A secretária nacional de mobilização do Partido dos Trabalhadores (PT), a ativista jundiaiense Mariana Janeiro encaminhou na tarde de ontem (17), à Câmara Municipal de Jundiaí, um pedido de retratação que tem como alvo a vereadora Quézia de Lucca (PL).
Em nome do partido, Mariana solicita que a parlamentar se retrate publicamente após sua fala na terça-feira passada (10), quando, durante sessão ordinária na Casa, afirmou que “o PT tem estreitas relações com o grupo terrorista Hamas”, que trava conflito com Israel desde o último dia 7.
“Isso é mentira”, contestou a petista, em entrevista ao vivo à Rádio Difusora, ontem. “Quando você detém um cargo eletivo e faz uso desse cargo eletivo num espaço público, usando recursos públicos e tempo público, para dizer uma mentira, você comete uma calúnia. Você difama alguém ou uma instituição. Foi exatamente isso que a vereadora fez. E dentro do Código de Ética da Câmara Municipal de Jundiaí, quando você incorre a calúnia, recorre a quebra de decoro parlamentar”, completou.
No dia 10, Quézia publicou em suas redes sociais o trecho da sessão na qual proferia sua fala. Nele, ela condena as ações do Hamas, com as quais ela afirma que o PT mantém ligações, entre outros “grupos políticos”. No dia seguinte, o PT Jundiaí, por meio da Comissão Executiva Municipal da sigla, postou em seus canais oficiais uma nota de repúdio que considera a fala da vereadora “desprovida de fundamentos sólidos” e “revela uma nítida intenção de promover um jogo político sujo e desonesto”.
O texto defende que “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mencionado na declaração da Sra. Vereadora, tem desempenhado um papel significativo em fóruns internacionais, sendo atualmente o presidente do Conselho de Segurança da ONU”, e que o Brasil tem atuado “no sentido de contribuir para a paz, tanto em âmbito internacional quanto na proteção de seus cidadãos”, o que comprova que “não há fundamento nas alegações de associação com grupos terroristas, independentemente de sua origem”.
Reitera que “Jundiaí merece uma liderança que priorize o respeito, a transparência e o compromisso com o bem-estar coletivo, deixando de lado estratégias que apenas alimentam a polarização e desviam o foco dos problemas reais enfrentados por nossa cidade”, e finaliza dizendo que, além de cobrar a retratação pública da parlamentar, o partido também vai recorrer à Advocacia Geral da União (AGU), ao Ministério Público ou outros “meios legais”, “se preciso for”.
Na sessão de ontem (17), Quézia voltou a disparar críticas ao PT, que segundo ela “demorou nove dias para elaborar uma resolução”, em que “condenou os ataques mas não chamou o Hamas de terrorista”. Ela foi procurada pela reportagem, mas não retornou até o fechamento desta edição.
NOMENCLATURA
No primeiro dia de ataque em Israel, Lula se pronunciou, pelas redes sociais, se referindo ao ataque como terrorista, mas não estendeu tal adjetivo ao Hamas. Isso porque o presidente segue a linha adotada pelo governo brasileiro, que mantém diretrizes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) na designação dos grupos considerados terroristas.
Pela Carta da ONU, o Conselho de Segurança é o órgão encarregado de zelar pela paz internacional. Apesar da definição da ONU, países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália, Japão, integrantes União Europeia e outras nações classificam o Hamas como uma organização terrorista.
Já maioria dos países- -membros da ONU, incluindo países europeus como Noruega e Suíça, além de China, Rússia, nações latino-americanas, como o próprio Brasil, México, Colômbia, seguem a definição atual da ONU que não classifica o Hamas como grupo terrorista.
DISTORÇÃO DOS FATOS
Parlamentar de descendência muçulmana, Faouaz Taha (PSDB) resolveu quebrar o silêncio da sessão passada e se posicionou ontem. Apesar de ter nascido em Jundiaí, seu sangue é do Líbano, cujo sul também tem sido alvo de ataques do conflito no Oriente Médio e onde sua família reside até hoje.
Após a fala de Quézia, o vereador pediu a palavra para dizer que era preciso “respeito a todas as vítimas que morreram até agora nessa guerra, que não é uma guerra, e sim um genocídio ao povo palestino”, e que “dividir a discussão entre direita e esquerda é um absurdo nesta Casa”.
“Recortaram esses dez dias de conflito como se fosse algo novo, mas poucos aqui conhecem o que tem acontecido por lá há mais de sete décadas. Vamos estudar”, apelou. Durante a sessão, ele voltou a pedir a palavra, dessa vez vestindo um lenço palestino em volta do pescoço, pedindo desculpas por ter “se exaltado” em sua primeira fala. Segundo ele, tem sido “exaustivo”, nesses últimos dias, combater as fake news que a mídia e, por consequência, os civis, têm compartilhado a partir de visões limitadas do histórico do conflito.
“Tem sido muito cansativo contar a verdade, muito cansativo explicar, porque são coisas enviesadas sem contexto que aparecem. Eu tenho o privilégio de ser vereador e ter o microfone para me pronunciar, e não quero pregar guerra, só quero que as pessoas busquem a origem dela antes de falarem. Senão é xenofobia, é preconceito”, disse o parlamentar com exclusivamente ao Jornal de Jundiaí.
Comentários
1 Comentários
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Getulio Aparecido Venancio Junior 25/10/2023Pelo visto a vereadora Kezia tá mais preocupada em repetir mentiras que recebe no grupo de zap do que defender os interesses da cidade. Parabéns ao vereador Faouaz que, ao invés de seguir a manada pró-Israel, tentou mostrar que embora Israel esteja mirando no Hamas HOJE, os tiros e bombas sempre acabam atingindo idosos, mulheres e crianças palestias