SAÚDE

Pré-disposição a intolerância a lactose afeta mais de 50% dos brasileiros

A intolerância à lactose se caracteriza pela diminuição da atividade da enzima lactase na mucosa intestinal

Por Rafaela Silva Ferreira | 18/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

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No Brasil, 51% da população tem tendência a desenvolver intolerância a lactose, segundo estudo realizado pelo laboratório de genética Genera. Além disso, outra pesquisa conduzida pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) sugere que a raça e a cor influenciam na digestão da lactose: 57% dos brancos e pardos, 80% dos negros e 100% dos descendentes de japoneses no Brasil apresentam algum grau de intolerância.

A nutricionista Bruna Aprillanti explica que a hipolactasia (intolerância a lactose) se caracteriza pela diminuição da atividade da enzima lactase na mucosa intestinal em hidrolisar a lactose, ou seja, resulta pela má absorção ou má digestão da lactose presente em alimentos de origem láctea (derivados de leite) pelo organismo. “A descoberta da hipolactasia vem normalmente com sinais e sintomas intestinais quando consumidos produtos que contém leite.”

Segundo Aprillanti, os sintomas mais comuns são dor abdominal, sensação de inchaço, cólicas intestinais, flatulência, diarreia caracterizada como osmótica. “Muitas pessoas apresentam também constipação e sintomas sistêmicos menos comuns, como enxaqueca, vertigens e perda de concentração. Além dos sinais e sintomas clínicos ao consumo de alimentos lácteos, a intolerância pode ser diagnosticada por exames laboratoriais específicos de sangue. Sempre pedidos por profissionais médicos ou nutricionistas”, pontua.

A intolerância a lactose pode ser classificada em três graus de severidade: leve, moderada e grave. Essa classificação se baseia na quantidade de lactase que o corpo produz e na intensidade dos sintomas que a pessoa apresenta após consumir produtos lácteos. “A hipolactasia primária, ou seja, após o consumo de produtos lácteos, tem sintomas destacados e é normalmente irreversível. Também existe a hipolactasia secundária à outras doenças inflamatórias intestinais, como enterites infecciosas, doença celíaca, doença de Crohn, síndrome do intestino irritável e diverticulite, a qual pode ser reversível em muitos casos com o tratamento.”

O tratamento se baseia em dois pilares principais: modificações na dieta e, em alguns casos, suplementação com lactase.

“O tratamento inicial seria a exclusão do consumo de alimentos lácteos ou a redução do mesmo na dieta, de acordo com a individualidade de cada paciente e tipo de hipolactasia", explica. "Existem alimentos lácteos que têm maior teor de lactose como o próprio leite, e outros que têm baixa lactose, como queijos mais curados e iogurtes fermentados, como o kefir."

Questionada sobre as pílulas de lactase, Bruna comenta que podem ser uma opção eficaz para gerenciar a intolerância. Porém, há restrições. “Uma das alternativas ao tratamento é o consumo de alimentos zero lactose ou mesmo administrar, via oral, cápsulas de lactase ou mesmo adicionar lactase exógena aos produtos no ato do seu consumo. Deixando claro que se faz necessário uma avaliação nutricional para que possamos avaliar o paciente na sua individualidade e principalmente evitar uma diminuição do consumo de cálcio e vitamina D pela dieta, já que são ótimas fontes em produtos lácteos também. Procure sempre um profissional capacitado”, finaliza.


Um dos brasileiros

Rafael Pereira Nascimento, 26 anos, cresceu tomando leite e seus derivados com frequência. "Leite no café da manhã, queijo à tarde, pizza no jantar. Fazia parte da minha rotina e eu nem imaginava que um dia isso poderia se tornar um problema." Foi aos 13 anos que os sintomas começaram a aparecer. "Depois de jantar pizza e sorvete, meu estômago começou a ficar estranho. Dores abdominais, inchaço e muita diarreia. No começo, achei que fosse apenas uma indisposição passageira, uma virose, mas logo os episódios se tornaram frequentes."

Com o tempo, Rafael percebeu que a maioria dos seus desconfortos digestivos surgia após consumir leite ou derivados. "Decidi então consultar um nutricionista, que me diagnosticou com intolerância leve à lactose."

Atualmente, Rafael conta que o principal tratamento é reduzir ou eliminar o consumo de leite e derivados da dieta. "Procuro sempre saber o que estou comendo. Claro, não deixei de comer uma pizza, um chocolate ou até tomar o próprio leite, só não é uma coisa regular agora. Me permito comer 'bem' só no fim de semana", finaliza.

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