'DEVASTADOR'

Cavalos morrem na região após consumirem ração contaminada

Por Pedro Dartibale | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Sampi/Franca
Reprodução/Redes Sociais
Uma das éguas de João Pedro Gimenes Malaquias que morreram por conta da ração
Uma das éguas de João Pedro Gimenes Malaquias que morreram por conta da ração

Três cavalos de alto valor, utilizados para reprodução e competições em São José da Bela Vista, a 30 km de Franca, estão entre os mais de 600 equinos mortos no Brasil em investigação, após o consumo de uma ração suspeita de contaminação. A empresa fabricante, Nutratta Nutrição Animal Ltda., é alvo de investigação do Ministério da Agricultura e Pecuária, que já contabilizou oficialmente 222 mortes em cinco estados.

O criador João Pedro Gimenes Malaquias, de 22 anos, relata que os primeiros sintomas surgiram há cerca de dois meses. “Quando soubemos das suspeitas, paramos imediatamente o uso da ração. Mesmo assim, três cavalos apresentaram os mesmos sintomas e morreram: inchaço, espuma branca na boca e falência rápida”, contou.

Entre os animais mortos, está uma égua avaliada em R$ 100 mil, que seria estreada em competições. Ela estava prenhe e não resistiu, mesmo após tratamento intensivo em uma clínica veterinária. O potro nascido dela também morreu dias depois, seguido por outro animal jovem.

“Tivemos um prejuízo de mais de R$ 200 mil, somando o valor dos cavalos, tratamento veterinário e cerca de R$ 25 mil em ração contaminada, que está guardada, sem uso e sem resposta da empresa”, afirmou o criador.

Diagnóstico e sintomas

O caso está sendo acompanhado pelo médico veterinário Danilo de Almeida Durigan, que alerta para os efeitos severos e silenciosos da contaminação. “O problema mais comum nesses casos é a falência hepática, que pode se manifestar até seis meses após a ingestão da toxina. A doença causa sintomas como apatia, emagrecimento, salivação intensa, distúrbios neurológicos e, por fim, a morte”, explicou.

Segundo Durigan, não existe um antídoto específico para o tipo de toxina detectado. “Tentamos tratamentos com fluidoterapia, soros e medicamentos, mas os resultados são limitados. Em alguns casos, o tratamento pode até agravar o estado do animal por sobrecarga hepática”, completou.

Ação do Ministério da Agricultura

De acordo com o Ministério da Agricultura, a primeira denúncia formal sobre mortes de equinos causadas por ração contaminada foi registrada em 26 de maio de 2025. A partir daí, equipes da Fiscalização Federal Agropecuária iniciaram inspeções e investigações.

As apurações revelaram irregularidades na fábrica da Nutratta, levando à suspensão cautelar da fabricação e comercialização de todos os produtos da empresa. Até agora, foram confirmadas 222 mortes nos estados de São Paulo (83), Rio de Janeiro (69), Alagoas (65), Goiás (4) e Minas Gerais (1). Outros relatos extraoficiais estão sendo apurados em regiões como o sudoeste da Bahia, Uberlândia (MG), Goiânia (GO) e Jarinu (SP).

O Ministério alerta que a formalização de denúncias deve ser feita exclusivamente pela Ouvidoria oficial do Mapa, para garantir a validade da investigação.

Criadores desamparados

No início do escândalo, a Nutratta prometeu ressarcir os criadores afetados, mas, segundo João Pedro, a empresa não deu mais retorno. “Disseram que iriam pagar os prejuízos, mas sumiram. Levaram até boleto para cartório por uma ração que está parada aqui, contaminada. E os animais continuam em risco. É uma bomba-relógio dentro do corpo deles”, lamentou.

Enquanto aguarda por respostas, João Pedro segue monitorando seus animais e reforça: “Esses cavalos não são apenas um investimento, eles fazem parte da nossa vida. Ver eles morrerem sem poder fazer nada é devastador.”

O Portal GCN/Sampi entrou em contato com representantes da empresa Nutratta Nutrição Animal Ltda., mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.

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