Opinião

Usemos a cabeça

14/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Já disse aqui a frase do grande prefeito Ibis Cruz (1973 - 1977), que implementou, por exemplo, as avenidas Nove de Julho, Imigrantes e 14 de dezembro, afirmando que a "cabeça não foi feita para separar as orelhas".

Nesse sentido, dizia ele, "dentro dela (cabeça) existem alguns órgãos que obrigam o uso da inteligência em sentido amplo" (político, técnico, profissional, estratégico, sentimental e etc), basta saber usar.

Temos observado que a exclusão, seja por qualquer motivo (gênero, orientação sexual, idade, cor da pele, religião...), não é inteligente, pois todos perdem e, por mais estranho que possa parecer, deparamo-nos com condutas diametralmente opostas à convivência pacifica entre as pessoas.

Tenho a impressão que algo de muito ruim foi disparado recentemente diante da franca exposição de atos discriminatórios, racistas, homofóbicos, machistas, de intolerância religiosa, violência desenfreada, deixando transparecer que grande número de pessoas estavam escondidas e passaram a assumir toda sua agressividade, a meu olhar, totalmente dispensável e contrários à elementar regra/indício de inteligência.

Por falar em "inteligência", muito se tem falado na "inteligência artificial", que, a princípio, desponta preocupação diante da frieza na construção da realidade, na solução de conflitos, pois dificulta avaliação e comportamento das partes, na educação; na entrega e distribuição de saúde e tudo o mais.

Conversando com uma amiga, muito simples, ela questionou o uso da inteligência artificial na entrega da justiça. Nessa linha de raciocínio, ela está coberta de razão, pois as pessoas seriam julgadas pela prática de seus atos, vez que, atualmente, são analisadas pela cor da pele.

Assim, se julgadas "mecanicamente" e de acordo com a imagem da deusa da justiça (que se apresenta vendada), o tratamento diferenciado deixaria de existir!

De mesma forma, a análise dos currículos, pois profissionais de elevado nível de competência não são absorvidos pelo mercado de trabalho, apenas em razão da cor da pele. Isso é real.

É muito triste, nos dias atuais, os atos discriminatórios, por exemplo, contra a deputada estadual paulista Thainara Faria; os envolvendo um famoso hipermercado (um em Curitiba e outro em São Paulo); os ataques daquelas moradoras em bairros nobres do Rio de Janeiro contra pessoas negras.

No que respeita ao caso daquela mulher agredindo com socos e chicote o entregador negro, não restam dúvidas de que foi ato racista e a autoridade policial afirma que está investigando se se trata de "injuria simples" ou "racial", o que é absolutamente dispensável, pois as imagens e áudio são mais que suficientes a comprovar o racismo a ser punido com pena severa e exemplar. Basta cumprir a lei sem paixões étnicas.

Não bastassem as recentes ocorrências, há algo muito preocupante no ar e não é inteligente discriminar a comunidade negra, até porque representa a maior parte da população brasileira.

Assim pensando, por exemplo, nesse mercado consumidor e detentor de direitos, discriminar não é inteligente, sem perder de vista que a qualquer momento poderão explodir e se revoltarem com consequências desastrosas!

O clima violento aqui mencionado é confirmado pelos dados estatísticos apontando, inclusive, que no primeiro trimestre deste ano as denúncias de racismo superaram todas do ano inteiro de 2022!

Conforme já exposto - a meu sentir - parte da solução está na escola que tem o dever constitucional de oferecer ensino de qualidade e com igualdade absoluta conforme estabelecem os artigos 205 e seguintes da Constituição Federal, que deve seguir as determinações da Lei n. 10.639/03, obrigando o ensino da história da África, afro-brasileira e indígena que, sendo implementada corretamente, auxiliará sobremaneira a eliminação de tantos abusos.

Mais uma vez, reporto-me, as consequências rigorosas e tratadas com pena de prisão e perda de direitos políticos contra as pessoas e especialmente autoridades que insistem em não cumprir a lei.

Como diz o grande prefeito: "A cabeça não foi feita para separar as orelhas".

Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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