O simpático atleta José Antônio Teixeira Leite, o popular Preté, está em plena forma aos 75 anos. Dono de um fôlego invejável, esse piracicabano faz das corridas de rua o seu estilo de vida. Treina e disputa provas de pedestrianismo há quase 40 anos, sempre com a mesma disposição e empenho. São 35 corridas, em média, por ano. No próximo dia 31 de dezembro, ele completará 1.400 provas no currículo durante a icônica Corrida Internacional de São Silvestre. Parar? Talvez somente em 2029, quando planeja cruzar 1.500 vezes a linha de chegada.
Casado desde 1968 com Tânia Regina Ravelli Leite e com dois filhos (Fábio Teixeira Leite e Flávio Teixeira Leite), Preté tem muitas histórias para contar em sua longa trajetória pelas ruas e avenidas de Piracicaba e demais localidades por onde passou. O atleta começou a correr no longínquo ano de 1986, quando estreou na corrida Corta Mato, na Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), em Piracicaba. Na São Silvestre, em São Paulo, ele participa desde 1989 de forma ininterrupta (só não correu em 2020 por que não houve edição devido à pandemia da covid-19).
Na Corrida Internacional de São Silvestre, o corredor piracicabano não estará só: ele pretende levar pelo menos mais 40 atletas, que fazem parte de seu grupo de corrida. Para isso, já reservou com a Selam (Secretaria de Esportes, Lazer e Atividades Motoras) um ônibus para a delegação de corredores que irá representar a Noiva da Colina no evento que fecha o calendário esportivo do Brasil.
Com tanto carisma e força de vontade, o veterano corredor vem utilizando em suas divulgações na imprensa e nas redes sociais a alcunha de “o corredor de rua determinado!”. Não é para menos! Até o início deste ano, Preté havia catalogado 546 pódios. Em quilômetros percorridos, eram quase 62.000 kms, sendo mais de 42.000 kms em treinos e quase 20.000 kms em corridas realizadas.
Mas o grande episódio que marcou sua vida e está vivo em sua retina até os dias atuais não foi a conquista de troféus ou medalhas. Foi mais que isso... Durante um treino que fazia na cidade, ele salvou um menino – na época com idade entre 8 e 10 anos - que estava se afogando nas águas do Rio Piracicaba. Esse fato aconteceu há uma década. “Eu saí para treinar em dia de chuva forte... vi um garoto se afogando no Rio Piracicaba. Pulei no rio, agarrei por trás dele, na gola da camiseta e o tirei dali”. Veja, abaixo, a entrevista na íntegra concedida à coluna Persona do Jornal de Piracicaba.
Quando o senhor começou a correr? Eu assistia a São Silvestre e via amigos que iam correr na região e na maratona do Rio de Janeiro. Assim, comecei a correr dia 2 de fevereiro de 1986, na corrida Corta Mato. De lá para cá, eu só dei continuidade.
Começar a correr teve influência de alguém? Sim. Dos atletas piracicabanos Jonas Quintino, Bule, Laudir, Rissi, Catalini e Adelino.
Qual o sentimento de ser um exemplo para muitas pessoas, pois o senhor, aos 75 anos, está na ativa e ainda com muitas corridas pela frente... Fico grato pelas pessoas valorizarem este meu empenho e dedicação.
E qual o segredo para chegar à sua idade na ativa, assim tão bem? Para tudo é sua mente. É sua mente que vai determinar para você comer, trabalhar e praticar esporte. Então, isso vai de cada atleta. Eu quando chego em um lugar gosto de ficar quietinho, concentrado. Porque eu sei que vou correr 10 km, 15 km; vou fazer cinco tiros de mil, 12 de quatrocentos... Então você tem de estar preparado mentalmente. Por exemplo: para fazer uma prova de 100 km em 12 horas, como a de Cubatão, por exemplo, não fácil; é ‘casca grossa’, tem de passar por várias etapas no percurso... É a sua mente que comanda.
Como está o planejamento para a prova de número 1.400, na São Silvestre? Sempre começo treinar todo ano a partir de outubro. É o que estou fazendo atualmente, treinando bastante e com muita força de vontade para chegar bem na Corrida de São Silvestre.
Até a corrida que fecha o calendário esportivo no Brasil, o senhor fará ainda outras cinco provas, correto? Para a 99ª São Silvestre, estão faltando 5 corridas para completar 1.400 corridas. São, no total, 546 pódios deste 02 de fevereiro de 1986, com muita determinação e objetivos alcançados. As provas que faltam são as seguintes: Corrida do Alvinegro (10 de novembro); 6º Circuito Professor Miguel Salles (23 de novembro, em Rio das Pedras); 8ª Volta USP-Luiz de Queiroz (1º de dezembro); e Meia-maratona de Piracicaba (8 de dezembro), fechando com a SS, no dia 31 de dezembro.
O senhor corre a São Silvestre há mais de três décadas. Conte-nos como essa prova é especial... Corro a São Silvestre desde 1989. Todas foram importantes, mas a melhor foi no ano de 2000, com o tempo de 1h00min35seg. Foi a 76ª São Silvestre e com ótima forma física.
Quantas corridas o senhor já fez e quais as que mais marcaram? De 2 de fevereiro de 1986 a 10 de novembro de 2024, eu fiz 1.396 corridas. As mais importantes foram: 1º Corrida Corta Mato (02/02/1986); 1ª Ultra 50k, na cidade do Rio Grande; Brasil Ride 70k, em Botucatu; 1ª São Silvestre de 1989; 1000k em 100 dias Piracicaba; 80k na V. Cruzeiro do Sul Piracicaba; e a 148k Ultra 24k Marinha Rio Janeiro.
Pretende seguir na ativa até quando? O senhor em um plano na cabeça sobre isso? Eu fiz o Projeto Correr & Viver Com Saúde, com início em 2 de outubro de 2023 até 31 de dezembro de 2029, quando terminará com a corrida 1.500 na 104ª São Silvestre de 2029. Já foram realizadas 77 corridas.
Queria que o senhor falasse dos benefícios que sente ao praticar o pedestrianismo há quase 40 anos... A corrida proporciona o bem-estar saudável para as pessoas, que sentem mais dispostas para as batalhas do dia a dia.
O senhor disse corre desde 1986. Tem todas as suas corridas catalogadas? Eu tenho todas registradas em casa, com data, nome da corrida, quilometragem... Antes era uma coisa mais simples, mas tinha o registro. Eu registro tudo.
A corrida é um esporte individual, mas também há muita interação nas provas, ajuda, incentivo... É verdade. Vou contar uma coisa que aconteceu com um amigo meu, mas não vou falar o nome. Durante uma matatona em Curitiba, ele começou a passar mal, eu parei de correr para ajudá-lo e só depois voltei a fazer a prova. Devemos ter esse lado humano também.
O que o senhor falaria para as pessoas que estão sentadas no sofá, desanimadas para praticar esporte? Olha, todas as vezes que eu estou correndo aqui na avenida Cruzeiro do Sul, durante treino, sempre vejo algumas pessoas caminhando e faço questão de dizer: ‘Meus parabéns!”. Por que isso? Porque você vai ter uma mente melhor e um organismo melhor para tudo, como em recuperação de cirurgia, por exemplo. Quando a gente faz esporte, tem as artérias diferentes, o coração diferente. Então, todas as pessoas que tiver em mente ter uma vida melhor, não precisa nem correr. Basta andar de bicicleta, fazer uma hidroginástica, musculação e caminhada. É isso não tem segredo. É só a pessoa ter consciência.
Durante um treino, o senhor até se tornou um herói piracicabano, não é mesmo? Como foi isso? Foi no dia 8 de agosto de 2014. Eu saí às 17h, para treinar, em dia de chuva forte, e chegando na avenida Cruzeiro do Sul, ao lado do bar dos Navegantes, vi um garoto se afogando no Rio Piracicaba. Abandonei o treino e esperei ele subir novamente. Pulei no rio, agarrei por trás dele, na gola da camiseta, e o tirei dali. Aí, ele começou a vomitar uma água preta. Fiquei e sou grato a Deus por essa passagem em minha vida.
Depois disso, o senhor teve algum contato com ele ou não mais o encontrou? Infelizmente, nunca mais encontrei com ele e seria um prazer revê-lo.
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