CINEMA

Obras nacionais ainda não possuem reconhecimento

O público das obras cinematográficas brasileiras foi de 4,05 milhões de pessoas em 2022 para 2,94 milhões em 2023

Por Letícia Malatesta | 18/02/2024 | Tempo de leitura: 4 min

IMAGEM SOURCE/ALAMY

Apesar de mais de 100 anos de história, a sétima arte nacional ainda é desvalorizada pela própria nação
Apesar de mais de 100 anos de história, a sétima arte nacional ainda é desvalorizada pela própria nação

No Brasil, o cinema teve início no final do século 19, com sua primeira exibição realizada em Petrópolis, no Rio de Janeiro. A primeira produção brasileira foi o curta "Vista da Baía de Guanabara", feita por Afonso Segreto.

Apesar de mais de 100 anos de história, a sétima arte nacional ainda é desvalorizada pela própria nação. Hugo Harris, professor universitário de jornalismo e cinema, acredita que o cinema brasileiro já surgiu dentro de um contexto de baixo investimento.

"O cinema americano começou com uma sustentação financeira muito forte, eles trouxeram pessoas da Europa, do mundo todo, para trabalharem em suas produções, mas no Brasil foi diferente, foi difícil, apenas alguns comerciantes queriam emplacar obras já prontas aqui, mas a produção cinematográfica foi muito tímida no começo", pontuou.

O público da exibição de filmes brasileiros nos cinemas caiu em 2023, em comparação com 2022, segundo dados da Agência Nacional do Cinema, a Ancine. De acordo com a plataforma, o público das obras cinematográficas brasileiras foi de 4,05 milhões de pessoas em 2022 para 2,94 milhões em 2023, uma queda de 27,4%. Enquanto isso, o painel da Ancine aponta saldo positivo para os filmes estrangeiros.

Conforme explica o professor Hugo Harris, isso acontece por conta do domínio de filmes estrangeiros em bilheterias. "No Brasil nós temos um domínio das distribuidoras, principalmente americanas, que querem fazer com que o produto chegue nos cinemas em detrimento dos filmes brasileiros e, além disso, há uma desvalorização do público brasileiro, que está doutrinado a assistir filmes estrangeiros. Então a desvalorização do cinema brasileiro acontece pela oferta de filmes estrangeiros e pelo hábito, dificultando cada vez mais para artistas brasileiros independentes, eles até fazem os filmes, mas não tem para quem exibir."

Essa luta pela valorização do cinema nacional não é apenas dos artistas independentes: alguns lugares de reprodução vem tentando conquistar espaço para cinema nacional, como é o caso do Sesc Jundiaí.

"A valorização do cinema nacional tem sido um dos objetivos na curadoria do Sesc Jundiaí e a frequência de exibição varia de acordo com a temática abordada. Em janeiro de 2024, por exemplo, realizamos exibições dos longas-metragens dirigidos por Kleber Mendonça Filho, além de um curso sobre o trabalho dele e da diretora Anna Muylaert, ministrado pelo pesquisador Carlos Gonçalves. Agora em fevereiro, vamos exibir alguns títulos selecionados na Mostra Sesc de Cinema de 2023, que é um projeto do Sesc Nacional que visa valorizar produções cinematográficas de todas as Regiões e Estados brasileiros. De modo geral, muitas vezes, toda a programação de cinema do mês é voltada para o cinema nacional", relatou Igor Pupo, animador cultural.

Igor Pupo ainda relatou que o público para filmes nacionais ainda está em formação, mas os resultados são surpreendentes. "Estamos em processo de formação desse público, então aos poucos o número de pessoas nas exibições vai aumentando, sempre a depender do filme. Temos recebido muitos jovens e adultos nas exibições de terça-feira à noite, nosso tradicional dia do cinema. Essas pessoas vêm por gostarem do filme, pela temática ou por acompanharem nossa programação do mês e confiarem na curadoria. Também recebemos muitas famílias com crianças nas exibições de domingo à tarde, nosso cinema infantil que acontece pelo menos uma vez por mês. É nosso perfil de público mais numeroso na unidade, então são exibições com mais pessoas."

Lei de Cotas

O presidente Lula sancionou a Lei 14.814/2024, que obriga a exibição de filmes nacionais em salas de cinema de todo o país até 2033. A nova norma foi publicada no Diário Oficial da União no dia 16 de janeiro deste ano.

Conhecida como Lei da Cota de Tela, ela vigorou durante 20 anos, mas deixou de ser aplicada em 2021. De lá para cá, a matéria foi discutida nas Casas Legislativas, sendo aprovada no Senado em dezembro do ano passado.

De acordo com o texto, as salas devem exibir obras brasileiras, garantindo diversidade de títulos e respeitando um número mínimo de sessões. A quantidade ainda será definida pelo Poder Executivo.

De acordo com o professor universitário, Hugo Harris, a lei é extremamente válida no contexto que vivemos. "No mundo inteiro existe esse tipo de lei e para nós é importante, porque há um domínio causado pelos filmes norte-americanos, pela questão financeira e cultural, não é apenas dinheiro. O governo federal precisa ter esse olhar para que a produção brasileira tenha a oportunidade de ser ofertada, de ser mostrada para as outras pessoas."

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