Entre as imagens, há representações da bandeira com a "Grávida de Taubaté", com o "Vira-lata Caramelo", há críticas à corrupção e à violência, reflexões acerca da fome e também apoio a políticos de diversos vieses ideológicos, como ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao atual presidente, Lula, oponentes na última eleição.

Algumas das imagens, porém, causaram desconforto em políticos. A principal delas é uma que mostra o presidente da Câmara e líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL), o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, e a Senadora Damares Alves (REP-DF) em uma lata de lixo com as cores verde, amarela e azul.

INTERPRETAÇÃO

De acordo com Marília Scarabello, não se pode afirmar que o estopim da "dança de cadeiras" na Caixa é atribuída à obra, mas um pedaço da colagem foi descontextualizado. "Não se pode afirmar que foi o trabalho que causou coisa alguma dentro da Caixa. O que é possível dizer é que um jovem, da ala da juventude do Partido Liberal de Brasília, esteve na exposição e fez um vídeo com a leitura dele sobre o que ele viu. Esse vídeo, que não corresponde ao que é o trabalho, viralizou nas redes sociais de figuras como Damares, Bia Kicis, etc. E, depois disso, teve a repercussão que teve, criando uma narrativa paralela ao contexto da exposição."

Depois da repercussão, Marília recebeu ataques pela internet. "Estou recebendo ataques ofensivos, mensagens caluniosas que difamam meu trabalho e minha conduta profissional. Vêm de pessoas que, por hora, não se identificaram como sendo de um viés político-partidário específico. Mas, como essas pessoas estão ofendidas com recortes minúsculos de imagens específicas que compõem a grande colagem que é o trabalho, imagens essas que estão sempre mostrando os mesmos personagens, já é de se presumir quais sejam as suas preferências políticas", conta ela sobre os trechos que viralizaram terem sido sobre críticas ao Centrão e ao ex-presidente Bolsonaro.

Quando questionada sobre o reflexo dos ataques à carreira, a artista diz temer mais pela perda da categoria. "Temo que o caso abra outros precedentes dentro do cenário artístico/cultural. Essa, na minha opinião, deveria ser a maior preocupação, neste caso." Após o caso, outros artistas, como a cartunista Laerte, criticaram a censura sobre a obra.

MUDANÇAS

O novo presidente da Caixa, Carlos Antônio Vieira Fernandes, foi indicado por Arthur Lira. A polêmica acelerou uma mudança que já era certa. Em setembro, havia pressão para a troca de comando da instituição. O comando foi pedido pelo Centrão. Até então, porém, não havia pretensão de mudança da liderança da estatal por ora. A reunião em que Rita Serrano foi comunicada da demissão aconteceu no dia 25 deste mês.

Em uma nota divulgada pela Caixa, o banco informa que "considerando que foi identificada na obra em questão manifestação com viés político, o que fere as diretrizes do programa, a Caixa decidiu suspender a referida exposição". O JJ tentou contato telefônico, sem sucesso, com a assessoria de imprensa da Caixa Cultural de Brasília, onde estava a colagem "Coleção Bandeira", na exposição "O Grito!".

Marília não comenta sobre as mudanças recentes na Caixa Econômica, mas convida as pessoas a conhecerem o projeto que originou a "Coleção Bandeira", disponível no Instagram, nos perfis @colecao_bandeira e @colecao_bandeira_2.