"Trouxe algo aqui", afirmou Roberto Franceschetti Filho a Dilomar Batista na tarde do dia 6 de agosto. O ex-presidente da Apae Bauru havia acabado de chegar a uma área de chácaras na zona rural do município na rodovia Bauru-Arealva onde o ex-funcionário da entidade costumava queimar documentos - antigos e considerados "arquivo morto" segundo ele - da instituição.
Roberto dirigia uma Spin Branca da própria Apae. Viu Dilomar e apontou para um cobertor. O funcionário da entidade não teve dúvidas: havia um corpo dentro do emaranhado de tecidos. O susto foi inevitável. A reação do outro lado, também. "Fica quieto, você não contar pra ninguém".
O detalhamento dos acontecimentos daquele dia constam dos depoimentos de Dilomar Batista ao longo das mais de duas mil páginas que reúnem os inquéritos tanto do homicídio de Claudia como dos desvios dos cofres da entidade - o segundo desdobra do primeiro.
Num primeiro momento o nome de Claudia não passou pela cabeça do funcionário da Apae e amigo de infância de Roberto Franceschetti. "Eu achei que era a mulher dele", confidenciou Dilomar à Polícia Civil sobre o corpo envolvido pelo cobertor marrom. Enganou-se, mas só depois saberia disso - ao menos segundo seus depoimentos.
Roberto havia estacionado a Spin ao lado de um dos buracos onde documentos - cujo teor ninguém jamais saberá - eram incinerados. O então presidente da Apae não pediu ajuda: retirou sozinho o corpo de Claudia Lobo do carro, de acordo com Dilomar, e o jogou no buraco que pouco depois incendiaria.
Franceschetti assumiu as chaves da Montana e deu ordens naquele momento para que Dilomar, segundo depoimento do ex-funcionário, "desse um fim" na Spin. Mas não antes que ele voltasse - e dirigindo um carro "tipo [VW] Up Branco. "Nunca vi ele com esse carro", afirmou à Polícia.
Dilomar aproveitou o intervalo de tempo para ocultar vestígios do assassinato - como a Polícia trata o caso - do corpo que nem imaginaria ser de Claudia. "Eu limpei o banco que estava com sangue e também os vidros", descreveu.
Roberto voltaria "de tardezinha". Os dois saíram em carros distintos; ele à frente e o funcionário, dirigindo a Spin, atrás. Dilomar ainda parou em um posto de combustível para abastecer antes de seguir para a Vila Dutra. Parou em uma rua e dali, onde "eu nem conhecia" como sustentou em depoimento, seguiu andando para a avenida Elias Miguel Maluf - descrita por Dilomar como "a avenida que tem caixa d'água".
Nesta via se encontrou com Franceschetti, que o deixou na avenida Nuno de Assis. A Montana, cujas chaves já estavam em suas mãos, estava estacionada numa rua perpendicular. Dilomar então se dirigiu à Apae. Era noite - apenas o segurança estava no local. Eu deixei a Montana no barracão, peguei minha moto e fui embora", contou à Polícia.
Segundo Dilomar, a percepção de que o corpo que ajudou a desovar era de Claudia Lobo veio no dia seguinte, quando "eu já comecei a ver as noticias de que era a Claudia que tinha desaparecido e eu já me liguei". Naquela semana ele ainda voltaria para o local para se certificar de que não havia mais nenhum vestígio.
Dali até ao menos os de seus depoimentos ele confessa nunca mais ter dormido. Se diz apavorado e que teme pela segurança sua e de sua família.
O ex-funcionário da Apae só detalhou o caso num segundo depoimento que deu à Polícia. No primeiro, afinal, negou ter se encontrado com Roberto naquele dia e afirmou que ali, "naquele local, seria muito difícil queimar um corpo de uma pessoa, uma vez que o local é constantemente frequentado por pessoas que utilizam os campos para jogar bola".
Ainda segundo sua primeira versão - dada em 15 de agosto, um dia após a prisão de Roberto -, "essa vala onde descartamos documentos" está ao lado da casa de um conhecido, "que certamente perceberia o cheiro".
Pouco depois, no dia 19, Franceschetti foi ouvido na investigação e, entre outras coisas, preferiu não responder se "eu encontrei ou não o funcionário da Apae de nome Dilomar Batista". O depoimento começou às 15h05.
No mesmo dia, às 17h, Dilomar seria novamente interrogado e contaria o que aconteceu, acusando Roberto - contra quem o Ministério Público (MP) move uma ação penal pelo homicídio de Claudia Lobo. "Sei que ele é poderoso e só não contei antes por medo dele fazer algo comigo e com minha família", ponderaria Dilomar ao dizer também que tem medo de represálias.
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