EM DECLÍNIO

Faouaz cogita deixar PSDB: ‘o partido foi se desfazendo’

Aos 34 anos e em segundo mandato na Câmara de Jundiaí, vereador fala em ‘vontade de crescer’

Por Mariana Meira | 24/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí

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Para o parlamentar, desgaste em âmbitos nacional e estadual respingou em Jundiaí e é sentido ‘nas ruas’
Para o parlamentar, desgaste em âmbitos nacional e estadual respingou em Jundiaí e é sentido ‘nas ruas’

Ele nasceu em Jundiaí de uma família de comerciantes tradicionais da cidade, iniciou sua trajetória na vida pública em 2008, foi eleito em 2016 pela primeira vez vereador com 1.568 votos como o mais jovem daquela legislatura, comemorou a reeleição em 2020 com mais que o dobro dos últimos eleitores, chegou à presidência da Câmara, onde permaneceu por quatro anos, e hoje, aos apenas 34 anos de idade, é um dos principais nomes ligados ao PSDB na região. Sua história no partido, no entanto, pode ter data para acabar.

Quem confirmou a informação foi o próprio parlamentar, Faouaz Taha, que concedeu entrevista ao vivo ao “Difusora 360”, na tarde de ontem. Ele foi um dos convidados do programa transmitido pela Rádio Difusora, do Grupo JJ de Comunicação, para falar sobre sua experiência como vereador reeleito e sua perspectiva sobre o atual cenário municipal, mas, quando questionado sobre projetos futuros dentro da política, surpreendeu ao responder que estuda a possibilidade de deixar o partido.

“Estou me reorganizando fora da presidência. Com pé no chão, mas querendo galgar algo maior”, disse. Faouaz não negou que deseja se tornar prefeito do município, embora, segundo ele, sinta que deve “respeitar a vez de todo mundo”. Também não descartou que possa tentar uma terceira reeleição como vereador, buscando manter a progressão de votos e “consolidar o trabalho que está sendo feito na Câmara”. No ano passado, o parlamentar também lançou sua candidatura a deputado estadual, na qual obteve quase 50 mil votos.

O problema, porém, é mais embaixo. O que está por trás do jogo político é um recente e paulatino desgaste do PSDB em âmbitos nacional e estadual. O partido que consolidou a estabilização da moeda e o fim da hiperinflação, com duas vitórias presidenciais em primeiro turno, ambas com Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, agora luta contra um processo de definhamento que vem sendo agravado desde 2002, quando se iniciavam quatro derrotas sucessivas para o PT em disputas para a Presidência e, assim, o capital político da sigla começava a perder força. A derrocada evoluiu com líderes pegos em casos de corrupção e a ascensão à direita, em 2018, do bolsonarismo, que acabou sendo apoiado pelos tucanos nas eleições do ano passado.

No cenário estadual ocorreu o golpe mais duro, com um Rodrigo Garcia que não foi sequer ao segundo turno e um clima de festa que pirou com a forma com que o partido encerrou sua hegemonia no estado. O tucano Garcia não hesitou em declarar “apoio incondicional” a Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas - movimento contrário ao de Geraldo Alckmin, que deixou o PSDB após 33 anos de partido para fazer aliança com o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Tudo isso tem sido sentido por nós nas ruas, com as pessoas criticando o partido, e acho essa crítica muito válida. São mais de 30 anos dominando no Estado, mas ele foi se desfazendo. E essa bolha política vazou para fora, para a população”, considera Faouaz.

Obviamente, ele não sente sozinho os movimentos da sigla rachando. Na cidade de Jundiaí há uma presença e força notáveis do PSDB ao longos dos últimos anos - como é o caso do atual chefe do Executivo, Luiz Fernando Machado, reeleito com esmagadores 69,64%, e do deputado federal Miguel Haddad, que foi prefeito por três mandatos, deputado federal e líder da oposição no Congresso.

O vereador disse que vem recebendo propostas de outros partidos, mas que “ainda é cedo” para tomar decisões definitivas, por ainda ter pouco menos da metade do mandato pela frente e por considerar que a política é dinâmica. Sobre possíveis alianças entre direita e esquerda no município, por outro lado, ele foi enfático. “Não acredito que isso seja possível em nível local.”

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