Opinião

Incomum

16/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Em oito de março, o "Jundiaí Shopping" veio, através de sua Equipe de Marketing, à Associação Maria de Magdala para homenagear as integrantes com presentes e fala bonita de acolhimento. Uma das integrantes escreveu: "Foi tudo incrível. Uma reunião linda, mas o que mais nos emocionou não foi só o presente, mas sim a presença. Estarem ali de alma e coração aberto a cada uma de nós. Somos gratas por nos enxergar. Somos gratas pelas palavras e por se fazerem presente nessa data tão especial".

Dentre os comentários, os mais comuns foram sobre a "invisibilidade" delas ou os olhares de exclusão. O mundo das mulheres brasileiras continua dividido entre a Casa-grande e a Senzala. Consideradas da Senzala são todas aquelas que não conseguem o patamar financeiro que as plateias aplaudem. Deparar-se com gente de um outro mundo, despida de preconceito, como as meninas do "Jundiaí-Shopping", que se importaram com elas, fez e faz um bem imenso.

Em meio aos presentes, havia um kit para a higiene bucal. Uma das mulheres estranhou um dos itens e perguntou, a quem estava ao seu lado, o que seria. Ela explicou o que era e como fazia para passar o fio dental. A que perguntou lhe disse: "Fica para você, eu tenho só dois dentes mesmo".

O inusitado faz parte da realidade de nosso dia a dia na Magdala. As pessoas que vêm de uma outra realidade, para um convívio fraterno com elas, percebem, de imediato, o quanto carregam de luta, ternura e esperança para não desistirem.

Sábado passado, na Missa no Carmelo São José, Dom Vicente Costa, nosso Bispo Emérito, em franca atividade, convidou-nos, em sua homilia, a partir da parábola do Filho Pródigo, a um coração misericordioso como o do Pai, sendo sinal e tendo atitudes concretas em relação a perdoar e a se reconciliar. Interessante como Dom Vicente nos faz repetir algumas colocações, creio que para inserirmos em nossas entranhas as verdades de Deus. Infelizmente o perdão não é habitual em um tempo de tanta violência. Frequente é o uso da vingança. E não é apenas a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, ou entre facções, mas está desde as calçadas e os pátios das escolas.

No domingo, na Missa no Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Reitor e Pároco, em sua homilia comentou sobre os três lugares em que estivemos neste tempo de Quaresma. No primeiro domingo, no deserto, onde Jesus venceu as tentações do demônio. Depois, na Transfiguração no Monte Tabor, em que ouvimos ser Ele o Filho amado e o convite para segui-Lo. No domingo passado, a grande alegria de podermos estar com Ele, como a samaritana, no poço de Jacó, para receber a Água que mata a nossa sede para sempre. A samaritana considerou anormal um judeu falar com alguém da Samaria, assim como é singular Ele vir ao nosso encontro, pois inúmeras vezes deixamos de ser sinal de que cremos nEle. Se nos dispusermos, Ele vem, apesar de nossos pecados, conforme insistiu Padre Márcio Felipe.

De acordo com Dom Henrique Soares (1963-2020), "Deus se vinga do pecado, amando. Só o amor mata o pecado. Só o bem mata o ódio. Se eu me vingo do ódio odiando, então o ódio que estava fora de mim entra em mim também".

Que o inusitado da misericórdia, no perdão e acolhimento, se torne o comum em nosso dia a dia.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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