OPINIÃO

Mesa de bar

14/12/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O Bruno decidiu ir ao bar que ficava à dois quarteirões de sua casa. Sabe aqueles bares simples? Estilo mesa de aço na calçada e cerveja no copo americano? Pois é era essa a pegada do bar do senhor Manoel. Cheio como sempre, em um dia de verão, uma breja gelada era a melhor opção.

Bruno chamou seu amigo Eduardo pra lhe fazer companhia, mandou uma foto da garrafa de cerveja sobre a mesa e a legenda: "Vamos começar os trabalhos." Não demorou muito e veio a resposta: "Até queria Brunão, mas vou sair com a Carlinha hoje, deixa pra próxima."

E o Bruno que já estava sentado, no bar ficou bebendo sua garrafa e observado as mesas em volta, em como o bar tinha o poder de fazer os problemas sumirem. Por ali naquelas mesas só havia risos, todos regados a álcool, mas ainda assim risos. Mais sinceros talvez.

Não existia segundas-feiras, chefes chatos, relacionamentos fracassados ou boletos atrasados.

Todos eram felizes!

E naquela zona livre de problemas o rapaz percebeu que assim como ele havia uma moça sozinha em uma das mesas, uma morena que lhe chamou a atenção pelas tatuagens que lhe decoravam o corpo e pelo olhar que mesmo distante passava intensidade.

Foi então que o rapaz se levantou com seu copo em uma das mãos e a garrafa na outra e foi até a mesa da garota de nome desconhecido e olhar intrigante.

"Oi, desculpe atrapalhar, mas posso me sentar com você? É que percebi que está sozinha assim como eu e não acho justo ocuparmos duas mesas quando poderíamos ocupar apenas uma e dar espaço para que mais pessoas possam sentar pra beber uma cerveja gelada em um dia tão quente."

"E o que te faz pensar que eu quero me sentar contigo?"

"Bem... Eu vi que seu copo está vazio assim como sua mesa e pensei que uma conversa não será de todo ruim.

Bruno disse isso enquanto se sentava e enchia o copo da moça de nome ainda desconhecido.

E foi assim que o Bruno conheceu a Leticia.

Tem dias que tudo parece dar errado, e essa era um desses dias para ela. Um motoqueiro havia batido em seu carro, ela havia saído pra beber com a Marcinha, sua amiga e agora estava sozinha, pois a amiga saiu acompanhada com um rapaz que conheceu na fila do banheiro.

A Marcinha perguntou se ela iria ficar bem e mesmo querendo falar que não, que elas saíram pra beber juntas, ela simplesmente concordou. E lá estava sozinha sentada naquela mesa de bar sendo abordada por um chato sem noção com uma garrafa de cerveja não mão.

De início Leticia quis dizer não, mas a cara de pau do Bruno foi o que precisavam para quebrar o gelo. E em pouco mais de uma hora já estavam na quinta garrafa de cerveja.

A Leticia já sabia que o Bruno era dentista e que amava jogos de tabuleiro. E ele encantado com a farmacêutica que disse que era viciada em montar quebra-cabeças. O papo poderia durar por horas, mas o álcool começou a bater pra garota, que achou melhor não pedir a sexta garrafa.

"Acho que estou ficando bêbada Bruno, melhor pararmos por aqui."

"Nossa, mas o papo está tão bom."

"Eu também acho, mas preciso urgente de um café antes que eu comece a enrolar a língua e trocar as palavras."

"Bem, posso te ajudar com isso. Eu moro a dois quarteirões daqui e meu café cura qualquer ressaca."

"Ah, eu não sei, é meio que o nosso primeiro encontro."

"Então fazemos assim, pagamos a conta e encerramos este encontro. E o café lá em casa já será contabilizado como nosso encontro. O que acha?"

"Acho que você tem resposta pra tudo."

E tão improvável quanto sair sozinho e conhecer alguém ou sair com a amiga e começar um papo com um desconhecido é começar um date com uma cerveja e terminar com um café.

Mas quem disse que a vida é previsível. Um brinde aos acasos que temperam e colorem os momentos que realmente valem a pena.

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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