OPINIÃO

Nem tudo é perdido

14/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Crescem as críticas à internet e às redes sociais, que tiram as pessoas de suas atividades para um mergulho permanente nas telinhas. Ouço muitos pais - e avós - preocupados com a alienação de seus filhos e netos. As observações chegam a afirmar que a posição da coluna cervical de quem fica teclando o celular de forma contínua causará danos irreversíveis, hoje sequer suspeitos.

Se é verdade que o mundo web oferece atrativos que, a seu tempo, a televisão também oferecia, não é menos verdadeiro que se pode extrair bom proveito dessa tecnologia. É o que fazem estudiosos como o físico Alexandre Rodrigues Barbosa, de 31 anos que fez doutorado na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia e se tornou docente nela. Sua pesquisa foi sobre criação de conteúdo científico online e, nas redes, é conhecido como Afrofísico, perfil criado durante a pandemia de Covid-19 em 2021.

Hoje ele conta com 107,9 mil seguidores no TikTok e 35,9 mil no Instagram. Integra um time de estudantes, pós-graduandos e jovens docentes que incluíram em suas rotinas o hábito de gravação de vídeos de um minuto, fornecendo a quem os segue temas científicos.

Os mais conhecidos chegam a ser contratados para ministrar palestras em Universidades, pois nem todos os professores conseguem fazer com que seus discípulos extraiam real proveito dessa dependência eletrônica.

É muito importante que todos tenham em mente que a virtualização chegou para ficar. Dados de 2022 da Insider Intelligence mostram que as redes que mais cresceram na América Latina foram o Tiktok, (11,8%) e o Instagram (3,2%). No início de 2023, o Instagram dispunha de 113,5 milhões de usuários e o TikTok 82 milhões. Aquilo que teve início na pandemia, para permitir o contato entre escola-aluno e a comunicação mais rápida entre as pessoas, viralizou. Hoje os vídeos curtos, chamados "Reels", dominam o espaço cibernético.

Jovens com talento se destacam na área. Outro deles é o biólogo Carlos Stênio, 28 anos, com mestrado em ensino e história de ciências da Terra no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Um de seus vídeos teve quase seis milhões de visualizações e mais de quatro mil comentários no TikTok e nele Stênio mostra duas lagartas: uma verde e outra laranja, ambas com manchas pelo corpo, que parecem olhos. Foram elas que serviram de inspiração para o Caterpie, personagem do universo Pokèmon. Stênio mantém alta frequência de postagens para seus 232,7 mil seguidores no TikTok e 100 mil no Instagram. São sete vídeos por semana, um por dia.

A bióloga Eduarda Melo, 26 anos, tem no trabalho das redes sociais sua principal fonte de renda. Aprendeu a trabalhar com educação informal e de audiovisual em atividades de criação de vídeos durante a graduação na Universidade Federal Fluminense em Niterói. Quem quiser assistir o que ela produz, procure por "Biologueirinha", no TikTok, Instagram e shorts, que é o "Reel" do Youtube.

Os alunos de hoje, desde o ensino fundamental, precisam ser adestrados no uso desses aparelhos eletrônicos que vieram para ficar. Impossível pretender proibir o uso de celulares em salas de aula. Os próprios pais querem ter certeza de que vão encontrar seus filhos quando procurarem. O remédio é treinar professores para que se sirvam de tecnologias que ainda estão em pleno curso de intensificação e aprimoramento, com o intuito de fornecer uma educação mais apta ao enfrentamento do futuro. Um futuro web, virtual, online, para o mundo novo que já chegou, mas que muita gente ainda não percebeu.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Municipal da Mudança Climática de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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