atriz e professora, Joelma Marcolino, 54 anos, atriz e professora, começou com a compostagem na época da pandemia do Covid-19. Ela conta que no isolamento começou a estudar, de maneira on-line, sobre cultivo de alimentos em pequenos espaços, pois morava em apartamento, mas sempre gostou de plantas.


"Queria ter alguns temperos, tomatinhos e saladinhas verdes frescas e limpas, sem química e sem agrotóxico. Conheci o sistema de compostagem domiciliar e entendi que, além de fácil, é o destino mais correto e inteligente para os resíduos crus gerados no preparo das nossas refeições. O volume do lixo que eu produzia reduziu mais que a metade e depois de 2 ou 3 meses, tinha um material, uma 'terra' ótima para compor o substrato usado na manutenção dos meus vasos e floreiras, que ficavam mais lindos a cada dia!"


Para Joelma, outro produto muito interessante da compostagem é o biofertilizante, líquido que acumula na última parte da composteira. "É um ótimo adubo que deve ser diluído em água antes de aplicar."

Marcolino utiliza a composteira de três caixas (15 litros), que ocupa pouco espaço e possui alternativas para aumentar sua capacidade. "Também já usei uma composteira feita com baldes, que dá no mesmo. Só muda o formato e fica bem mais barato. Coloco todo tipo de resíduo cru na composteira (talos, cascas, folhas), também coloco casca de ovo, borra de café (com o filtro de papel e tudo!), saquinho de chá. Para cobrir esse material 'molhado', uso serragem de madeira sem tratamento químico ou folhas secas, grama ou capim seco da casa de amigos e também papelão picado."

Questionada sobre a compostagem ser um tipo de “terapia”, Joelma diz acreditar que vai muito além disso. "É uma responsabilidade que todo cidadão deve assumir em caráter de urgência, pois os aterros sanitários estão colapsando. Não tem sentido nenhum mandar resíduos de alimentos crus junto com o rejeito. Compostar é uma das formas de cuidar do meu alimento, de ressignificar e valorizar cada refeição que faço e saber que o 'lixo' que produzo está sendo direcionado de forma correta, resultando em um produto útil e saudável. Recomendo essa experiência a todos", finaliza.

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.