A prova do primeiro dia do Enem 2024 teve questões com música dos Racionais e de Adoniran Barbosa, além de abordar o filme "A Culpa é das Estrelas" e a série "Game of Thrones". Neste domingo (3), os candidatos fizeram as provas de linguagens e ciências humanas, com 90 questões, e a redação.
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O tema da redação foi "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil". Segundo professores de cursinho que efetuaram a prova, todo o exame foi permeado pela temática racial e étnica.
Uma das questões, por exemplo, tratou dos influenciadores negros, abordando a música "Capítulo 4, versículo 3", dos Racionais.
"Assim como no ano passado o grande tema abordado pela prova foi o papel da mulher, neste ano o exame foi permeada pela questão racial. Várias perguntas abordaram o abolicionismo, os povos quilombolas, o racismo", disse Guilherme Freitas, professor de história da Escola SEB Lafaiete.
Uma das perguntas tratou do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam) nos Estados Unidos.
Luiz Otávio Ciurcio Neto, coordenador do Poliedro, disse que a prova acertadamente apresentou referências à cultura pop, o que provoca identificação com o candidato, mas sem deixar de lado textos e referências históricas importantes.
"A cultura pop surgiu em textos presentes tanto nas questões de linguagem como em humanidades, assim como textos literários de autores dos séculos 19 e 20. A prova ainda incluiu questões sobre movimentos sociais contemporâneos, como o Black Lives Matter, e uma análise de um trecho da Constituição de 1988 sobre cidadania", afirmou ele.
Uma pergunta tratou do "soft power" brasileiro com o uso das novelas. "A questão falava da influência da novela 'Escrava Isaura' na Rússia e de 'Roque Santeiro' em Angola. Uma pergunta muito bem elaborada e interessante."
Camila Feitosa, professora de história do Elite Rede de Ensino, considerou que a prova teve um caráter interpretativo e com assuntos recorrentes de anos anteriores. "Questões como patrimônio, valorização de direitos humanos, Constituições e o progressivo crescimento dos direitos no Brasil, Vargas e Primeira República estiveram presentes."
Pedro Rennó, professor de história, elogiou a estrutura da prova por articular episódios históricos com situações contemporâneas, além de tratar das questões de forma interdisciplinar.
"Em uma pergunta, o exame consegue pegar tanto história quanto sociologia, porque trabalha a Constituição de 88, mas fala de história dos remanescentes dos quilombos, então aí você já pode também ter a questão do vidas negras importam, que aconteceu no começo da pandemia, nos Estados Unidos. E isso tem reflexão no mundo inteiro."
Lígia Albuquerque, professora de filosofia e sociologia do Elite Rede de Ensino, destacou uma das questões que abordou o rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais. "A pergunta fazia uma reflexão sobre outras perdas provocadas pelo acidente, além das materiais."
Segundo os professores, as mudanças climáticas e os problemas ambientais também estiveram fortemente presentes na prova. Em geografia, por exemplo, uma das perguntas tratou de alagamentos. Outra abordava a responsabilidade e o papel que o Brasil pode ter para conter a destruição ambiental dentro do contexto da COP que será realizada no Pará no próximo ano.
Redação: valorização da herança africana
Professores elogiaram a escolha do tema da redação do Enem por ser um assunto de extrema relevância social.
"Com certeza o aluno vai pensar em aspectos relacionados ao racismo porque esse é um grande problema que a gente vive na sociedade brasileira e um desafio que impede a valorização da cultura africana e dessa herança", disse Isabela Canella, professora de redação da Escola SEB Lafaiete.
Roberta Panza, professora de redação do Descomplica, afirmou que o tema proposto na redação não falava apenas sobre racismo, mas avançava na reflexão pedindo que o candidato abordasse a dificuldade que a sociedade enfrenta de valorizar a herança africana no Brasil.
"É pensar o quanto temos uma memória ancestral que segue sendo invisibilizada e desvalorizada tanto pelo corpo social quanto pela educação, que muitas vezes ignora a importância do ensino de literatura e cultura. Ou, também, que coloca essa valorização em momentos específicos do ano, como em novembro, mês da Consciência Negra."
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