LGBTQIA+

'Enquanto o olho dela brilhar, vou continuar lutando', diz mãe de criança trans

História de Agatha, 9, é narrada pela mãe, a ativista Thamirys Nunes

Por Mariana Meira | 14/03/2024 | Tempo de leitura: 2 min

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Agatha usa as roupas que deseja e é livre para ser uma menina
Agatha usa as roupas que deseja e é livre para ser uma menina

Quem vê a pequena Agatha, 9 anos, feliz e saltitante vestindo shorts coloridos, sandálias cor-de-rosa e fita nos cabelos presos não tem ideia de tudo o que aconteceu antes. Agatha é uma criança trans e filha de uma mulher que carrega no peito toda a luta de ter participado, de perto, de sua transição – um processo que envolveu muito além da questão física, mas principalmente da psicológica.

Em entrevista, na última quinta-feira (14), ao Podcast PodCausar – comandado pela apresentadora Aline Bergamini nos estúdios do Grupo JJ de Comunicação -, Thamirys Nunes, que vive em Campinas, narrou a história da família, que começou quando a criança tinha pouco mais de 2 anos de idade. “Ela foi comunicando de diferentes maneiras, justamente por não se interessar de nada do universo masculino. Tudo que era do feminino causava uma grande satisfação”, disse ela. 

Por falta de informação, segundo a mãe, predominaram orientações de uma psicóloga, na época, que, hoje, são consideradas absurdas: “masculinizar” a criança, influenciá-lo a ouvir heavy metal e oferecer bonecos do Batman como forma de torná-lo um “verdadeiro menino”. As primeiras palavras mais diretas vieram aos 3 anos e 4 meses, quando a criança passou a afirmar, diretamente, que queria ser uma menina. Mesmo assim, os pais não sabiam como agir e continuaram tentando lutar contra a realidade que ali estava posta. “Eu fui cruel”, avaliou Thamirys, emocionada.

A chave virou no dia da festa de aniversário de 4 anos da criança, que se recusou a entrar no salão por descobrir, com decepção, que o tema do personagem do Mickey não incluía a companheira Minnie, sua real adoração. “Naquele momento eu disse: ‘chega’. Me questionei: qual o meu compromisso? É com a sociedade ou com essa criança?”, relembrou a mãe.

A partir dali, foram muitas leituras, buscas por orientação e, acima de tudo, apoio incondicional à criança, que, desde que teve a “bênção” para ser o que quisesse, levou 5 meses para se batizar como Agatha e, enfim, se libertar. E assim tem sido, na contramão de ainda muita transfobia, inclusive dentro das escolas.  “Eu via a felicidade brotar na vida da minha criança, cantarolando, gargalhando. Enquanto o olho dela brilhar, eu vou continuar lutando”, finalizou.

Thamirys compartilha relatos e orientações para outras famílias em seu perfil no Instagram, @minhacriancatrans, que possui mais de 117 mil seguidores, além de ser autora de dois livros (“Minha criança trans” e “A menina no espelho”), à venda na mesma página. Ela também é presidente da ONG Minha Criança Trans, a primeira organização não-governamental do Brasil a tratar exclusivamente das questões que envolvem saúde, qualidade de vida, políticas públicas e direitos de crianças e adolescentes transgêneres.

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