DITADURA

Os 60 anos do golpe civil-militar: reflexões e memórias de horrores

O regime autoritário, que perdurou por duas décadas, deixou um legado de repressão, violência e censura, o que reflete nos dias atuais

Por Marcela Franco | 01/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí

Divulgação

Manifestação do Primeiro de Maio em São Bernardo do Campo, 1980
Manifestação do Primeiro de Maio em São Bernardo do Campo, 1980

Há seis décadas, o Brasil mergulhava em um dos períodos mais sombrios de sua história: a Ditadura Civil-Militar. Este regime autoritário, que se estendeu por 21 anos, deixou marcas profundas na sociedade brasileira. Neste contexto de reflexão sobre os 60 anos do golpe, é crucial analisar não apenas os eventos históricos, mas também como suas consequências ecoam nos dias atuais.

Entrevistando especialistas no assunto, como Higor Codarin, historiador e autor do livro "O MR-8 na luta armada", surge uma debate sobre a nomenclatura utilizada. Segundo Codarin, a expressão "ditadura militar" exclui a participação civil no regime. Ele enfatiza a importância de utilizar o termo "ditadura civil-militar", destacando o envolvimento de diversos setores da sociedade na construção e manutenção do regime autoritário.

"Compreender os eventos passados é fundamental para entender as razões que moldaram o presente", opina Codarin. Além disso, ele aponta para a preocupante falta de conhecimento sobre o regime ditatorial entre parte da população, o que destaca a importância contínua do estudo e debate sobre o tema.

Outra voz presente na discussão é a de Pedro Nastri, ativista e jornalista que viveu na pele os horrores da repressão durante a ditadura. Suas experiências pessoais oferecem um olhar íntimo sobre o período sombrio da história brasileira. Desde sua prisão em 1975, devido ao ativismo estudantil, até seu envolvimento na resistência cultural nos anos 80, Nastri compartilha suas vivências marcadas pela violência e pela luta por liberdade e justiça.

"Durante o período da ditadura militar no Brasil, muitos jornalistas enfrentaram riscos e perseguições por sua atuação. Alguns deles atuavam em organizações de oposição ao regime, o que era considerado uma condição agravante. Além disso, em diversos veículos de comunicação, os próprios patrões colaboravam com o sistema repressivo", exemplificou.

As estratégias de resistência adotadas pelos ativistas durante a ditadura, como a ação armada, a mobilização estudantil e a imprensa alternativa, são destacadas como formas de enfrentamento ao regime opressor. Nastri ressalta a importância dessas iniciativas na busca por mudanças em um período desafiador da história brasileira.

"A luta contra a ditadura não foi apenas uma batalha política, mas também uma busca por dignidade e igualdade para todos os brasileiros. A experiência de ser preso, interrogado e submetido a violência física e psicológica deixa cicatrizes profundas. O trauma vivenciado por mim e outros ativistas moldou nossa resiliência e determinação em continuar lutando por justiça e liberdade", completou.

RESQUÍCIOS

Ao refletir sobre os impactos da ditadura na sociedade atual, Codarin destaca as continuidades do autoritarismo e da violência policial, bem como a transição conciliatória para a redemocratização. Ele ressalta que, embora o conhecimento do passado não seja garantia contra a repetição dos erros, estudar, debater e discutir a ditadura é essencial para evitar que tais atrocidades se repitam.

Diante das recentes manifestações de violência e desrespeito à democracia, como ocorrido em 8 de janeiro de 2023, em Brasília, Codarin enfatiza a importância de se posicionar contra o regime ditatorial e suas heranças autoritárias. Ele critica a omissão do presidente Lula em referenciar os 60 anos da ditadura, ressaltando que ignorar o passado dificulta a extirpação das mazelas autoritárias presentes na sociedade brasileira.

"A última pesquisa de opinião realizada pelo Datafolha apontou que, embora 71% dos brasileiros considerem a democracia como melhor forma de governo, 18%  brasileiros consideram que tanto faz vivermos sob uma ditadura ou uma democracia. Esse dado é sintomático. Aponta para o desconhecimento de parte significativa da população a respeito do que é uma ditadura", adicionou o historiador.

Em suma, os 60 anos do Golpe Civil-Militar no Brasil não devem ser apenas uma data histórica, mas sim um momento de profunda reflexão sobre as implicações desse período sombrio em nossa sociedade atual. O estudo e a discussão sobre a ditadura são fundamentais para promover a justiça, fortalecer a democracia e evitar que os erros do passado se repitam.

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