Nos corredores da Câmara de São José dos Campos, uma dúvida intriga a oposição ao governo do prefeito Anderson Farias (PSD): quem foram os três vereadores que traíram o grupo na eleição da Mesa Diretora e das comissões permanentes, realizada na última quarta-feira (1º)?
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Por acordo fechado em reuniões, com direito a papel assinado por todos (ao qual a reportagem teve acesso), 11 vereadores de oposição combinaram que o grupo se articularia para eleger a maioria dos representantes na Mesa Diretora e também nas comissões permanentes.
No entanto, na hora da votação, que foi feita de forma secreta, três dos vereadores votaram em candidatos do governo.
Composição.
Logo após a eleição municipal do ano passado, quando Anderson foi reeleito ao derrotar Eduardo Cury (PL) no segundo turno, 11 dos 21 vereadores eleitos para a legislatura 2025-2028 passaram a fazer encontros periódicos para organizar a oposição ao governo, que - pelos números - já nasceria como maioria na Câmara.
Pelas conversas de bastidores, o grupo de oposição teria: Amélia Naomi (PT), Anderson Senna (PL), Carlos Abranches (Cidadania), Fernando Petiti (PSDB), Juliana Fraga (PT), Lino Bispo (PL), Renato Santiago (União), Roberto Chagas (PL), Sérgio Camargo (PL), Sidney Campos (PSDB) e Thomaz Henrique (PL).
Com isso, a oposição seria maior do que a base governista, que ficaria com 10 nomes: Claudio Apolinário (PSD), Fabião Zagueiro (PSD), Gilson Campos (PRD), Marcão da Academia (PSD), Marcelo Garcia (PRD), Milton Vieira Filho (Republicanos), Rafael Pascucci (PSD), Roberto do Eleven (PSD), Rogério do Acasem (PP) e Zé Luis (PSD).
Reuniões.
Entre novembro e dezembro, o grupo de 11 vereadores da oposição fez quatro reuniões presenciais, sendo duas na região central da cidade e duas em um restaurante na Rodovia dos Tamoios.
A últimas das reuniões foi realizada no dia 31 de dezembro, um dia antes da posse e da eleição da Mesa Diretora e das comissões permanentes. Nesse encontro, feito no restaurante, os vereadores fizeram um desenho de como ficaria a Mesa Diretora e como ficariam as comissões.
Para a Mesa, a ideia era eleger quatro dos cinco integrantes - a exceção seria Eleven, da base governista, que seria reeleito para a presidência. Além disso, a oposição planejava eleger a maioria dos membros em sete das oito comissões permanentes - a exceção seria a Comissão de Cultura e Esportes.
Traição.
Do desenho planejado para a Mesa Diretora, quatro dos cinco integrantes foram eleitos por unanimidade, como esperado pela oposição: o governista Eleven para a presidência e os oposicionistas Fernando Petiti (1º vice-presidente), Juliana Fraga (2ª vice-presidente) e Renato Santiago (2º secretário), em acordo com o governo.
A traição começou a ocorrer na disputa pelo cargo de 1º secretário. Embora o grupo da oposição tivesse 11 integrantes, Lino Bispo recebeu apenas nove votos - dois a menos do que o esperado. Com isso, o governista Milton Vieira Filho foi eleito com 12 votos.
Após a votação, vereadores da oposição usaram a tribuna para reclamar da traição. "A política é algo surpreendente. Tem pessoas que não deveriam estar aqui, representando a população. Pessoas que não têm capacidade, não têm coragem de exercer seu mandato com liberdade, com transparência", disse Lino. "Infelizmente esse grupo tem pessoas que não têm caráter. Há meia hora tinham 11 votos para o vereador Lino Bispo", acrescentou. "É a terceira ou quarta vez que tomo uma facada nas costas", reclamou Roberto Chagas.
Comissões.
Após a votação da Mesa, os 11 vereadores da oposição se reuniram, mas ninguém admitiu ter traído o grupo. Na sequência, quando a sessão foi retomada, Eleven anunciou que a votação para as comissões também seria feita de forma secreta.
Para tentar descobrir aqueles que haviam traído o grupo, os vereadores da oposição combinaram de mostrar ao plenário as cédulas de votação, antes de depositá-las na urna. Mas o presidente afirmou que, caso isso ocorresse, as votações seriam anuladas e o processo reiniciado.
Amélia e Lino chegaram a exibir as cédulas algumas vezes, e Eleven anulou as votações. "Qual é o problema de um vereador mostrar o seu voto para a população de São José dos Campos, que quer saber como cada um está votando?", criticou Thomaz Henrique.
Resultado.
Na eleição para as comissões, o número de traições aumentou. Os candidatos do governo tiveram 13 votos, enquanto os da oposição ficaram com oito.
Com isso, a base governista garantiu a maioria nas cinco principais comissões permanentes: de Justiça, Redação e Direitos Humanos, de Economia, Finanças e Orçamento, de Planejamento Urbano, Obras e Transportes, de Saúde e de Ética.
Já a oposição terá maioria apenas nas comissões de Meio Ambiente, de Educação e Promoção Social e de Cultura e Esportes.
O fato de ter maioria nas principais comissões permitirá que o governo mantenha a blindagem adotada na legislatura anterior para barrar projetos da oposição.
Dúvida.
Ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato, dois vereadores da oposição disseram que o grupo ainda não conseguiu identificar quais foram os parlamentares que não cumpriram o acordo.
"O que deixa impressionado é o quanto os caras são artistas. O cara chegar, olhar no seu olho, fechar em um grupo de 11 e falar 'estou com vocês, vou votar com vocês', e na hora do voto secreto, não votar. É uma história de traição mesmo, vai dar o que falar ainda", disse um dos vereadores.
O grupo de oposição acredita que quem traiu o grupo irá se revelar apenas em fevereiro, caso vote os projetos de acordo com os interesses do governo - as proposituras, em geral, têm votação aberta. "Quando acabar o recesso e começar a votação dos projetos, vamos saber quem traiu o grupo", disse outro vereador.
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