OPINIÃO

Quando Corinthians vira fé, a história é escrita na arquibancada

Por Giovanna Attili | da Neo Química Arena
| Tempo de leitura: 6 min
Giovanna Attili/GCN
Mosaico 3D realizado pela torcida corintiana na Neo Química Arena, na noite deste domingo, 14
Mosaico 3D realizado pela torcida corintiana na Neo Química Arena, na noite deste domingo, 14

14 de dezembro de 2025. Neo Química Arena, em São Paulo. Uma jornalista de Franca, mais uma vez, buscando um sonho: a classificação para a final da Copa do Brasil.

Quando se fala de Copa do Brasil para o corintiano, logo vem à mente: 2018, quando o Cruzeiro eliminou a gente, fatídico dia do golaço anulado do Pedrinho; 2022, quando perdemos o título para o Flamengo, após uma disputa de pênaltis. Logo dá para imaginar como o coração de cada corinthiano ficou quando, em 2025, a classificação para a final da Copa do Brasil seria decidida em pênaltis.

Mas, antes da história, vale contar um pouco da trajetória.

O concurso cultural

Quinta-feira, 11 de dezembro de 2025. O patrocinador master do Corinthians realizou um concurso cultural com a seguinte pergunta: "Como você explicaria o Corinthians para alguém que nunca viu futebol?". Uma pergunta tanto quanto curiosa, te passa milhões de coisas na cabeça quando essa pergunta é feita, mas, sem expectativas e ouvindo meu coração, eu escrevi.

"Cara, o Corinthians é algo que não se explica, mas se eu precisasse explicar pra alguém que nunca viu futebol, eu não diria que o Corinthians é tudo de bom, porque nem sempre é, mas eu diria que é tudo que faz valer a pena viver e lutar por algo que, às vezes, a gente nem sabe que é tão maior que a gente, sabe? O Corinthians é alegria, ao mesmo tempo que na tristeza, a gente encontra forças pra cantar mais alto. O Corinthians é apoio incondicional, o Corinthians é loucura, o Corinthians é um estilo de vida, o Corinthians é uma religião. Não é simplesmente um time, não é simplesmente 11 jogadores dentro de 4 linhas. É razão, é fé, é acreditar, é fazer acontecer, é felicidade. Talvez não seja sempre tudo de bom, claro. Mas posso garantir que o Corinthians é TUDO. Só vivendo pra entender a grandeza do que é Corinthians e, quem vive uma vez, nunca mais quer deixar de viver".

Este foi o texto que me colocou no jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil de 2025.

A viagem

Dois ingressos e uma viagem de mais de 400km pela frente; foi isso que eu descobri que me aguardava na sexta-feira, 12, às 18h. E como dizer não para algo que você ama? Como dizer não para algo que é o seu sonho? Pois bem. Às 18h do sábado, 13, minha aventura começou.

Foram 90 km de Franca para Ribeirão Preto de ônibus, onde eu chegaria e embarcaria para a viagem até São Paulo junto do meu tio, Egnaldo Moura. E assim nós fizemos. Às 10h do domingo, 14, estávamos na estrada, chegando lá por volta das 14h. Às 16h já estávamos dentro da Neo Química Arena e, às 18h, o jogo começaria.

O jogo

A festa que o Corinthians faz, sem dúvidas, é uma das mais bonitas do futebol. A torcida toda cantando junto, a queima de fogos, o mosaico subindo. Tudo isso antes da bola rolar. O placar agregado já marcava 1 a 0 para a gente, já que, no Mineirão, fizemos nossa parte. Junto com o apito inicial, começa a apreensão.

Confesso que no primeiro tempo, vi um Corinthians não tão efetivo. Não acertava passes importantes, perdia posses de bola essenciais. Já dizia o ditado: quem não faz, toma. Aos 40 minutos do primeiro tempo, o Cruzeiro abre o placar. Tudo igual no placar agregado. A apreensão ficou maior.

Intervalo de jogo. Mas, na cabeça do corinthiano, nada ainda está perdido. A soma dos placares nos leva aos pênaltis, e nós temos o Hugo. 'Mas eles têm o Cássio'; era esse pensamento que girava minha cabeça sempre que cogitava a possibilidade de penalidades máximas.

Recomeça a partida, bateria recarregada, fé maior do mundo, ainda mais com a entrada de dois jogadores que gosto bastante, que são Rodrigo Garro e Raniele. A esperança seguiu. E tomou um balde de água fria quando o Cruzeiro, num lance que teria sido impedimento, ampliou o placar após a consulta do VAR (Video Assistant Referee). 2 a 0 para eles. 2 a 1 no placar agregado. Não estávamos mais indo aos pênaltis. A minha cabeça só dizia que o Corinthians precisava fazer alguma coisa, e rápido!

Cinco minutos depois, o Corinthians tem uma chance na bola parada. Bola na área, confusão e sobra para o Matheus Bidu marcar. A famosa "lei do ex", já que o Bidu teve sua passagem pelo Cruzeiro.

O gol que diminuiu o placar e nos colocou na disputa de novo fez a torcida se inflamar. Era a esperança de que podíamos ganhar a frente novamente. E isso quase aconteceu. Se a bola não tivesse optado por beijar a trave duas vezes.

A disputa por pênaltis

O apito final do tempo regulamentar foi apavorante.

De um lado, tínhamos Hugo Souza; goleiro espetacular que salvou o Corinthians em diversas oportunidades, inclusive pegando o pênalti contra o Palmeiras, no início do ano, quando fomos campeões do Campeonato Paulista. Por outro lado, Cássio Ramos; ídolo corinthiano. O que esse cara tem de história no Corinthians poderia facilmente virar um filme. Defensor de pênaltis nato, peça primordial para a conquista do Mundial de 2012 do Corinthians. É ali, naquele momento, onde, como dizem, são divididos os homens dos meninos.

O Cruzeiro começou batendo e converteu sua primeira cobrança. A pressão para o alvinegro. Logo na primeira cobrança, batida de Yuri Alberto e Cássio defendeu. 'O destino seria tão sacana com os corinthianos? Ser eliminado pelas mãos do seu próprio ídolo?'; era o que eu pensava.

As cobranças se seguiram, sendo convertidas, e a cada passo que se chegava perto do quinto pênalti, meu coração acelerava mais, até que ele chegou, e quem veio para a bola pelo Cruzeiro? Gabriel Barbosa; renomado batedor de pênaltis, o maior causador da eliminação do Corinthians em 2022.

O coração já não batia mais no peito, batia na garganta. A todos os santos que se podia pedir naquele momento, eu pedi e implorei para que o Hugo Souza; que até então não tinha pego nenhum pênalti; fosse iluminado.

"Partiu Gabriel para a bola, bateu! HUGOOOOOOOO", a torcida foi ao delírio. O quarto maior público da Neo Química Arena, 47.520 pessoas, grande parte indo à loucura com a defesa.

Nada estava resolvido ainda. Para que o alívio fosse consumado, Gustavo Henrique, zagueiro corinthiano, precisava converter sua penalidade. Ele converteu, arrancando um respirar aliviado de cada corinthiano ali presente. Tudo igual na disputa. Os pênaltis alternados definiriam o finalista da Copa do Brasil 2025.

Naquele momento, não se dependia mais de técnica, de grito, de choro. Dependia de fé, dependia de história, dependia de estrela. E a estrela que brilhou foi a de Hugo Souza, que defendeu a sexta cobrança cruzeirense. O jogo virou. Estávamos na vantagem. Era só marcar e correr para o abraço.

A cobrança final

O momento pré batida decisiva é um momento à parte na história. Um momento em que parece que tudo acontece mais devagar, como se estivesse em câmera lenta. No campo, a classificação do Corinthians no pé de um menino de 20 anos, Breno Bidon, criado nas categorias de base do time. No telão, a concentração no rosto dele. Nas arquibancadas, torcedores apreensivos e ansiosos para soltar o grito de gol mais esperado do jogo.

Neste momento, eu já me desmanchava em lágrimas, meu coração já batia mais forte que tudo.

"Ah Deus, se for da sua vontade, a sua filha está pronta", pensava.

Momento registrado, celular filmando. Breno Bidon partiu para a bola e bateu. Forte, no canto oposto de Cássio. O estádio explodiu em alegria e comemoração. Um dos dias mais especiais da minha vida e um dia que comprovou o que escrevi no texto que me colocou na Neo Química Arena para este jogo. "Não é simplesmente um time, não é simplesmente 11 jogadores dentro de 4 linhas. É razão, é fé, é acreditar, é fazer acontecer, é felicidade. O Corinthians é TUDO".

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