"O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos"
Eleanor Roosevelt, primeira-dama americana
O ano de 2025 está logo ali. Chega em algumas poucas dezenas de horas - agorinha mesmo, na escala de nossas existências. Exceção feita às crianças, é tempo de reflexões, de balanços, de tomada de decisões, de firmar novos compromissos, de estabelecer renovados objetivos e de fixar metas. É apenas um referencial, diante da grandeza do Universo e de nossa minúscula insignificância – mas nem por isso, faz o momento menos importante.
Não, 2025 ainda não começou, tenho nenhuma vocação para vidente, mas posso garantir, praticamente sem chance de erro, que o ano que se aproxima será tudo, menos fácil. Ninguém precisa ser sábio, letrado, doutorado, especialmente inteligente nem muito bem informado para que chegue à mesma conclusão. Basta olhar ao redor.
Como mula empacada, a humanidade parece determinada a insistir no que não dá certo, a disseminar ódio, compartilhar mediocridade, dividir ao invés de somar.
Pessimista, eu? Quem me conhece, sabe que não. Sou antes de tudo um sonhador, alguém que acredita naquilo que muitos não viram ainda, na busca do impossível. Mas também sou realista. Os fatos, sempre eles, não permitem outra conclusão além da óbvia: teremos um ano difícil.
Sobram guerras. Entre Ucrânia e Rússia, entre Israel e o Hamas, Hezbollah e Irã. Na Síria, dividida entre grupos rivais mesmo depois de uma insurreição que depôs um ditador sanguinário. Nunca houve um punhado de gente tão rica, nem tantos bilhões de miseráveis. Centenas de milhares de pessoas fazem das ruas, dos bancos de praça, de marquises ou tendas seu lar em cidades de médio e grande porte de todo o mundo, parte delas doente, outra parte sem propósito, e um resto de vagabundos mesmo, desafiando governos e sociedade a resolver um problema que segue sem solução.
Sobram alimentos, mas muita gente passa fome. Milhares de refugiados da miséria em que vivem nos seus países de origem buscam alternativa melhor em outras nações, mas têm sido sistematicamente perseguidos, como se não fôssemos, todos, habitantes de um mesmo planeta.
Em muitas partes deste mundo, mulheres ainda são perseguidas apenas por serem mulheres, negros por serem negros, gays por serem gays. Há mais injustiça do que justiça, mais desigualdade do que igualdade.
"Olhem de novo para esse ponto. É aqui. É a nossa casa. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem já ouviu falar, todos os seres humanos que já existiram viveram suas vidas. [...] Nosso planeta é um pequeno ponto pálido na grande escuridão cósmica que nos cerca. Em nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não há nenhum indício de que a ajuda virá de algum outro lugar para nos salvar de nós mesmos", disse o cientista e escritor Carl Sagan, num antológico - e profético - discurso feito em 1994.
Humanos que somos, costumamos nos dirigir a Deus, cada qual com sua crença, em busca de luz, de clareza, de ajuda, de um milagre. Não há nada de mal nisso, desde que não terceirizemos ao Criador, ao Universo, a quem quer que seja, a responsabilidade que é nossa.
Todas as religiões e seitas, praticamente sem exceção, acreditam no poder de Deus sobre todas as coisas, mas também no livre-arbítrio. Não dá para culpar Deus pelas guerras. Nem pela miséria. Ou por um acidente aéreo. Nem por nossa inação. Só os muito inocentes, ou fanáticos, acreditam que isso foi “vontade de Deus”. No mais das vezes, o que acontece de bom, ou de ruim, é responsabilidade nossa, mesmo, ao exercer o livre-arbítrio que nos foi concedido. Não adianta reclamar, mesmo porque não resolve. Melhor agir, sem medo, sem preguiça, sem hesitação, no âmbito de nossas possibilidades.
Precisamos, urgentemente, recuperar a capacidade de sonhar - com uma vida melhor, um trabalho melhor, um país melhor, um mundo melhor. Não custa, e costuma produzir seus próprios milagres. Não que tudo vá se realizar como num passe de mágica. Mas as transformações verdadeiras, profundas, significativas, começaram invariavelmente com um sonho – e não com numa planilha de Excel cheia de parâmetros que pouco significado traz às nossas precárias existências.
Leonardo da Vinci, mestre renascentista italiano que pintou a Mona Lisa, idealizou máquinas voadoras no século XV. Acreditava que o ser humano poderia imitar o voo dos pássaros. Seus esboços estão em exibição no castelo de Amboise, no Sul da França. Demorou, mas 400 anos depois os irmãos americanos Wright e o brasileiro Santos Dumont fizeram do sonho de Da Vinci uma realidade que transformou o mundo.
Vannevar Bush, cientista e escritor americano, apresentou num artigo na revista “The Atlantic”, publicado em 1945, um conceito que batizou de Memex, (abreviação de "memory extender"). Basicamente, Bush descreveu um dispositivo que permitiria armazenar, organizar e acessar informações de maneira associativa, semelhante ao funcionamento da mente humana, antecipando o conceito de hipertexto, e que mais tarde influenciaria a criação da internet.
O pastor e líder pacifista americano Martin Luther King proferiu seu célebre discurso “I Have a Dream” (“Eu tenho um sonho”) em Washington, em agosto de 1963, quando descreveu um mundo onde as pessoas seriam julgadas pelo seu caráter, e não pela cor da pele. Um ano depois, o presidente americano Lyndon Johnson sancionaria a Lei dos Direitos Civis, que reduziu drasticamente as possibilidades de diferenciação das pessoas apenas por critérios raciais. Claro que não resolveu o problema, mas foi um avanço significativo.
Edward Jenner, médico e cientista inglês, sonhou no século XIX com um medicamento que pudesse acabar com a varíola, mal que vitimava milhões de pessoas por ano. Trabalhou duro e em 1796 testou, com sucesso, a primeira vacina da história. Dois séculos depois, em 1980, a varíola foi declarada oficialmente erradicada. Não existem mais casos no mundo. Ainda mais importante, a pesquisa de Jenner possibilitou o desenvolvimento de vacinas contra inúmeras outras doenças, avanço fundamental para o prolongamento de nossa expectativa de vida, a despeito de movimentos contemporâneos que ignoram a história e demonizam os benefícios da vacinação.
Não precisamos ser gênios como Da Vinci, Bush, Luther King, Dumont ou Jenner, nem líderes políticos como Trump, Putin, Macron ou Lula, para fazer diferença. Basta que sejamos nós mesmos, imbuídos de sonhos, alguma vontade de fazer a diferença e determinação para mudar o “nosso” pequeno mundo, aquele que impactamos com nossas ações, está ao nosso redor, faz parte de nosso cotidiano. Se cada um de nós fizer sua parte, Deus estará bem menos atarefado. E o mundo será um lugar melhor. Quem sabe, com alguma sorte, já a partir de 2025.
Feliz Ano Novo!
Corrêa Neves Jr é jornalista, diretor do portal GCN, da rádio Difusora de Franca e CEO da rede Sampi de Portais de Notícias.
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Comentários
1 Comentários
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Darsio 4 dias atrásÉ isso que nos assusta, ou seja, o hábito de terceirizarmos para Deus a solução dos problemas criados pelo próprio ser humano. Engana-se quem acha que a paz é desejo de todos, pois há governos e empresários que faturam bilhões de dólares com a venda de armamentos, mesmo cientes de que esse lucro implica no derramamento de sangue e morte de centenas de milhares de inocentes. O dinheiro desperdiçado na compra de armamentos seria suficiente para por fim a fome no mundo e resolvermos os nossos grandes problemas ambientais. E, o que falar do ódio e da violência, alimentados pela intolerância a diversidade, ou seja, as pessoas passam a ser odiadas por conta da cor da pele, da nacionalidade, da orientação sexual ou religião. E, o mais assustador é constatar que tudo isso tende a aumentar na medida em que o extremismo de direita cresce pelo mundo. Não devemos estranhar a emergência de um novo Hitler, pois os extremistas não toleram nem uns aos outros, ou será que os golpistas que fugiram do país acreditam que serão aceitos por um Trump, que se elegeu sob a bandeira de expulsar os imigrantes? Para Trump, brasileiro, mexicano, argentino, panamenho, chileno etc é tudo latino, é tudo lixo.