EDUCAÇÃO

Alunas estrangeiras ensaiam recomeço a partir dos estudos

Jundiaí possui 63 estudantes que não são brasileiros, além de crianças que são de famílias refugiadas de países que vivem com crises

Por André Borges | 10/03/2024 | Tempo de leitura: 4 min

JORNAL DE JUNDIAÍ

As irmãs gêmeas Mileydys e Susej, 8 anos, vieram da Venezuela e estudam na EMEB Adelino Brandão
As irmãs gêmeas Mileydys e Susej, 8 anos, vieram da Venezuela e estudam na EMEB Adelino Brandão

Numa sociedade cada vez mais globalizada, não é surpreendente encontrar pessoas de nacionalidades diferentes, seja como vizinhas, colegas de trabalho trabalho ou até companheiros na escola.

Quem sai de um país para outro, no caso o Brasil, normalmente o faz para buscar uma vida melhor para a família ou fazer intercâmbio.

Em Jundiaí, segundo dados da prefeitura, as escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da rede municipal possuem 63 estudantes estrangeiros, que são dos seguintes países: Bolívia, Colômbia, Egito, Espanha, Estados Unidos, Japão, Líbano, Panamá, Paraguai, Peru e Síria. Há também dez crianças de famílias de refugiados, que vieram do Afeganistão, Cuba, Haiti e Venezuela.

Além disso, a Unidade de Gestão de Educação (UGE) informou que, no Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos (CMEJA), estão matriculados cerca de 25 alunos estrangeiros: um chinês, um italiano, um paraguaio e os demais haitianos.

Já no curso de Língua Portuguesa para estrangeiros viabilizado no Centro de Línguas e de Tecnologia da Informação Antônio Houaiss, no Complexo Argos, há 16 estudantes matriculados, das seguintes nacionalidades: oito haitianos, além de venezuelanos, sul-africanos, alemão, uruguaio e marroquino.

A rede municipal de ensino possui um trabalho pedagógico feito pela unidade escolar em que o aluno for matriculado, para entender a cultura e os costumes de cada membro da família, para poder, assim, facilitar o processo de adaptação. É o que explica a gestora da Unidade de Gestão de Educação, Vastí Ferrari Marques. "A convivência entre os estudantes de diferentes origens é um facilitador do desenvolvimento de habilidades importantes, vinculadas à inteligência emocional, ao fortalecimento da comunicação não violenta e à convivência pela cultura de paz", diz.

A gestora reforça que Jundiaí está se tornando uma cidade mais globalizada, justamente por essa presença de alunos estrangeiros nas salas de aula. "Por isso, o ensino de língua inglesa é fornecido nas escolas da rede já na Educação Infantil, para as crianças a partir dos quatro anos de idade, alinhado a este contexto de globalização no qual o município está inserido".

Para um estrangeiro estudar em Jundiaí, Vastí explica que ele deve morar na cidade e levar documentos. "Basta que a criança, para os alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental, ou o adulto, para os cursos do CMEJA e de Português para Estrangeiros, residam no município e apresentem comprovante de residência e documentação que valide a situação de legalidade de sua permanência no país", esclarece.

UMA NOVA VIDA

Muitas vezes, sair da terra natal pode ser um processo doloroso. Ainda assim, o novo lar pode proporcionar novas oportunidades de recomeçar.

É o caso de Mileydys del Carmen Blanco Azocar e Susej Maria Blanco Azocar, irmãs gêmeas de 8 anos que estudam na EMEB Professor Antonio Adelino Marques da Silva Brandão, na Morada das Vinhas, e moram com a avó, Miriam del Carmen Vera Lopez, de 63 anos. Venezuelanas, elas saíram do país em momentos diferentes. "As minhas netas saíram da Venezuela junto com o pai em 2021, após a morte da mãe devido às complicações da covid-19. Eu cheguei aqui no ano passado, em 2023, pois precisavam da minha ajuda", relata Miriam.

"Foi muito difícil deixar meu país para trás, eu trabalhava no setor administrativo, mas minha família precisava de mim, não poderia deixá-los na mão", completa a avó.

A família veio para o Brasil por conta da situação econômica e política na Venezuela, em busca de uma vida melhor. Inicialmente, a porta de entrada foi Campinas. Depois, o pai das gêmeas conseguiu um trabalho em Jundiaí, o que trouxe toda a família para cá.

Quanto à adaptação, as irmãs garantem que foi tranquila. Mileydys e Susej iniciaram os estudos na EMEB no ano passado e conseguem falar bem o português, enquanto a avó tem certa dificuldade em entender a nova língua. Mesmo assim, Miriam diz que a rede de apoio é grande. "Há união entre escola, família e psicólogo para que a adaptação seja a melhor possível".

No ambiente escolar, as irmãs têm boa convivência com alunos e professores, que também lhes deram muito apoio, seja com atividade, conversa, entre outras formas.

"É claro, existe uma dificuldade emocional, de adaptação, pois há muitas diferenças entre Brasil e Venezuela, mas sinto que Deus tem um propósito para mim", afirma a avó.

A fé de Miriam é tão presente que se manifesta até no nome de uma das netas. "Se você reparar, Susej é Jesus ao contrário, tem um motivo", afirma.

Os sonhos das pequenas são diferentes, mas positivos. Mileydy quer ser médica quando crescer, enquanto Susej deseja se tornar advogada.

"Meu sonho é vê-las crescer, trabalhando, se sentirem realizadas, tendo uma ótima vida para elas. Desejo ver minha família bem", conclui Miriam.

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