O osso é remodelado e substituído todos os dias. Em algumas pessoas, apenas ao redor dos ápices dos dentes anteriores e inferiores, de canino a canino, o osso vai sendo trocado por um tecido fibroso que produz ilhotas e massas de tecido mineralizado. Este tecido é parecido com o cemento que recobre as raízes, mas é muito desorganizado. A doença se chama Displasia Cemento Óssea Periapical, pois “displasia” significa um defeito na formação do tecido que fica desorganizado e afuncional.
A doença é indolor e não modifica em nada a forma ou a posição dos dentes, e nem predispõe o paciente a ter doenças gengivais. Quando chega no máximo a 1cm por ápice, ela para de crescer, e lá pelos 50 anos, e se mineraliza toda, ficando isolada do osso vizinho por uma cápsula que na radiografia aparece como uma linha escura, mas fica unida ao dente.
Quase sempre o diagnóstico é feito em radiografias e tomografias que o profissional pede antes de tratamentos ortodônticos, ortopédicos e ortocirúrgicos, na fase chamada de planejamento.
SIGNIFICADO
É uma doença muito frequente em mulheres negras, mas que pode ser diagnosticada em homens, embora na proporção de 10 casos para 1. O diagnóstico é feito geralmente quando se têm 40 anos de idade. Não é neoplasia e apesar de ser doença, ela que pode fazer parte da negritude, um termo que sinaliza os valores ligados à etnia, cultura, história, conscientização e empoderamento.
Não maligniza e nem vai atrapalhar em nada os dentes. Não se deve nunca fazer o tratamento endodôntico, pois a polpa do dente é completamente normal e, se fizer o canal, a lesão não se modifica em nada e pode contaminar a área. Mas, de vez em quando, analisamos casos com os canais tratados e foi por falta de conhecimento.
Apesar de ser comum em pessoas negras, eventualmente ocorre também em brancos, lembrando que no país, mais de 75% da população tem negros na sua composição familiar. Temos também a Displasia Cemento Óssea Florida, um pouco menos comum e que afeta os negros, e que acaba envolvendo todos os periápices e processo alveolar dos dentes inferiores, e mais raramente os superiores, com consequências mais severas.
São duas doenças que afetam a população negra de forma marcante por uma causa que não sabemos. São doenças cemento ósseas, provavelmente por algum defeito em um gene ligado à cor da pele por afetar esta população. Logo, quiçá, se identificará este gene.
O IDEAL SERIA?
Todos os brasileiros, na faixa etária dos 40 anos, deveriam se submeter a uma radiografia panorâmica e a radiografia periapical dos seus incisivos e caninos inferiores para checar se tem a doença e se conscientizar para não deixar fazer o canal radicular. Infelizmente, muitas vezes, os profissionais da saúde desconhecem a doença.
Os dentes afetados não devem ser movimentados ortodonticamente, mas podem receber placas de mordida com outras finalidades e que não movimentam estes dentes, apenas se apoiam nele. Além de não se fazer o canal, estes dentes não precisam ser extraídos e substituídos por implantes, são dentes quase que normais do ponto de vista estrutural e funcional.
Muitos casos de Displasia Cemento Óssea Periapical chegam já com tratamentos endodônticos inoportunos. Em outros casos, se tem aparelhos ortodônticos instalados e ou planejados, o que não vai oferecer nenhum benefício para o pacientes nestes dentes.
REFLEXÕES FINAIS
1. A Displasia Cemento Óssea Periapical não dói e nem maligniza, assim como tem seu crescimento autolimitado, logo não tem nenhuma razão para “tratarmos” esta doença de alguma forma direta ou indiretamente.
2. As pessoas comprometidas devem ser conscientizados de sua doença e do que ela representa: uma manifestação de um algum fator genético associado a cor da pele, as vezes presentes em seus ancestrais, sem consequências significantes pela sua presença, até onde sabemos.
3. A Displasia Cemento Óssea Periapical não é hereditária e não afeta os familiares das pessoas portadoras.
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