NO EXTERIOR

Literatura brasileira vista de outras fronteiras

Brasileiros relatam convivência com a literatura brasileira fora do pais

Por Letícia Malatesta | 05/04/2024 | Tempo de leitura: 4 min
Jornal de Jundiaí

Divulgação

O governo lançou em 2023 um programa que incentiva a publicação de livros brasileiros no exterior
O governo lançou em 2023 um programa que incentiva a publicação de livros brasileiros no exterior

Os brasileiros possuem costume de ler livros de autores estrangeiros, como mostra a pesquisa da Amazon sobre os livros mais vendidos em 2023. Entre os autores estão Colleen Hoover (norte-americana), Matt Haig (britânico), Dale Carnegie (norte-americano) e Carla Madeira (única escritora brasileira no “top 10”), mas e no exterior, livros brasileiros são best-sellers?

A história da literatura brasileira se iniciou em 1500, com a chegada dos portugueses no Brasil, isso porque as sociedades que aqui estavam eram ágrafas, ou seja, não possuíam uma representação escrita, mas só em 1886 um livro brasileiro, “Iracema: lenda do Ceará”, foi traduzido para outra língua (língua inglesa), 20 anos após a publicação.

A primeira edição para o inglês conta com dois exemplares; ambos dispõem de capas duras adicionadas para conservação e são pequenos, com 17cm x 11,5cm. Perteceram à coleção de Rubens Borba de Moraes (bibliotecário, bibliógrafo, bibliófilo, historiador, pesquisador brasileiro e separatista paulista) posteriormente doada a José Mindlin (repórter, advogado, empresário, escritor e bibliófilo brasileiro).

Depois de “Iracema”, grandes títulos brasileiros de autores como Machado de Assis, Paulo Coelho, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Clarice Lispector, foram traduzidos e viraram sucesso internacionais. Como é o caso de “O Alquimista”, de Paulo Coelho. Originalmente publicado em 1988, a obra é o livro brasileiro mais traduzido do mundo e segundo a Agence France-Presse (AFP), já vendeu mais de 150 milhões de cópias ao redor do mundo.

Porém, atualmente a literatura brasileira se tornou algo raro em alguns países, como relatam brasileiros que moram no exterior.

Mateus Cremasco Quesada, jundiaiense de 19 anos, atualmente mora nos Estados Unidos e estuda Relações Internacionais na Soka University of America. O estudante relata ter pouco contato com a literatura brasileira dentro da universidade e que os livros brasileiros não são desejados pelos estadunidenses.

“O livro ‘Vidas Secas’ fez parte da aula ‘Introduction to Latin American Studies’, onde aprendemos sobre a história e a política da America Latina. Estávamos falando sobre o Nordeste brasileiro, o professor passou algumas leituras e alguns vídeos e o livro ‘Vidas Secas’ acabou sendo mencionado. Os autores brasileiros não são nem um pouco cobiçados, as pessoas em geral não possuem conhecimento da literatura brasileira. Alguns professores que tive aula sabiam da existência de alguns autores e acho que eles leram alguns exemplares, mas ou eles eram sulamericanos ou tinham interesse na América do Sul/Brasil, então o público que consume os livros brasileiros é um público acadêmico bastante nichado, não existe a moda de consumir esses livros.”

Mateus anseia por uma mudança, para que grandes obras sejam reconhecidas pela geração atual.

“Eu e um amigo brasileiro recomendamos ‘Dom Casmurro’ e ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ de Machado de Assis para a biblioteca. Acreditamos ser uma adição importante pro acervo e também por que queremos que mais pessoas conheçam essas obras”, comentou.

Ele complementa com pesar: “Uma das únicas formas de continuar consumindo literatura brasileira, aqui, seria ter trazido livros do Brasil ou comprar de maneira online. Não é fácil de encontrar.”

Liz Alves, jundiaiense de 18 anos, que mora, também, nos Estados Unidos sofre do mesmo problema, dificuldade de achar livros com autoria brasileira.

“Infelizmente é difícil achar até online e quando acha é extremamente caro. Um livro ‘americano’ custa em torno de $10 a $15, já um brasileiro de $50 a $80. Eu, infelizmente, não trouxe muitos livros e me arrependo”, relatou.

Clara Gomes, paulista de 21 anos, mora nos Estados Unidos e estuda Letras na Temple University e relata como o contato com a literatura brasileira pode ser raro no Estados Unidos.

“Eu tive a rara oportunidade de ler muitas obras brasileiras e teorias literárias. Foi na faculdade, mas em uma matéria muito específica e que é oferecida raramente, depende do número de alunos interessados. O tema da aula era literatura brasileira e pude ler Machado de Assis, Jorge Amado, Carolina Maria de Jesus, Clarice Lispector, Antônio Candido e Augusto de Campos.”

Ajuda para a internacionalização

O governo lançou em 2023 um programa que incentiva a publicação de livros brasileiros no exterior. A iniciativa se dá pela Biblioteca Nacional, ligada ao Ministério da Cultura.

O Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior foi lançado pela 1ª vez em 1991 e recebe apoio financeiro do Ministério das Relações Exteriores e do Fundo Nacional de Cultura. O governo diz que a iniciativa ajudou a traduzir mais de 1.200 obras para 45 idiomas.

A ação ajudou a internacionalizar obras de autores como Machado de Assis e Clarice Lispector. As obras mais traduzidas foram “Dom Casmurro”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “A hora da estrela”. Cada uma contou com 10 traduções.

Nos anos mais recentes o destaque foi para “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior. Foram 9 traduções em 5 anos.

O Ministério da Cultura foi extinto durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a pasta foi recriada e é comandada por Margareth Menezes.

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