IDEOLOGIA

Além da boneca: ‘Barbie’ reacende discussões entre direita e esquerda

Longe de ter sido feito para crianças, filme desagradou líderes conservadores por conter pautas como feminismo e elenco LGBTQIA+

Por Mariana Meira | 26/07/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí

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Boa parte do elenco do longa é LGBTQIA+, o que levantou comentários sobre não ser ‘para a família’
Boa parte do elenco do longa é LGBTQIA+, o que levantou comentários sobre não ser ‘para a família’

Engana-se quem pensa que, no duelo entre “Oppenheimer” e “Barbie”, filmes lançados simultaneamente no Brasil, na quinta-feira passada (20), ficamos com uma história sobre o desenvolvimento da bomba atômica, de um lado, e o mundo perfeito da boneca mais famosa do planeta, do outro.

Por trás do cor-de-rosa, o longa de Greta Gerwig passa muito longe de ser apenas entretenimento - e justamente por isso tem gerado debates fervorosos entre movimentos progressistas e conservadores.

A explicação está em uma Barbie que aparece totalmente fora dos padrões da “boa moça vocacionada para a maternidade”, como a boneca nasceu, na década de 1950. Interpretada por Margot Robbie, a personagem traz uma reflexão profunda sobre o papel da mulher na sociedade, sobre o patriarcado e sobre o machismo.

Spoilers à parte, também invoca, mesmo que de maneira sutil, a representatividade LGBTQIA+ - apesar de Barbie e Ken não terem orientações sexuais porque são bonecos e, portanto, não têm órgãos reprodutivos, há uma energia que vem do elenco, formado, em grande parte, por atores e atrizes homossexuais.

Kate McKinnon, que faz a Barbie Estranha, é lésbica. Hari Nef, que dá vida à Barbie Médica, é trans. Ncuti Gatwa e Scott Evans, que fazem o Ken, são gays. E isso não agradou em nada a direita brasileira e a de outros países do mundo, como os Estados Unidos.

No Brasil, a deputada estadual do PL (Partido Liberal) de Minas Gerais Alê Portela chegou a fazer uma publicação em seu Instagram explicando os motivos pelos quais o filme não deve ser visto por seus seguidores. Entre eles, afirma que a trama traz uma “inversão de valores”, que princípios éticos e morais estariam sendo “distorcidos e até mesmo ignorados”, e reclama da diversidade do elenco.

Há até uma arte circulando nas redes sociais com tópicos com motivos para conservadores não assistirem ao filme, entre eles a presença de “linguagem imprópria, atos violentos e diálogos de duplo sentido”, roteiro com “apelação progressista” e assuntos como “feminismo, crise de identidade e autoaceitação”.

Nos Estado Unidos, outro ponto foi adicionado aos itens que incomodaram os espectadores conservadores: um mapa que atribuiria à China uma zona marítima que é disputada por ela com países como Vietnã, Malásia e Filipinas. Segundo senadores republicanos, como Ted Cruz e Marsha Blackburn, a representação das Linhas das Nove Raias, como é conhecida a linha que demarca o Mar do Sul da China, significaria que há uma agenda oculta no filme pró-China.

O estúdio Warner Bros., no entanto, veio a público declarar que o mapa presente no filme é apenas um desenho infantil e que não há nenhuma declaração política por trás de “Barbie”.

JUNDIAÍ NO CINEMA

Vereador que representa uma das alas mais conservadoras da bancada jundiaiense, Madson Henrique (PL) discorda do boicote ao filme, incentivado por algumas figuras políticas, mas concorda que, ao abordar pautas ideológicas de gênero, não deve ser visto por crianças.

“A criança está em fase de formação, e nessa fase é mais complicado, porque ela ainda não tem poder de discernimento e de discussão. Se eu assistir ao filme e vir que ele é político, vou como adulto e para mim não vai fazer diferença nenhuma, mas vou orientar às famílias que não assistam”, opina.

O parlamentar acredita ainda que falta mais fiscalização por parte dos cinemas na hora de abrir as salas, que acabam recebendo crianças menores de 12 anos. Já para líderes de movimentos de esquerda, os temas ideológicos, uma de suas principais bandeiras, são o que fazem do filme uma oportunidade de discussão.

A jundiaiense Mariana Janeiro, Secretária Nacional de Mobilização do PT, entende que, de fato, o filme não foi feito para o público infantil - mas apenas porque ele não acessa os assuntos profundos que “Barbie” retrata.

“Ele usa a temática da boneca para pensar uma série de coisas, como o empoderamento feminino, o patriarcado e os choques culturais. E isso é um debate político, porque quando falamos sobre os lugares do homem e da mulher no mundo, estamos falando de política.”

Mãe de duas crianças, Mariana diz que, por enquanto, só ela assistiu ao filme. “Mas meus filhos estão convidados, inclusive para eu poder responder perguntas depois. Isso é um debate sobre sociedade”, finaliza.

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