OPINIÃO

Cau, 30 anos depois

Por Gustavo Ungaro | 24/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

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Gustavo Ungaro é advogado e professor
Gustavo Ungaro é advogado e professor

Os corredores da Casa de Saúde Dr. Domingos Anastácio, a antiga Fratellanza Italiana, tradicional referência do centro da cidade, no quarteirão entre as ruas Campos Salles e Professor Luiz Rosa, atualmente o Hospital Estadual Regional de Jundiaí, há exatas três décadas completadas este mês, dramaticamente ecoavam os últimos suspiros de seu Presidente, Carlos Ungaro, que se encontrava não mais em sua sempre repleta e disputada sala de trabalho na diretoria, mas num dos quartos destinados aos pacientes, sob cuidados paliativos, com irremediável comprometimento hepático, após dez anos de exitoso transplante renal.

A consternação, o desalento, os abraços apertados, com o choro incontido a escorrer pelas faces tristes dos familiares, amigos, colegas de trabalho no hospital, no leito em que a esposa Tetê lhe segurava a mão, e as filhas Alessandra e Tatiana lhe derramavam os últimos carinhos, pela perda irreparável que se apresentava como inexorável, por mais que não se quisesse aceitar tal finitude, tão sentida e precoce, e pelos esforços que antes se fizeram para evitá-la, marcaram indelevelmente minha memória afetiva – eu cursava o segundo ano da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e tinha voltado mais cedo a Jundiaí naquele 21 de março, para ir ao hospital, temeroso por ser a prenunciada e indesejada despedida...

No velório e sepultamento, no dia seguinte, as homenagens (em forma de dezenas de coroas de flores) e a multidão presente evidenciaram o carisma daquele que, mesmo partindo tão cedo, aos 50 anos, tanto fez e muito legou à comunidade jundiaiense, não apenas por seus valorosos oito anos dedicados à gestão da Casa de Saúde, mas também por seu histórico de representação de Jundiaí nos esportes – verdadeiro poliatleta, competiu do salto ornamental em piscina ao sumô, tendo ido até ao Japão, além de ter integrado a Federação Brasileira de Vôlei e a seleção paulista dessa modalidade; na política – jovem Vereador eleito e reeleito, presidiu, construiu e inaugurou o prédio da Câmara Municipal, na esplanada de Monte Castelo, no centro; na administração pública – trabalhou em órgãos estaduais como a Sabesp e a Cecap, e noprograma federal Projeto Rondon; no voluntariado associativo – foi conselheiro e presidiu o conselho do Clube Jundiaiense, do Clube Atlético Comercial de Jundiaí e da Sociedade Jundiaiense de Socorros Mútuos; e no ensino superior – formou-se Economista no Centro Universitário Padre Anchieta e lá atuou como Professor de Estudos de Problemas Brasileiros.

Importava-se com as pessoas, ajudava, brincava, incentivava – sua casa estava em constante festividade acolhedora, sua generosidade e simpatia atraíam e imantavam, seu bom humor rompia qualquer sisudez e levava ao riso franco, seu companheirismo e lealdade agregavam e cultivavam a amizade, sua liderança era decorrência natural da admiração e carinho que ele despertava, genuinamente. Foi da segunda geração da família Ungaro em Jundiaí, pois seu pai, Raphael, nasceraem 1900 no Caxambu, após a imigração italiana do final do século XIX.

Por tudo isso, 30 anos depois, rememora-se com orgulho sua frutífera atuação, reverencia-se com muita honra sua trajetória, e pranteia-se, com aquela imensa saudade diretamente emanada do coração pulsante, a pessoa querida cujos atributos e legados merecem ser realçados e difundidos, para inspirar mais atitudes e condutas tão benfazejas como as que marcaram o inesquecível Carlos Ungaro, meu estimado tio Cau.

Gustavo Ungaro é advogado e professor, Doutor em Direito pela USP, Presidente da OAB Jundiaí e do Colégio de Presidentes da Região de Campinas da OAB/SP.

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