DIA DO CIRCO

Embora milenar, arte circense em Jundiaí é pouco valorizada

As raízes do circo remontam a civilizações antigas como o Egito, a Grécia e Roma, onde acrobacias e malabarismos já divertiam o público

Por Rafaela Silva Ferreira | 27/03/2024 | Tempo de leitura: 5 min

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Já em Jundiai, há espetáculo interativo com cenas teatrais, músicas, poesias de circo, bonecos e números diversos de malabarismo, assim como artistas circenses
Já em Jundiai, há espetáculo interativo com cenas teatrais, músicas, poesias de circo, bonecos e números diversos de malabarismo, assim como artistas circenses

Sob a lona colorida e o aroma de pipoca, o Dia do Circo celebra a magia e a alegria que essa forma de arte milenar proporciona a pessoas de todas as idades. No Brasil, a data homenageia um dos maiores ícones circenses do país: o palhaço Piolin, nascido em 27 de março de 1897.

As raízes do circo remontam a civilizações antigas como o Egito, a Grécia e Roma, onde acrobacias e malabarismos já divertiam o público. Na Europa Medieval, artistas itinerantes se apresentavam em feiras e mercados, dando origem aos primeiros espetáculos circenses modernos.

No Brasil, o circo chegou no século XIX, com a vinda de companhias europeias. O picadeiro se tornou um espaço de encantamento, reunindo famílias e amigos para celebrar a fantasia e a ousadia dos artistas. Palhaços, acrobatas, domadores, trapezistas e mágicos encantavam o público com suas habilidades e humor.

Já em Jundiaí, há espetáculo interativo com cenas teatrais, músicas, poesias de circo, bonecos e números diversos de malabarismo, assim como artistas circenses. Um exemplo é o ator, músico e palhaço, Celso Cremer Júnior, de 33 anos. "Minha vida circense começou por causa do teatro. Comecei nesta prática em meados de 2008, por hobbie. Porém, depois de dois anos, conheci a palhaçaria e me encantei. Hoje sou artista e não me imagino fazendo qualquer outra coisa diferente disso.”

Após o primeiro contato com a palhaçaria, Celso decidiu que seguiria com a arte. Ele conta que até se programou para sair do emprego em 2010. “Estudei sobre isso, participando da Primeira CIA Estável, em 2011. Mas foi em 2013, que abriram as inscrições para a escola de formação para Doutores da Alegria. Era a minha última chance de entrar, visto que o limite de idade era 23 anos. Então eu prestei o concurso, ganhei uma bolsa e estudei de 2014 a 2016 em São Paulo, me dedicando inteiramente à isso."

Nos dias de hoje, o circo enfrenta desafios como a popularização de outras formas de entretenimento e a mudança nos hábitos do público. No entanto, os artistas circenses se reinventam, buscando novas formas de apresentar sua arte e manter viva a magia do picadeiro. “De modo geral, digo que o mundo precisa de mais arte, até por questões de sobrevivência. A cultura não é um bônus na nossa vida. Ela é tão importante quanto os direitos básicos de um ser humano porque propões novas lógicas de enxergar o que estamos vivendo”, comenta. Cremer também conta que já foi agredido enquanto tocava em transporte público, justamente devido à ótica das pessoas em relação à cultura. “É uma coisa geral. Essa desvalorização da cultura vem da formação do próprio ser humano. A sociedade seria muito mais igualitária e dialética se a arte estivesse presente igual feijão com arroz na nossa vida."

Aqui na cidade, Celso conta que os artistas, inclusive os circenses, têm se unido para se promoverem juntos. "Chama-se Coletivo Cultural Independente, onde os artistas de Jundiaí ajudam uns aos outros no fortalecimento dos trabalhos. É uma forma muito legal de pensar avessas à sociedade contemporânea.”

Sobre trabalhos futuros, o palhaço, que faz parte da Cena 4 Produções, revela que estão com projetos que vão além de “ser palhaço”. “Estamos aproveitando a metodologia das máscaras de palhaço - as neutras e larvárias - para a criação de um espetáculo infantojuvenil baseado em obras do João do Rio, principalmente no conto O Homem Cabeça de Papelão. A ideia é utilizar a pedagogia das máscaras para a construção da linguagem dessa peça. A palhaçaria vai estar implícita ali, por mais que o espetáculo não seja, necessariamente, sobre palhaços.”

Rafa Viana, 38 anos, é produtor, ator e também palhaço. Ele conta como começou sua vida circense. “Desde adolescente eu me dedicava ao teatro, estudando e atuando. Mas sempre tive grande admiração pelo mundo do circo. Comecei tarde a vivência circense, e como forma de trabalho corporal e concentração, fui fazer uma oficina de vivência com Carlos Pascoalin e Ulisses Vertoan, na época, lá no ginásio Romão de Souza.”

Na sequência, Rafa foi estudar palhaçaria e se encontrou nessa arte. “Desde então me apaixonei ainda mais pelas técnicas e pelo mundo circense. Fui aprendendo e experimentando um pouco de cada técnica e quando percebi, estava imerso misturando teatro e circo”, conta.

Atualmente, Viana participa de um laboratório de trocas circenses em Jundiaí, mas comenta que sempre treina perna de pau, tecido acrobático e malabares. “Como minha principal linguagem é a palhaçaria, existe uma constância de ensaios. Seja contando uma história ou em uma apresentação clássica de circo. Também dou aula de teatro na escola BTO Ballet Teatro Oficina e acabo misturando um pouco de circo nas aulas e nos exercícios.”

Questionado sobre a desvalorização nas artes circenses, o palhaço acredita que faltam incentivos para que todos tenham acesso às técnicas dessa arte. “Outro ponto é sobre o olhar para este trabalho. A arte circense acontece em diversos lugares, no palco, no picadeiro, na rua, então acredito que falta um pouco de percepção e entendimento que este é um trabalho e deve ser valorizado.”

Rafa também destaca o trabalho de uma oficina de malabares ministrada pelos artistas Julia Rissi Pinheiro e Rafael que acontece na pracinha da cultura. “Outro destaque é o Coletivo Cultural Independente de Jundiaí, que tem proporcionado encontros com palco aberto para experimentações e trocas”, já citado por Celso Cremer anteriormente.

A artista Julia Rissi Pinheiro, 25 anos, também conversou com a reportagem do JJ sobre o Dia do Circo e a valorização circense. "Trabalho com circos, palhaços, malabares e também sou atriz. Comecei com a vida circense quando conheci o Ocupa Colaborativa e tive contato com vários profissionais incríveis que até hoje são referências para mim. Um deles foi o Cláudio Albuquerque, que me colocou de cabeça nesse mundo. Foi através dele que comecei a fazer oficinas de palhaçaria."

Como artista, Julia pontua que enxerga vários pontos que podem melhorar em Jundiaí. "Embora tenha uma movimentação artística boa, ainda sim a valorização do trabalho circense é muito pouco. Mas isso acontece porque não se tem consciência do quanto trabalhamos, estruturando um espetáculo, estudando. Mas amamos o que fazemos e queremos sempre apresentar um material bonito e de qualidade."

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