Cracolândia diminui e grupos menores se espalham pelo centro
De janeiro a dezembro de 2024, a aglomeração de usuários de drogas na rua dos Protestantes, atual endereço da cracolândia no centro de São Paulo, ficou menor. A média mensal, que chegou a ultrapassar mais de 500 pessoas por dia, caiu para perto de 100 no fim do ano.
Os números são calculados diariamente pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) com uso de drones. Apesar da tendência de queda do fluxo, nome dado às aglomerações de dependentes químicos em cena aberta de abuso de drogas, grupos entre 10 e 30 pessoas continuam a se espalhar por ruas do centro da capital.
Se tratam de locais no entorno da Protestantes, onde foram instaladas grades em junho do ano passado para delimitar o espaço ocupado pelos usuários de drogas. Entre os pontos com presença de grupos menores estão a esquina da avenida Rio Branco com a rua General Osório, entre as ruas Nébias e Gusmões, e na avenida Duque de Caxias na altura da rua Guaianases.
Mais recentemente, aglomerações de usuários de drogas com barracas passaram a ser vistas no túnel da rua Amaral Gurgel, embaixo da praça Roosevelt. Sem se importar com o tráfego intenso de automóveis, um grupo, que em alguns momentos chega a ter cerca de 30 pessoas, se mantém ali.
Os dependentes correm a todo momento de um lado para o outro e não é incomum motoristas frearem para evitar atropelamentos.
O perigo ali se mostrou real na manhã de sexta-feira (3). Uma mulher foi atropelada e morreu. Conforme o boletim de ocorrência, um comerciante de 83 anos dirigia um Fiat Cronos no sentido Bela Vista, quando, de acordo com ele, a vítima passou correndo e ele não conseguiu parar. O idoso realizou o teste do bafômetro, que deu negativo. Equipes do Corpo de Bombeiros, do Samu e de uma ambulância particular tentaram socorrer Maria Valdenia Vidal, 54, mas ela morreu no local.
Fixos naquele ponto, os usuários montam barracas, vendem e consomem entorpecentes. Aos sábados e domingos, com o fechamento do Minhocão para os carros, e no período da noite, o fluxo cresce. Bancas feitas com caixotes de madeira expõem produtos para vendas, como bebidas. O cheiro de urina é forte, e pode ser sentido até mesmo de dentro de veículos. Vez ou outra, carros de limpeza da prefeitura realizam a varrição e borrifam água na iminência de melhorar o odor. A Polícia Militar realiza abordagens.
Em nota, a gestão Ricardo Nunes (MDB) afirmou que os usuários se concentram na Protestantes, onde são feitas operações de limpeza duas vezes por dia. "Deslocamentos momentâneos, próximos a esses horários, são acompanhados pelas forças de segurança", informou.
Ao longo do ano passado, foram feitas 14 operações policiais com participação da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e Polícia Militar. Assim como as contagens feitas com drones, a quantidade de usuários de crack contabilizada nessas ocasiões também reduziu.
Em janeiro, os policiais contaram 1.209 pessoas na cracolândia. Após uma ligeira alta em março, os meses seguintes tiveram tendência de queda, sendo o menor número registrado na última operação do ano, em 17 de dezembro, com 655 usuários, segundo dados do governo estadual.
Ao longo do trecho embaixo do Minhocão, há uma grande presença de moradores de rua e de usuários de drogas. Isso acontece principalmente na área próxima da praça Marechal Deodoro, onde há diversas barracas no canteiro central e lateral.
Ocupado pela cracolândia ao longo do ano passado, o cruzamento entre a avenida Rio Branco com a rua General Osório registrou presença de usuários de crack no último fim de semana, segundo relatos de moradores. Os dependentes químicos também ocupavam calçadas na rua Conselheiro Nébias com a rua dos Gusmões.
Como a Folha revelou em julho, a cidade de São Paulo possui 72 cracolândias mapeadas. Elas estão espalhadas de bairros nobres a periferia em 47 bairros.
O governador em exercício Felício Ramuth (PSD), responsável pelas ações na cracolândia no âmbito estadual, negou a existência de pontos de aglomeração além da rua dos Protestantes. "Trata-se dos mesmos usuários que neste dia específico se concentraram por ali", disse sobre a aglomeração flagrada por moradores na Rio Branco no último fim de semana.
Além das operações policiais mensais na rua dos Protestantes, Ramuth atribui, entre outros fatores, a redução do fluxo à presença de câmeras de monitoramento. Segundo ele, a região central tem 4.200 equipamentos em funcionamento.
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