De volta ao Natal

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Naquela grande cidade, próspera e orgulhosa, ergue-se, num bairro elegante, região de Jardins, uma majestosa Igreja, muito bela, de duas torres bem altas. Suas torres se elevam para o céu, como duas mãos sublimes, o mais forte símbolo clemente da submissão à vontade divina.

A rica comunidade cristã do local, com suas mansões iluminadas, carros do ano, que ali frequenta a casa de Deus, entoa cantos e rezas aos céus, mais o faz, em agradecer, do que pedir os benefícios espirituais da graça celestial.

Foi nesta época de festejos natalinos, que uma luz extraordinária, como raio solar, irradiou meu limitado espírito e tocou forte no escuro refúgio da alma. Refúgio que pulsava um coração seco e dependente.

Foi anunciada naquele santo templo, na véspera do Natal, a presença de um grande pregador messiânico. Orador famoso pelo seu estilo familiar e bastante coloquial, em falar sobre o Evangelho de Cristo.

Igreja abraçava incontáveis fiéis. O templo sagrado acolhia um público respeitável e admirável. Gente de classe, com roupas elegantes e de fino trato. No místico ambiente ouvia-se uma suave música, que parecia regida pelos anjos celestiais. Um delicado clima de forte adoração santa fervilhava no templo.

O venerável pregador cristão, tão aguardado, se atrasou em alguns ansiosos minutos da hora marcada. Ao iniciar a palestra, pediu desculpas pela pequena demora.

Referiu-se, que a caminho da Igreja, quando estacionava seu carro, encontrou um casal humilde, pedindo abrigo. O casal acabara de chegar à cidade grande. O homem apoiava em seus braços, uma meiga mulher grávida. Cansados e famintos, desejavam apenas um pequeno lugar para pernoitar e aí, seguir o destino a ser cumprido.

Pensou em ajudá-los.

Assim, antes de iniciar a fala sobre o Evangelho, pediu aos presentes, por saber gente abastada e dedicada às coisas de Deus, se alguém, dentre os presentes, pudesse acolher as pobres pessoas. Por certo haveria um canto, uma edícula, um quartinho nos fundos, numa das finas residências, onde pudessem passar a noite e depois seguir seu destino.

Um insensível silêncio se fez ouvir por todo o sagrado recinto. Muitos até baixavam a cabeça e desviavam os seus olhares do pregador. Outros cerravam os olhos, simulando como se estivessem em preces.

Lá no fundo, perto da suntuosa porta de entrada da Casa de Deus, uma pobre senhora, com suas vestes humildes, timidamente, levantou uma mão.

Com a voz trêmula, dirigiu-se ao orador: meu senhor, na minha modesta casa tem apenas um quarto, onde durmo com meus dois pequenos filhos.  Penso que estendendo um cobertor como cortina, no meio do quarto, eu possa oferecer parte dele, para o casal necessitado.

O orador, então percorreu seu olhar umedecido por toda a platéia silenciosa. Uma lágrima furtiva escapou de seus olhos. Desceu do elevado púlpito e se dirigiu àquela modesta pessoa isolada num canto da Igreja. Suas mãos se encontraram com ternura. Contemplou a todos os fiéis e revelou o que tinha de dizer, naquela noite, sobre o espirito de Natal:

Abençoada senhora, você acaba de dar abrigo, em seu coração, a José, Maria e Jesus.

Guraci Alvarenga é advogado (guaraci.alvarenga@yahoo.com.br)

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