Opinião

Satélite brasileiro bate recorde mundial

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Nenhuma agência espacial teve ou terá tantos êxitos como a NASA, especialmente porque é a que mais recursos recebe. Creio que já seja do conhecimento público que o espaço é um ambiente hostil, fiquei surpreso quando, em novembro de 2020, a NASA restabeleceu as comunicações com a Voyager-2 após um período de silêncio de rádio de oito meses, o mais longo em 30 anos, devido ao desligamento para atualização da única antena na Terra capaz de comunicar com a nave, a Deep Space Station, na Austrália.

As Voyager-1 e Voyager-2 foram lançadas em 1977 para aproveitar um alinhamento favorável dos planetas gigantes gasosos Júpiter e Saturno e dos gigantes de gelo, Urano e Netuno, para voar perto deles e coletar dados.

Outro feito extraordinário é o Telescópio Espacial Hubble, que é um satélite artificial que transporta um grande telescópio para luz visível e infravermelha. Foi lançado em 24 de abril de 1990, a bordo do ônibus espacial Discovery.

Em outra área, o de observação da Terra, a NASA desenvolveu o Geotail, juntamente com o Japão e lançado por um foguete Delta II em 24 de julho de 1992. O Geotail forneceu informações sobre como o envelope magnético que envolve a Terra, chamado de magnetosfera, responde ao material e energia vindos do Sol. Sobrevivendo muito mais tempo do que o planejado, até 28 de novembro de 2022. Era o mais longevo satélite da área de observação da Terra, durou 30 anos, 4 meses e 4 dias. Depois, vinha o brasileiro SCD-1. Iniciou-se a contagem regressiva!

O Satélite de Coleta de Dados (SCD-1) é o primeiro satélite brasileiro, projetado e construído no país por tecnologistas que foram treinados no Canadá durante a fabricação do primeiro satélite de telecomunicações, o Brasilsat A1, adquirido pela Telebrás junto da Spar Aerospace Ltd. O INPE também contratou assessoria da Agência Espacial Europeia, ESA, já que a NASA estava impedida de ajudar o Brasil.

A missão do SCD-1 era coletar dados ambientais das plataformas de coleta de dados distribuídas pelo território nacional e retransmitir para as estações terrenas do INPE, em Cuiabá e Alcântara, que enviavam ao Centro de Missão, em Cachoeira Paulista, que os fornecia aos usuários. Todos tiveram que ser desenvolvidos, especialmente o complexo software de solo. O INPE ainda investiu em uma área limpa para fabricar componentes e no Laboratório de Integração e Testes (LIT).

O SCD-1 pode parecer simples, mas envolveu desenvolvimento de muita tecnologia. Ele tinha ainda, não um, mas dois computadores de bordo, totalmente desenvolvidos no INPE, incluindo o Sistema Operacional. Aparentava ser um prisma octogonal, de 1m de diâmetro e 1,45m de altura, pesando 115 Kg e com 110 W de potência. Era estabilizado por rotação, 120 rpm no início.

Foi lançado em 9 de fevereiro de 1993, em órbita circular de 750 km de altitude e 25 graus de inclinação. No último 17 de junho, o SCD-1 ultrapassou o recorde do Geotail, tornando-se o satélite em operação mais longevo do mundo. Um marco honroso para todo o investimento feito e glorioso para a tecnologia nacional.

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano (mariosaturno@uol.com.br)

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